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Donald Trump deixa para trás a OMS e o Acordo de Paris

A dupla saída, que já tinha sido antecipada, coloca em risco os programas sanitários de emergência e pode enterrar definitivamente o acordo global para o clima – bastante mal-tratado pelos seus aderentes.
Trump
22 Janeiro 2025, 07h00

Os Estados Unidos vão deixar a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o perímetro do Acordo de Paris, disse o presidente norte-americano Donald Trump esta segunda-feira. A saída da OMS é uma novidade – que já era esperada, uma vez que Trump já tinha ameaçado a organização, que afirma ter caído sob a alçada da China – enquanto a recusa em manter-se no Acordo de Paris é uma repetição do que já tinha feito durante o seu primeiro mandato como presidente.

Sobre a OMS, Trump diz que a decisão de sair obedece a dois imperativos. Por um lado, porque a agência global de saúde lidou mal com a pandemia de Covid-19 e com outras situações críticas internacionais. E falhou nesse aspeto porque não soube subtrair-se à “influência política inapropriada dos estados-membros”, nomeadamente da China. Por outro lado, Trump diz que o ónus do financiamento está nas mãos dos Estados Unidos (o que é verdade, dado que responde por 18% do financiamento total), que são “pagamentos injustamente onerosos”, desproporcionais ao financiamento mantido por outros países de idêntica dimensão, como a China.

A OMS respondeu que lamenta a decisão do principal país doador. “Esperamos que os Estados Unidos reconsiderem e realmente esperamos que haja um diálogo construtivo para benefício de todos”, disse o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, em Genebra.

A saída dos EUA irá provavelmente colocar em risco, dizem analistas citados na imprensa norte-americana, programas da organização, principalmente aqueles que lidam com tuberculose, a maior causa de morte por doença infeciosa do mundo, bem como os destinados a ajudar doentes de HIV e outras emergências de saúde globais.

O segundo maior doador da OMS é a Fundação Bill e Melinda Gates, embora a maior parte desse financiamento vá para a erradicação da poliomielite. O presidente-executivo da fundação, Mark Suzman, disse nas redes sociais que a organização continuará a defender o fortalecimento e não o enfraquecimento da OMS.

A Alemanha surge na terceira posição, contribuindo com cerca de 3% do financiamento da OMS, e o ministro da Saúde disse na terça-feira que Berlim esperava convencer Trump a desistir da saída. Já o Ministério das Relações Exteriores da China disse em conferência de imprensa que o papel da OMS na gestão global da saúde deve ser fortalecido. “A China continuará a apoiar a OMS no cumprimento de suas responsabilidades e aprofundará a cooperação internacional em saúde pública”, disse Guo Jiakun, porta-voz do ministério.

 

Adeus Paris

“Vou retirar-nos imediatamente do injusto e unilateral Acordo de Paris sobre o clima”, disse o presidente antes de assinar a ordem. “Os Estados Unidos não vão sabotar as suas próprias indústrias enquanto a China polui impunemente”, afirmou Donald Trump – regressando a uma retórica que já tinha usado durante o seu primeiro mandato. Negacionista (ou semi-negacionista) das alterações climáticas que estão por trás do acordo assinado em Paris em 2015, Trump reverte a reversão do ex-presidente Joe Biden quando tomou posse em 2021.

“A política da minha administração consiste em colocar os interesses dos Estados Unidos e do povo americano em primeiro lugar”, refere a ordem executiva, que é indiretamente acompanhada por várias outras ordens executivas que incentivam o regresso em força da exploração de petróleo e de gás natural e acabam com o financiamento à compra de automóveis elétricos. É que Trump revogou um memorando de 2023 de Joe Biden que proibia a perfuração de petróleo em cerca de 16 milhões de hectares no Ártico e defendia que o governo deve encorajar a exploração e produção de energia em terras e águas federais.

De nada valeu a Ursula von der Leyen responder a partir de Davos, na Suíça, onde se encontra reunido o Fórum Económico Mundial, que o Acordo de Paris “continua a ser a maior esperança de toda a humanidade”. A presidente da Comissão Europeia disse que “as alterações climáticas continuam a estar no topo da agenda mundial” e que a Europa trabalhará com todos aqueles que desejam “travar o aquecimento global”. Os Estados Unidos estão fora.

Para os analistas, a saída dos EUA pode ser uma machadada final no acordo e na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, prevista para ocorrer em novembro de 2025, na cidade de Belém, no Brasil. Já de si desacreditada pelos escândalos de que tem sido alvo – como foi o exemplo mais evidente da COP 28, que decorreu no Dubai, Emirados Árabes Unidos, em 2023 – a conferência demonstrou aos que ainda não acreditavam que o planeta não está preparado para deixar de usar o petróleo.

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