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Direção do CDS-PP contraria líder da bancada: “Políticos não devem estar associados a presidentes de clubes”

O líder democrata-cristão considera que o exemplo é “a única” forma de influenciar os outros e sublinha que devem ser “os deveres éticos e morais” que devem impedir a associação direta de um primeiro-ministro e de outros políticos a dirigentes desportivos. Telmo Correia é, a par com António Costa, um dos nomes que constam entre os apoios a Luís Filipe Vieira.
  • António Pedro Santos/Lusa
15 Setembro 2020, 15h45

O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, repudiou esta terça-feira o apoio do primeiro-ministro, António Costa, à recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica. O líder democrata-cristão considera que o exemplo é “a única” forma de influenciar os outros e sublinha que “os deveres éticos e morais” devem impedir a associação direta de um primeiro-ministro a dirigentes desportivos.

“São precisamente os deveres éticos e morais, que encaro como tão ou mais relevantes do que a letra da lei, que devem orientar a decisão de não associação direta de um primeiro-ministro – ou de qualquer outro político com papel de relevo na nossa democracia – a um presidente de um clube de futebol”, assinala Francisco Rodrigues dos Santos, num comunicado enviado às redações sobre o apoio de António Costa a Luís Filipe Vieira.

Francisco Rodrigues dos Santos sublinha que “o exemplo não é apenas a melhor forma de influenciar os outros; é a única”, e conta que foi, por isso, que quando decidiu candidatar-me à presidência do CDS-PP, se demitiu de todas as funções que ocupava no Sporting (na altura era vogal da direção do emblema ‘leonino’).

“Entendi que, para evitar conflitos de interesses e credibilizar o cargo a que me propunha, o simples facto de concorrer à presidência impunha-me que traçasse uma linha ética que separasse higienicamente a esfera política do futebol. Assim fiz, e acabei mais tarde por ser eleito presidente do CDS-PP [em janeiro deste ano], já completamente livre e solto de outros vínculos”, argumenta.

O líder do CDS-PP diz que esse princípio torna-se ainda mais importante tendo em conta que foi o primeiro-ministro que aprovou a venda do Novo Banco à Lone Star, em 2017, “com um mecanismo que permite a este Banco buscar dinheiro do Estado para se capitalizar”, ao qual o presidente do Benfica que António Costa apoia “ficou a dever 225 milhões de euros, que foram pagos com o dinheiro de todos nós”.

O líder democrata-cristão diz ainda a “violação de sucessivos artigos do Código de Conduta”, criado em 2019, na sequência do caso Galpgate, quando a petrolífera Galp ofereceu a vários governantes bilhetes para o Euro 2016. O presidente do CDS-PP lembra que o documento visa “evitar situações de conflito de interesses, falta de imparcialidade e benefício indevido de terceira pessoa”, que envolvam membros do Governo.

“Este episódio não tem nada que ver (só) com a vida política do primeiro-ministro. Tem que ver com a vida de todos nós. Normalizar isto é dar oxigénio à fogueira que vai queimando a confiança no Estado de Direito Democrático”, defende Francisco Rodrigues dos Santos.

Líder parlamentar contraria posição da direção

A posição defendida por Francisco Rodrigues dos Santos contradiz o que foi dito esta segunda-feira pelo líder parlamentar do CDS-PP, Telmo Correia, ao programa “Grandes Adeptos” da Antena 1, no qual é comentador desportivo. Telmo Correia defendeu que “não há nenhum impedimento legal” ao apoio do primeiro-ministro e que as críticas são “hipócritas, algumas populistas e outras pouco sustentáveis”.

“Não tenho problema nenhum em estar numa comissão de honra. Agora, eu também não sou primeiro-ministro. Se fosse primeiro-ministro estaria? Provavelmente não. Mas isso é uma questão à consciência dele, porque não há nenhum impedimento legal ou outro. Ele é que deve saber se pode ou não”, sublinhou Telmo Correia, que também faz parte da comissão de honra de Luís Filipe Vieira e esteve em comissões de honra anteriores.

Telmo Correia afirmou ainda abertamente que apoia a recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica: “Eu acho que este presidente é o melhor presidente para continuar”. O apoio pode, no entanto, chocar com aquilo que Francisco Rodrigues dos Santos afirma ser um dever de não associação direta de “um político com papel de relevo na nossa democracia” a um presidente de um clube de futebol.

Além de Telmo Correia, o CDS-PP tem, pelo menos, mais dois ex-deputados do CDS-PP que são comentadores desportivos na televisão. É o caso do ex-líder parlamentar do CDS-PP Nuno Magalhães, que comenta futebol frequentemente na Sport TV, e do deputado Hélder Amaral, que comenta na CMTV.

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