Tentar o impossível? Sempre. É esse o mote do design. Transformar o impossível em algo possível, funcional, belo, inclusivo, ético. Inovador será, por inerência, porque o design cria soluções. Ou seja, está sempre a inovar, ainda que por vezes esse desafio se cumpra (re)inventando. Proposta: fazer uma imersão na Dubai Design Week (DDW), que acontece de 4 a 9 de novembro.
Qual o tema? Sendo 2025 o Ano da Comunidade dos Emirados Árabes Unidos, a tónica da DDW será a construção de comunidades mais inclusivas e resilientes. Talento, criatividade, ousadia e, acima de tudo, múltiplas visões de como construir um chão comum. Até porque a Dubai Design Week desempenha um papel crucial na consolidação das indústrias criativas e culturais, não só por criar oportunidades para designers emergentes, como também por apoiar empreendedores nas diversas vertentes desta disciplina.
Resumindo, é uma importante montra do talento da região – do Médio Oriente à Ásia, passando pelo Norte de África – num palco global. Não admira, por isso, que o próximo objetivo tenha maior amplitude: reforçar o estatuto do Dubai como Cidade Criativa UNESCO no domínio do design. E se o Médio Oriente há muito que é celebrado pelo seu rico património cultural, arquitetura opulenta e abordagem inovadora ao design, nos últimos anos, a região tem-se afirmado como um centro global de design de vanguarda, combinando elementos tradicionais com uma estética moderna.
Ora, quando falamos de design contemporâneo é impossível não pensar numa amálgama de estilos, ideias e reinterpretações do passado, atualizada com os materiais e soluções técnicas do século XXI. Sem esquecer a sustentabilidade como parte da equação. Ou melhor, faz parte do mantra da Dubai Design Week (DDW), que é transversal a todos os eventos realizados com a sua chancela.
d3: onde tudo acontece
É o caso do Downtown Design, evento âncora da DDW, que regressa ao d3 Waterfront Terrace, Dubai Design District (d3), de 5 a 9 de novembro. O que esperar nesta 11ª edição? Móveis, iluminação, materiais, objetos lifestyle e acessórios de todo o mundo. A designer francesa Stéphanie Coutas e a dupla de designers Draga & Aurel, apresentada pela Collectional, estarão lado a lado com nomes já conhecidos dos habitués do Downtown Design – como Huda Lighting, Kartell, Kohler, Poltrona Frau, Obegi Home, Venini e Vitra – e newcomers, caso da Roche Bobois, Stellar Works & Calico Wallpaper, Porada, Desalto. A somar ao programa paralelo, que inclui pop-ups, talks e painéis de debate.
Vamos aos destaques com epicentro no Médio Oriente? O coletivo BEIT mostra o resultado de parcerias entre artesãos libaneses e designers internacionais; do Paquistão chega uma coleção criada a quatro mãos por mãe e filho, Saira Ahsan e Yousaf Shahbaz; a Comissão de Design e Arquitetura do Ministério da Cultura do Reino da Arábia Saudita estará presente com a exposição ‘Designed in Saudi’, assim como os trabalhos do grupo de bolseiros que participou na 5ª edição da Athath Fellowship by MAKE, que decorreu entre 11 de julho e 11 de outubro, em Abu Dhabi. Mais. O Programa de Design Tanween, promovido pela Tashkeel, levará ao Downtown Design as criações de nove designers desafiados a superar os limites do design com foco na sustentabilidade.
Outro highlight desta edição será o Pavilhão dos Emirados Árabes Unidos na Bienal de Arquitetura de Veneza, que se irá apresentar na DDW com uma nova configuração. Com curadoria de Azza Aboualam, ‘Pressure Cooker’ explora a interseção entre arquitetura e produção alimentar em ambientes áridos e propõe respostas assentes no design para enfrentar os principais desafios de segurança alimentar. Pensado para funcionar como uma estufa e espaço de encontro, irá aprofundar a investigação inicial do projeto sobre infraestruturas adaptáveis e ambientes resilientes focados na comunidade.
“Num cenário de transformações agrícolas e de intensificação das alterações climáticas, a segurança alimentar e hídrica torna-se uma urgência, especialmente na região do Golfo. Enquanto as soluções globais enfatizam a tecnologia, ‘Pressure Cooker’ propõe uma alternativa que tem por base a responsabilidade partilhada entre comunidades locais”, sintetizou a curadora por ocasião da abertura da exposição na Bienal de Veneza.
O design como ‘soft power’
No Dubai tudo é feito em grande escala, mas nada é fruto do acaso. Planeamento estratégico? Sim. Em todas as áreas. E se as ilhas artificiais e os hotéis que rebentam a escala das cinco estrelas há muito deixaram de ser novidade, talvez outros objetivos – igualmente bem ponderados – tenham passado despercebidos. Como a ambição de transformar o emirado numa das 10 principais economias ligadas ao metaverso no mundo. E de se afirmar como pioneiro em soluções agritech para fazer face às alterações climáticas.
O design também faz parte do planeamento estratégico, daí que o concurso anual de design da Dubai Design Week funcione, igualmente, como laboratório de ideias, para arquitetos e designers testarem conceitos a aplicar em espaços públicos. Este ano, o tema é o pátio – uma tipologia espacial de recolhimento, reflexão e controlo climático – bastante enraizada na região, ainda que comum a muitas outras culturas. Ou seja, designers e arquitetos foram convidados a reimaginar o pátio como uma infraestrutura urbana comunitária. A proposta vencedora, intitulada “When Does a Threshold Become a Courtyard?”, foi concebida pelo estúdio de design e pesquisa sediado nos Emirados Árabes Unidos Some Kind of Practice, partindo do housh, o pátio tradicional dos Emirados.
A d3 Architecture Exhibition, em parceria com o Royal Institute of British Architects, apresentará obras dos principais ateliês de arquitetura internacionais e regionais sobre o tema da comunidade. Mais. O relojoeiro suíço Jaeger-LeCoultre vai contar a história do seu icónico relógio Reverso através do design, da arquitetura e da gastronomia, enquanto L’ÉCOLE Middle East, School of Jewelry Arts, que tem o apoio da Van Cleef & Arpels, assina uma exposição em estreia mundial, que é um diálogo entre Oriente e Ocidente através da joalharia. Isto sem esquecer o programa de workshops, que tem o designer britânico Tom Dixon como ‘cabeça de cartaz’, que se estreia na DDW acompanhado por um dos principais designers de produto do Reino Unido, Lee Broom, e pela arquiteta, designer de interiores francesa, Isabelle Stanislas.
Seis dias para descobrir múltiplos olhares sobre o design e o papel que este tem na condição humana e na nossa relação com o mundo. Ou, como escreveu Daciano da Costa – pensador, artista, professor e nome maior do Design português –, “a resolução dos problemas do ambiente humano implica sempre uma componente moral. É isso que distingue o design das outras actividades artísticas.”
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