O Festival Internacional de Cinema – Doclisboa’24 dissemina-se por cinco espaços de Lisboa e tem no seu epicentro uma homenagem a alguém que via na programação “uma extensão da crítica, como uma forma de convocar o mundo para se pensar cinematograficamente — portanto, uma questão de vida”. Esse ‘alguém’ é Augusto M. Seabra, que em setembro deixou a crítica de cinema mais pobre.
Portanto, é de vidas que este festival trata, de memórias, registos do presente e passado para ajudar os espetadores a perceber o seu tempo olhando , também, para os ‘tempos’ que o antecederam. Daí que arrumar um festival por secções seja uma forma de compartimentar este puzzle, onde todas as peças encaixam. Da Competição Internacional – que apresenta 12 filmes, cinco dos quais estreias mundiais – à Competição Portuguesa– que reúne uma dezena de filmes, dos quais quatro estreias mundiais, que nos revelam movimentos que atravessam as fronteiras do país e os tempos do agora, passando pela secção Verdes Anos, que continua a ser um espaço vital para o impulso criativo que caracteriza as primeiras produções cinematográficas.
Na era em que o digital tem vindo a alterar hábitos de consumo cinematográfico, em que o grande ecrã e a ‘sala escura’ têm vindo a perder protagonismo, saúda-se o reforço do compromisso do Doclisboa com o cinema português e com a arte enquanto princípio fundamental. Prova disso são as secções Da Terra à Lua e Riscos, e também Back to the Future, programa que se propõe “percorrer em alguns filmes o vínculo que liga o modernismo, ou seja, nada mais nada menos do que a utopia do século XX, e o cinema”, com destaque para filmes até agora inéditos em Portugal, como “Traité de bave et d’éternité” (1951), de Isidore Isou, “If and If Only” (2005), do artista Anri Sala, “Per Speculum” (2006), de Adrian Paci, e “Phantoms of Nabua” (2009), do tailandês Apichatpong Weerasethakul.
Até à sessão de encerramento, no dia 27 de outubro, serão exibidos mais de uma centena de filmes. E porque o fim não tem forçosamente de ter um sabor amargo, caberá ao realizador brasileiro André Novais Oliveira encerrar o festival, com “O Dia Que Te Conheci”, uma espécie de comédia romântica involuntária, que retrata a história de um homem e de uma mulher (Renato Novais e Grace Passô) que tentam permanecer à tona num mundo desajustado, e que um dia se conhecem.
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