Em princípio, as moratórias de crédito para famílias e empresas terminarão em setembro. Há dúvidas legítimas acerca do que isso significará para a economia portuguesa, porque é sabido que a proporção de créditos em moratória é a mais elevada em toda a União Europeia.

É provável que a maioria das famílias que aderiram não tenham verdadeiramente precisado das moratórias, numa decisão tomada num contexto de incerteza e até de alguma pressão emocional. Mas há muitos casos de famílias que perderam grande parte dos rendimentos devido à pandemia e sem as moratórias não teriam sido capazes de manter a sua casa.

Todos deverão partir do princípio de que não haverá um novo prolongamento e devem, por isso, preparar-se para o regresso à normalidade. O valor da prestação não mudará muito e será facilmente acomodável por quem não perdeu rendimentos. O problema são os outros – aqueles a quem a pandemia castigou e que continuam a precisar de um contexto mais favorável por parte da banca. Será justo que se criem as condições para que essas famílias consigam evitar o incumprimento no seu crédito à habitação.

Tal como no caso das famílias, também muitas empresas que aderiram às moratórias não têm necessidade de continuar no mesmo regime. Noutros casos, facilmente identificáveis, a duração da pandemia poderá ser fatal e não haverá condições de honrar o serviço da dívida.

É bem possível que o fim das moratórias às empresas provoque uma onda de falências nas “derrotadas” da pandemia. Para a banca poderá ser proveitoso preparar um terreno de negociação para evitar mais falências e despedimentos, eventualmente com apoio governamental ou do BCE. E poderia fazer sentido a reestruturação rápida da dívida, sem passagem pelos trâmites habituais como PER ou insolvências.