Comprar ações de duas ou três empresas locais que conhecemos há anos, nos parecem seguras e têm vindo a distribuir bons dividendos é, muitas vezes, a abordagem dos investidores que decidem construir as suas próprias carteiras, mas a estratégia nem sempre é a mais compensadora.

Porquê? Porque o velho ditado “não ponha os ovos todos no mesmo cesto” continua a ser mais do que um cliché e porque as grandes empresas locais que conhecemos melhor (a Coca-Cola para os americanos, a Shell para os ingleses e por aí em diante) não são a melhor opção e haverá outras máximas a considerar, como “não compre num único supermercado” e “não compre apenas ovos”.

Quer isto dizer que a diversificação se mantém como um conceito central e que a amplitude do seu significado não se resume ao número de empresas que temos numa carteira, mas à sua abrangência regional e setorial, o que permitirá retornos mais compensadores e sustentáveis mas comporta um grau de complexidade e especialização muito mais elevado.

Dividendos regionais e enviesamentos setoriais

Além das limitações óbvias da presença num único mercado, é preciso considerar que nem todas as regiões têm vindo a distribuir um nível semelhante de dividendos.

Por exemplo, ao olharmos para os principais índices de cada região – MSCI Europe, S&P 500 nos EUA, MSCI Ásia Pacífico e MSCI Global – é visível que, na média dos 10 anos anteriores à crise financeira (1998-2008), os dividendos europeus foram superiores aos asiáticos e estes superaram os norte-americanos. Atualmente os dividendos europeus continuam superiores, numa média de 3,5%, os asiáticos foram os que mais cresceram e estão perto dos 3%, e os norte-americanos continuam abaixo dos 2%, sendo os menos atrativos per si e aqueles que mais se reduziram.

A Ásia, que representa apenas 12% do MSCI World, tem mais de 40% das suas empresas a distribuir dividendos acima dos 4%, enquanto os EUA, que representam 55% do índice, têm apenas 12,7% das suas empresas com dividendos superiores a 4%.

Em termos setoriais, há também enviesamentos a ter em conta e uma carteira global pode ajudar a contorná-los, ao mesmo tempo que ajuda a anular os efeitos da variação divergente entre diferentes moedas. Por exemplo, no índice MSCI UK as tecnologias da informação têm uma presença tão pequena que estão incluídas na rubrica “outros”, enquanto no congénere global representam 20%. Já os bens de consumo corrente pesam 17% no índice do Reino Unido e pouco mais de 8% no global.

Carteira global para um retorno sustentável

Uma carteira global diversificada é um caminho inteligente para um retorno mais sustentável, mas conseguir construí-la e geri-la implica um grau de complexidade a que poucos investidores, por si mesmos, conseguem dar resposta.

Num contexto em que os depósitos bancários e as obrigações do tesouro dificilmente satisfazem o retorno procurado, o aconselhamento especializado torna-se tão relevante como a diversificação. É como ter uma equipa dedicada a analisar os muitos supermercados pelo mundo para lhe saber dizer, a cada momento, quais são os melhores ingredientes e onde são mais baratos. Com eles, não terá apenas ovos e um cesto poderá não ser suficiente.