A primeira vez que o nome de Diogo Lacerda Machado surgiu nas páginas dos jornais foi quando se soube que, em nome do primeiro-ministro António Costa e pro bono (soube-se um pouco mais tarde), dirigia conversações sobre um tema de assumida importância. A circunstância de ser uma participação pro bono alertava para a eventualidade de haver uma qualquer incompatibilidade, como costumam dizer os analistas.
Mas, neste caso, havia uma circunstância especial: Diogo Lacerda Machado é padrinho de casamento de António Costa – circunstância que, pelo menos do ponto de vista moral, o coloca na condição de ser um auxiliar desinteressado do apadrinhado. Em circunstâncias normais, este auxílio verifica-se ao nível das crises matrimoniais e na guarda dos filhos quando o apadrinhado quer ir ao cinema com a mulher, desde que seja a legítima, mas a TAP pode configurar numa espécie de anexo: afinal, há uma clara crise de relacionamento entre a companhia aérea e a esmagadora maioria dos portugueses.
Para além da TAP, Diogo Lacerda Machado foi encontrado nos bastidores de outros dossiês sensíveis – onde, em princípio, o primeiro-ministro tinha todo o interesse em enviar uma espécie de ministro plenipotenciário. O facto de ser também um supra-ministro inquietou a oposições (e com certeza alguns membros do governo, principalmente os desautorizados), mas a coisa passou. À TAP, o padrinho juntou trabalho no dossiê dos lesados do BES e no da mediação das divergências entre os principais acionistas do BPI.
Segundo as crónicas, a relação com o primeiro-ministro começou em 1981, nos tempos da universidade e continuou, já depois do casamento de Costa, com a sua ascensão a secretário de Estado quando o seu apadrinhado passou a ser ministro da Justiça de António Guterres.
Como seria de esperar, a condição mais ou menos ad hoc que assumiu quando o apadrinhado subiu de posto, acabou por trazer-lhe alguns dissabores, de que frequentemente se foi queixando em diversos fóruns e umas tantas entrevistas. A coisa chegou a tal ponto, que António Costa acabou mesmo por contratar Lacerda Machado, por dois mil euros brutos mensais (mais o IVA) por serviços de “assessoria no âmbito de processos negociais, incluindo mediação e conciliação”. Estava-se em abril de 2016 e ainda tudo parecia possível.
Nascido em maio de 1961, Diogo Lacerda Machado licenciou-se pela Faculdade de Direito em 1986 e, ao contrário de António Costa, preferiu sempre manter-se escudado sob anonimato ao invés de singrar na alta roda que acabaria por absorver o amigo Costa. Mas nunca deixou de andar por perto. Com as consequências que agora se conhecem.
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