Em declarações à Lusa, Francisco Ferreira salientou que a Amazónia “não tem sido um tema fácil, quer com as posições do futuro Presidente, mas também com o que se verificou ao longo dos últimos anos, com todos os governos do Brasil, mesmo com o próprio Partido dos Trabalhadores [PT]”.
Considerando que só com Marina Silva, como ministra do Ambiente, que agora foi candidata à primeira volta das presidenciais pela REDE, houve “maior proteção” da floresta amazónica, o presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável – sublinha que “nunca houve uma estratégia coerente, eficaz e permanente” para a Amazónia.
Dito isto, acha que “agora, a abertura [à exploração] é muito mais dramática do que a que até aqui esteve em jogo”.
Um risco maior para a Amazónia, “que tem um valor de património natural e em termos de ecossistema muito significativo à escala mundial, quer pela área quer pelo funcionamento do próprio ecossistema, que está em jogo, ou seja, da sua produtividade”, diz.
Na reta final da campanha eleitoral para a segunda volta das presidenciais, Jair Bolsonaro comentou que o Brasil permanecerá no Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, desde que o país tenha plena soberania sobre a Amazónia.
“Se alguém me escreve preto no branco” que não há questão do “triplo A, nem da independência de qualquer terra indígena, eu mantenho [o Brasi]) no Acordo de Paris”, referiu.
O triplo A é um projeto de corredor ecológico transnacional dos Andes ao Oceano Atlântico que atravessa a Amazónia e prevê a criação de uma vasta zona de proteção ambiental, ligando parques naturais, reservas indígenas e áreas de biodiversidade natural.
A “Amazónia não é nossa”, afirmou, também, defendendo a abertura da região à exploração: “Aquilo é vital para o mundo”, disse.
O Presidente eleito também “prometeu acabar com a agência brasileira encarregue do controlo da desflorestação e da demarcação das zonas indígenas”.
A posição de Bolsonaro sobre a Amazónia, considera Francisco Ferreira, tem a ver “com uma perspetiva económica de rápida rentabilização dos recursos”.
O principal objetivo “é garantir que a Amazónia proporcione benefícios para determinado tipo de interesses, nomeadamente agropecuários, que beneficiam com essa exploração” de recursos da maior floresta do mundo, refere o ambientalista.
Francisco Ferreira lembra que a Amazónia é o mais importante repositório de biodiversidade e tem um papel crucial na remissão de CO2 da atmosfera e na regularização do clima: “Corremos riscos não só à escala do Brasil, mas também a nível mundial com a destruição deste património, que é normalmente irreversível”, alerta.
Perante as posições de Bolsonaro, os ambientalistas definem novas estratégias de mobilização da sociedade civil.
Francisco Ferreira diz que já falou com os seus colegas de organizações brasileiras e que estes estão preparados para mais trabalho, nos próximos anos, no sentido de uma maior mobilização da sociedade civil contra eventuais medidas de um governo de Bolsonaro com danos para o ambiente.
Os ambientalistas também têm receios relativamente ao Acordo de Paris para as Alterações Climáticas, que pode perder muito com um posicionamento diferente de um Brasil governado por Bolsonaro.
“Nós já percebemos que há um alinhamento muito forte entre as posições do futuro Presidente do Brasil e do Presidente [norte-americano] Donald Trump. Além disso, sabemos que há vários temas que na área política dele [Bolsonaro] são considerados irrelevantes e ameaçadores, ou supostamente ameaçadores, da atividade económica no país”, afirmou o responsável da ZERO.
Em termos políticos, o papel do Brasil no Acordo de Paris é, para Francisco Ferreira, dos mais importantes, já que o país é “líder em políticas ambientais”.
Ao longo de anos, o Brasil assumiu sempre uma posição de grande protagonismo e determinou uma série de políticas climáticas, por exemplo, no protocolo de Quioto, o mecanismo de apoio aos países em vias de desenvolvimento.
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