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Diário de Oaxaca: Relato singular e agridoce

Ultimamente, o México tem aparecido nas notícias pelas piores razões, sejam acontecimentos de uma violência inusitada relacionados com o tráfico de droga, seja pelo tristemente célebre muro que os EUA têm vindo a construir ao longo da fronteira comum.
15 Setembro 2017, 11h40

Contudo, este enorme país – quase dois milhões de metros quadrados, ou seja, vinte vezes o tamanho de Portugal, e 127 milhões de habitantes, dos quais 21 milhões na área urbana da capital, Cidade do México –, merece ser referido por muitas outras razões. E que não se limitam às famosas praias no Pacífico, golfo do México ou mar do Caribe.

Os amantes de História deslumbram-se com as ruínas de civilizações antigas, como Teotihuacán e a cidade Maia de Chichén Itzá; as paisagens incluem montanhas, desertos e selvas; e, na Cidade do México, metrópole diversa e cosmopolita, os dias resultam intensos, entre passeios, museus (do Museu Nacional de Antropologia, um dos mais importantes da América Latina, à Casa Azul, a casa-museu de Frida Khalo), lojas e restaurantes.

Em “Diário de Oaxaca”, editado pela Relógio d’Água e com tradução de Clara Pinto Correia, Oliver Sacks conta-nos a viagem de dez dias que realizou com alguns colegas da American Fern Society à província mexicana de Oaxaca, no início de 2000. O objetivo, como indica o nome da sociedade americana, era a observação de fetos, mas a viagem será preenchida com muito mais, e Sacks aproveita – no seguimento de uma visita a uma fábrica de cacau – para contar a viagem do chocolate da América para a Europa e as casas de chocolate de Amesterdão e Londres, interrogando-se, como bom neurocientista, porque é o chocolate desejado de forma tão intensa a nível universal. No livro, Sacks junta, com o seu olhar atento ao pormenor, a sua paixão pela história natural à riqueza da cultura humana.

Este livro, que o autor dedica à American Fern Society e aos “caçadores de plantas, observadores de pássaros, mergulhadores, olhadores de estrelas, escrutinadores de rochas, descobridores de fósseis, naturalistas amadores em todo o mundo”, é uma evocação de um lugar, das suas plantas, do seu povo e de todas as suas maravilhas.

Espécie de naturalista amador, que na juventude se deliciava com as narrativas novecentistas de Humboldt, Bates, Russell Wallace ou Spruce, Oliver Sacks nasceu em Londres em 1933 e destacou-se como neurologista e divulgador de ciência, tendo publicado diversos livros em que tornou mais acessível aos leigos o intrincado e fascinante mundo do cérebro – recorde-se a obra “A Ilha Sem Cor” sobre uma sociedade onde o daltonismo é congénito. Tendo feito a sua carreira nos EUA, morreu em 2015.

A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante

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