São várias as vozes que se erguem para alertar que, com a pandemia, a distância veio para ficar, nomeadamente, nas aulas, nas reuniões, nos congressos, nas consultas, nos amores, enfim, nos encontros entre pessoas que, geograficamente, estão mais ou menos distanciadas.

Se, por um lado, entendo que as universidades não podem continuar com o mesmo modelo de há meio século, num encontro marcadamente hierarquizado, com papéis claramente definidos, numa lógica de top-down, por outro, tenho sérias dúvidas quando leio responsáveis políticos sublinharem as vantagens da aprendizagem à distância, especialmente, para as aulas teóricas.

Tomo como exemplo a minha universidade, situada no interior do país. A estratégica de ensino-aprendizagem baseada na distância tenderá a:

  1. A ferir de morte a ideia de universidade que se sustenta na confluência de culturas, de saberes e de conhecimentos, resultante do encontro de estudantes, docentes e investigadores(as) de diversas partes do país, da Europa e do mundo;
  2. A diminuir a importância da figura do(a) professor(a) no processo de construção de saberes, do conhecimento e, absolutamente fundamental, na transmissão de experiências, na possibilidade de aprender fazendo ou de fazer aprendendo.
  3. A aumentar a tecnocracia tornando-a um dos lugares de vigência da tecnopolia, lembrando Neil Postman.
  4. Despovoar a universidade, a cidade e os caminhos para lá chegar.

Por outro lado, este pode ser o momento de recriar os espaços e os modelos de ensino: estudantes, professores, investigadores e restante academia chamados à discussão de novas abordagens, nomeadamente mais criativas e menos indutoras de enfado (segundo a cara dos estudantes); mais ativas, participativas, intensas e menos passivas, estanques, sonolentas (segundo a cara dos estudantes…, mais seduzidos por milhares de outros estímulos que a tecnologia oferece a todo o momento); mais coconstruídas e menos pré-definidas; mais dialógicas e menos monológicas; mais atentas às questões de género e das minorias e menos atenta aos números, métricas e milestones.

É neste between, e à boleia do impulso que os programas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) podem trazer, que as universidades podem voltar a ser o local mais frequentado das cidades, dos territórios, por jovens, menos jovens, onde todos(as) queremos estar, de onde não temos vontade de sair para voltar ao quarto/cozinha/escritório das aulas à distância… de um (simples) clique.