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Donald Trump quer impor tarifas de 50% às importações oriundas da União Europeia

A retórica é a mesa: o bloco existe para explorar a economia norte-americana. Para além da União, Donald Trump escolheu também a Apple para regressar esta sexta-feira à questão das tarifas. Comissão Europeia quer mais informação antes de comentar.
Donald Trump
EPA/CHRIS KLEPONIS / POOL
23 Maio 2025, 14h21

O presidente norte-americano, Donald Trump, considerou que as negociações comerciais com a União Europeia (UE) “não estão a dar frutos” e recomendou a imposição de uma tarifa de 50% sobre os seus produtos a partir do próximo dia 1 de junho. “As nossas negociações com eles não estão a dar frutos! Por isso, recomendo uma tarifa direta de 50% para a União Europeia a partir de 1 de junho de 2025”, disse nas redes sociais. “Não será aplicada qualquer tarifa se o produto for fabricado nos Estados Unidos”, repetiu.

Trump insistiu que a União Europeia foi criada “com o objetivo principal de tirar partido dos Estados Unidos na esfera comercial”. Do lado da União, como o JE tem referido depois de conversas com diversos agentes económicos – nomeadamente dos setores dos vinhos, dos têxteis e dos componentes automóveis – a postura dos elementos norte-americanos presentes nas negociações é precisamente o mesmo: os Estados Unidos não querem continuar a ser ‘usados’ como fonte para excelentes negócios de exportações. Isso implica que as negociações – que o lado europeu sabia que iriam ser difíceis – não estão a avançar e não tem sido possível a obtenção de qualquer consenso. Para o lado do bloco dos 27, a postura mantém-se: a opção mais correta será o chamado ‘zero-por zero’ (zero tarifas às exportações para zero tarifas às importações), mas claramente que o lado norte-americano não está disponível para ter essa conversa.

Trump acusou a União de que as suas barreiras comerciais, o IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado), as sanções “ridículas” às empresas, as barreiras comerciais não monetárias, as manipulações cambiais, as ações judiciais “injustificadas” contra empresas norte-americanas, entre outras, geraram um défice comercial com os Estados Unidos que atinge “um valor totalmente inaceitável”. As duas partes nem sequer convergem no que tem a ver com o volume do défice – que para os Estados Unidos assume uma proporção que os números do lado da União desmentem categoricamente. Mais: em termos dos serviços, segundo os 27, o défice está do lado da União Europeia e não do dos Estados Unidos.

Para já, a Comissão Europeia recusou comentar a recomendação do presidente, dizendo que espera uma ligação entre o comissário do Comércio da União, Maros Sefcovic, e o seu homólogo norte-americano, Jamieson Greer.

A União não está só em mais esta arremetida de Trump contra aqueles que o próprio alega estarem a ‘usar’ a economia norte-americana: o presidente intensificou também, esta sexta-feira, as suas ameaças comerciais aa gigante ‘caseiro’ dos smartphones, a Apple, “o que deixou o mercado global agitado após semanas de redução da tensão, que proporcionou algum alívio”, refere a agência Reuters.

Trump ameaçou impor uma tarifa de 25% à Apple sobre qualquer iPhone vendido, mas não fabricado nos Estados Unidos. Mais de 60 milhões de aparelhos são vendidos nos Estados Unidos anualmente, mas o país não possui fábricas de smartphones. A Apple pretende fabricar a maioria dos iPhones vendidos nos Estados Unidos em fábricas na Índia até o final de 2026 e está a acelerar esses planos para gerir as tarifas potencialmente mais altas aplicadas à China, a sua principal base de produção. Mas Trump e outros, incluindo o secretário de Comércio, Howard Lutnick, sugeriram que a Apple deveria fabricar iPhones nos Estados Unidos. Em fevereiro, a Apple anunciou que investirá 500 mil milhões de dólares ao longo dos próximos quatro anos para expandir a contratação e as instalações em nove Estados norte-americanos, mas foi omissa sobre se o investimento seria destinado à expansão da produção de iPhones no mercado interno.

De imediato, esta sexta-feira, as ações da Apple caíram 3,5% no pré-mercado, juntamente com ações de outras empresas de tecnologia. Os mercados caíram com a notícia: os futuros do S&P 500 perderam 1,5% antes da abertura do mercado e o Eurostoxx 600 caiu 2%.

Recorde-se que Trump agitou os mercados no início de abril, após impor tarifas sobre quase todos os locais habitados do mundo (mas não só) – onde se incluíam impostos de cerca de 145% sobre produtos importados da China. Os investidores responderam vendendo ‘furiosamente’ ativos norte-americanos, já que as taxas os levaram a questionar o estatuto de ‘porto seguro’ que os Estados Unidos desfrutam há décadas. Embora os mercados tenham recuperado, a confiança das empresas e dos consumidores está em níveis muito baixos nos Estados Unidos.

A resposta dos mercados forçou a Casa Branca a suspender a maioria das tarifas até ao início de julho, mantendo apenas um imposto de 10% sobre importações de outros países, mas Trump considerou a possibilidade de reativar algumas taxas. Seguiu-se depois a ‘novela’ das negociações com a China – que talvez ainda não tenha acabado.

A Casa Branca tem negociado com vários países sobre questões comerciais, mas o progresso tem sido instável. Líderes financeiros do G7 tentaram minimizar as disputas sobre as tarifas no início da semana, num fórum no Canadá.

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