O céu de São Paulo escureceu subitamente a meio da tarde de segunda-feira. Apesar da maior cidade brasileira sofrer muito com a poluição, os céus ficaram negros com o fumo dos incêndios na Amazónia, que arde há 16 dias.
São Paulo fica a uma distância de 2.700 quilómetros da cidade de Manaus, capital da Amazónia. Mesmo assim, os fortes ventos empurraram os fumos do pulmão do mundo para a metrópole com 12 milhões de habitantes.
Perante a falta de reação das autoridades, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, os habitantes da cidade e os restantes brasileiros levaram o caso para o Twitter, afirmando que ninguém prestava atenção ao facto da floresta estar a arder há duas semanas.
O que impressionou os habitantes de São Paulo foi, precisamente, o fato de a Amazónia se encontrar a 2.735 quilómetros da cidade, escreve a BBC. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) declarou que durante estes 16 dias já foram consumidos mais de 20 mil hectares de vegetação, e que três milhões de espécies de fauna e flora, além de um milhão de indígenas que vivem isolados na floresta.
“Foi como se o dia se tivesse tornado em noite”, afirmou um habitante à BBC, “foi impressionante”. No entanto, os habitantes não foram os únicos a notar a presença de algo estranho. A NASA capturou diversas imagens espaciais nos dias 11 e 13 de agosto, em que se se viam manchas de fogo e fumo nas cidades de Amazonas, Rondônia, Pará e Mato Grosso.
Ricardo Mello, responsável pelo programa Amazónia na fundação WWF, revelou que estes incêndios são “a consequência do aumento da desflorestação que se têm visto nos números recentes”. Entretanto, o estado do Amazonas, coberto pela floresta tropical quase na totalidade, já declarou estado de emergência devido a estes incêndios.
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Cientistas que estudam a zona da floresta garantem que a Amazónia sofreu perdas a um ritmo acelerado desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil, no início do ano, de forma a beneficiar os madeireiros e mineiros.
Desde a sua candidatura que Bolsonaro assumiu uma posição anti-ambientalista, e chegou a ser acusado de interferir no maior acordo comercial entre o Brasil e a União Europeia devido à desflorestação e por não cumprir o que foi acordado no Acordo de Paris, onde foi assinado um compromisso de desacelerar a desflorestação.
Apesar de ainda não reagir nas redes sociais aos incêndios, Bolsonaro afirmou que “antes chamavam-me capitão motosserra. Agora estou a ser acusado de pôr fogo na Amazónia”. Assim, o presidente brasileiro continuou a sua defesa e declarou que foi “Nero! É o Nero a pôr fogo na Amazónia”, assumindo que “é época das queimadas por lá”, referindo-se ao imperador romano que incendiou Roma.
Incêndios na Amazónia aumentam em 2019: 84% mais incêndios que em 2018
Apesar de as queimadas serem comuns nesta altura do ano no Brasil, alguns investigadores assumem que muitos são da responsabilidade de criminosos, que serão agricultores interessados em ganhar espaço para a agricultura e gado com a desflorestação.
Até ao dia 20 de agosto, o número de incêndios em 2019 na floresta tropical apresentavam um aumento de 84% em relação ao mesmo período de 2018, tendo sido detetados perto de 73 mil focos, revelou o INPE. Alberto Setzer, investigador, explicou ao jornal brasileiro ‘Estadão’ que o clima deste ano está mais seco que no ano passado, mas que não acredita que os incêndios tenham origem natural. “Nesta época do ano não há fogo natural. Todas essas queimadas são originadas em atividade humana, seja acidental ou propositada. A culpa não é do clima, ele só cria as condições, mas alguém coloca o fogo”, sustentou Setzer.
O número de focos de incêndios verificados no Brasil é o maior dos últimos sete anos e diversos ativistas acusaram Bolsonaro, nas redes sociais, de estar a silenciar o que está a acontecer. “O pessoal está pedindo aí para eu colocar o exército para combater. Alguém sabe o tamanho da Amazónia?”, afirmou Bolsonaro.
O INPE divulgou que a desflorestação na Amazónia cresceu 88% no mês de junho e 278% em julho, em comparação com o mesmo período de 2018. Mark Parrington, especialista, revelou ao jornal Vice que os incêndios na Amazónia libertam uma média de 500 toneladas de dióxido de carbono durante um ano. Até agora, os incêndios na floresta tropical já libertaram 200 toneladas de dióxido de carbono.
A Amazónia é a maior floresta tropical mundial e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta, sendo ainda responsável por providenciar 20% do oxigénio ao planeta. Tem cerca de cinco milhões e meio de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
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