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Diogo Lacerda Machado: “TAP vai voltar à casa da partida”

“Parece que fomos devolvidos a 1945 e que a seguir, pelo menos durante alguns anos, só vai voltar a haver serviço público de transporte aéreo”, prevê o administrador não executivo da companhia aérea nacional.
19 Setembro 2020, 17h00

O administrador não executivo da TAP, Diogo Lacerda Machado, escolha pessoal do primeiro-ministro António Costa para liderar o processo negocial de reversão da privatização da empresa em 2015, considera que a companhia aérea nacional “vai voltar à casa da partida”.

Num artigo publicado no último número da revista ‘Prémio’, referente ao terceiro trimestre deste ano e da responsabilidade da agência de comunicação Cunha Vaz & Associados, Diogo Lacerda Machado escreve um longo artigo sobre a TAP Air Portugal, intitulado “Recomeçar aos 75 anos”, em que defende que “a TAP vai voltar à casa da partida, mas certamente voltar ao jogo que é o seu futuro”, deixando antever um emagrecimento da empresa em termos de pessoal e de frota para fazer face à crise em que se encontra.

Assumindo-se como simplesmente como “entusiasta da aviação”, o administrador não executivo da TAP assinala que, em função da pandemia de Covid-19 em curso, “até ver, o pujantíssimo mercado da aviação comercial, que se desenvolveu a um ritmo e escala impressionantes a partir de 1978, foi mortalmente contaminado”.

“Parece que fomos devolvidos a 1945 e que a seguir, pelo menos durante alguns anos, só vai voltar a haver serviço público de transporte aéreo”, prevê Diogo Lacerda Machado.

No entender do administrador não executivo da TAP, “subitamente, nos primeiros dias de março de 2020, a nossa vida coletiva foi arrastada para um inóspito túnel escuro, onde ficámos inicialmente sequestrados pelo medo, e a que só agora começamos a vislumbrar uma pequena luz, que ainda não nos deixa perceber o tempo e o modo de vida, talvez algo diferentes, que nos esperam adiante”.

Referenciando, em termos históricos, o papel do General Humberto Delgado, fundador da TAP, e, mais recentemente, do gestor Fernando Pinto, para a vida da companhia aérea nacional, Diogo Lacerda Machado sublinha que “o trecho temporal entre 2016 e fevereiro de 2020 foi um tempo verdadeiramente diferente para a TAP, de concentração e dedicação de todos à execução do Plano Estratégico e do projeto de transformação operacional, num ambiente de quatro anos de paz laboral, inédito desde 1975, juntam do o Estado a Atlantic Gateway, os setecentos trabalhadores da companhia que se tornaram seus acionistas e todo o universo de colaboradores do grupo TAP”.

Sem nunca referir o nome de Antonoaldo Neves, o CEO da TAP no período em análise, que renunciou ao cargo na passada quinta-feira, dia 17 de setembro, Diogo Lacerda Machado salienta que, “para além de ter aumentado de 11 milhões para 17 milhões o número anual de passageiros transportados, de ter crescido a receita de 2,1 mil milhões de euro para mais de 3,3 mil milhões de euros, de passar o resultado de exploração (EBITDA) de 115 milhões para 500 milhões, de ter reduzido o rácio de alavancagem financeira da empresa de 11x para 6x, de ter aumentado substancialmente o seu contributo para o PIB [Produto Interno Bruto] nacional e para a balança de pagamentos, já que cerca de 70% das suas receitas são obtidas fora de Portugal, ou de ter criado mais de dois mil novos postos de emprego direto, muito qualificado e bem pago, a TAP libertou o Estado português de responsabilidades por garantias prestadas em financiamentos em mais de 600 milhões [de euros] ao reembolsar os vultusosos empréstimos da banca nacional que a sustentaram entre 1998 e 2015”.

“Mas, bem mais que a avaliação que seja feita pelos que protagonizaram o notável tempo de mudança entre 2015 e fevereiro de 2020 e que conduziram a TAP a alcançar no segundo semestre de 2019 uma trajetória de desempenho sustentadamente lucrativa, projetando-a para lá do Cabo da Boa Esperança, os juízos decisivos sobre o trabalho conjunto feito nos últimos quatro anos foram os êxitos absolutos conseguidos no regresso da TAP aos mercados financeiros, depois de quase cinquenta anos de ausência, sem garantias públicas, apenas com o seu próprio balanço e o seu ‘business case’, primeiro no mercado de capitais nacional, em junho de 2019, conquistando seis mil novos investidores para a companhia, e depois no exigentíssimo mercado internacional de dívida, em novembro de 2019”, assinala o administrador não executivo da TAP.

Por isso, Diogo Lacerda Machado revela que, “(…) o reconhecimento mais importante sobre o que foi feito, foi o interesse efetivo e muito sério que outras grandes companhias aéreas manifestaram em juntar-se à TAP e partilhar o futuro desta”.

O administrador não executivo da TAP elogia ainda o modelo institucional definido para a TAP após a reversão da privatização, que, na sua opinião, “ficou a garantir equilibradamente quer o cumprimento do Plano Estratégico 2016/2020 então também acordado, quer o cumprimento do Acordo de Compromissos Estratégicos, que estipula que a TAP mantém obrigatoriamente a sua identidade nacional, a sua sede e direção efetiva em Portugal, a sua bem distinta marca própria, a sua contribuição determinante para a economia nacional – como uma das maiores exportadoras e contribuinte para a balança de pagamentos, uma das maiores empregadoras – as ligações fundamentais às Regiões Autónomas, aos países de expressão portuguesa e aos lugares da nossa diáspora, reforçando o ‘hub’ de Lisboa e melhorando o serviço prestado ao Porto e à Região Norte”, onde, garante, “a oferta da TAP mais do que duplicou entre 2015 e 2019 (…)”.

Sobre a atividade recente da TAP, Diogo Lacerda Machado destaca ainda o “alargamento significativo das ligações aos EUA e ao Canadá, numa nova repartição equilibrada e diversificadora do risco entre a América do Sul e a América do Norte”.

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