Em 2023, foram desperdiçadas em Portugal 1,93 milhões de toneladas de alimentos, um aumento de 0,3% face a 2022, de acordo com os dados mais recentes do INE. O volume corresponde a mais de 750 estádios de futebol, cheios de comida. Um número difícil de visualizar, mas impossível de ignorar.
Este desperdício insere-se num problema global e, para dar visibilidade a esta realidade e mobilizar soluções em toda a cadeia alimentar, as Nações Unidas instituíram o Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar (IDAFLW), celebrado a 29 de setembro.
A Too Good To Go, a maior app do mundo na luta contra o desperdício alimentar, relembra que este desperdício não está limitado a fábricas, armazéns ou supermercados. Ele acontece em todas as etapas da cadeia alimentar, da produção ao consumo, e cada um de nós tem um papel a desempenhar. As casas concentram a maior parte das perdas, (67%), o que mostra a importância de apoiar as famílias com informação e soluções práticas para transformar hábitos do quotidiano.
O retrato dos lares portugueses
A preocupação com o desperdício alimentar é hoje transversal em Portugal: De acordo com um estudo da Too Good To Go (inquérito realizado pela Appinio para a Too Good To Go a uma amostra nacional representativa de 700 pessoas com mais de 18 anos em Portugal em abril de 2025), 83% dos portugueses afirmam estar muito preocupados com este problema e 90% apoiam a criação de uma lei contra o desperdício, à semelhança da aprovada em Espanha este ano.
Esta consciência assenta sobretudo em dois fatores: o económico, já que 93% dos inquiridos garantem que, com a inflação e a subida dos preços, procuram evitar ainda mais o desperdício, e o ambiental, uma vez que 80% reconhece o impacto negativo do desperdício no planeta.
Este estudo demonstra que os lares portugueses já mostram esforços relevantes, mas também identifica áreas onde é possível melhorar.
Nas compras, por exemplo, muitos consumidores são atraídos por promoções (41%) ou por embalagens de grandes dimensões (29%), o que os leva a trazer mais alimentos para casa do que os que conseguem consumir a tempo. Além disso, nem todos planeiam as suas compras: 22% não usam listas, 31% compram por impulso e 60% adquirem produtos “por precaução”, práticas que podem levar a acumulação de alimentos redundantes ou que não serão necessários.
No que respeita ao armazenamento, 61% dos inquiridos já procuram organizar os alimentos, ainda que muitos reconheçam não dominar as melhores formas de conservação.
Por fim, na cozinha, surgem desafios comuns a muitas casas: 32% admitem dificuldade em calcular porções, cerca de três em cada dez não sabem como aproveitar integralmente os alimentos e 28% referem falta de tempo para cozinhar.
Estes dados mostram que o desperdício alimentar em casa não resulta de falta de preocupação, mas de hábitos do quotidiano que podem ser repensados e transformados com informação prática e soluções acessíveis.
Apesar de haver espaço para melhoria, o resultado é positivo: existe uma forte consciência social e ambiental, acompanhada por uma vontade real de mudança. O desafio é dar aos consumidores ferramentas simples e práticas, desde planear as compras até aproveitar melhor os alimentos, para que as intenções se transformem em hábitos do dia a dia. Desta forma, cada lar poderá contribuir ativamente na redução do desperdício alimentar em Portugal, com benefícios económicos, sociais e ambientais.
Consequências globais do desperdício e a urgência de agir
O desperdício alimentar tem impactos profundos que vão além do ambiente. Quase 40% de toda a comida produzida no mundo nunca é consumida, enquanto 673 milhões de pessoas vivem em situação de fome. Esta efeméride sublinha a urgência de uma ação conjunta. Em 2025, o foco da iniciativa é reforçar a cooperação entre todos os intervenientes da cadeia alimentar, produtores, distribuidores, consumidores, investigadores e governos, para construir sistemas agroalimentares mais sustentáveis, eficientes e resilientes, capazes de responder aos desafios do presente e do futuro.
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