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“É importante que Portugal tenha mais de uma centena de centrais a biomassa”

O ministro do Ambiente defende a utilização da biomassa em sistemas de produção de calor. Mas não comenta o futuro da central da EDP em Sines.
  • 27th European Biomass Conference & Exhibition
16 Junho 2019, 19h00

Depois do Governo ter tomado a decisão sobre a data limite de funcionamento da central termoelétrica do Pego – que deixará de utilizar carvão depois de 2021 – e sobre a sua eventual reconversão para poder utilizar fontes de energia renováveis, o ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Matos Fernandes, em entrevista ao Jornal Económico – realizada em Lisboa, na abertura da 27ª Conferência e Exibição Europeia da Biomassa EUBCE 2019 – considera que “é mesmo importante” que Portugal tenha “mais de uma centena de pequenas centrais de biomassa, extraordinariamente eficientes, que vão servir para produzir calor para aquecer piscinas, pavilhões gimnodesportivos, ou até bairros pelo país fora”.

Na abertura da conferência, Matos Fernandes referiu que, na sequência de um pedido feito pelo Governo português, a 8 de janeiro de 2018, a Comissão Europeia aprovou um sistema de ajudas estatais que apoia a criação de infraestruturas para unidades de biomassa localizadas na proximidade de áreas florestais consideradas críticas ao nível de riscos de incêndio.

Também adiantou que um estudo pedido pela Comissão Europeia à consultora PricewaterhouseCoopers EU Services EESV’s Consortium, designado “Utilização ótima e sustentável da biomassa para produção de energia na União Europeia depois de 2020” (”Sustainable and optimal use of biomass for energy in the EU beyond 2020”), estima que o contributo da biomassa possa triplicar em alguns dos cenários contemplados (passando de 123 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Tep) para 338 a 391 milhões de Tep no horizonte de 2030, apesar de não ser utilizada toda a biomassa quantificável.

O aproveitamento da biomassa está a ser promovido para assegurar a transição
das centrais térmicas a carvão para as fontes de energia renováveis do sector florestal, mais úteis e mais eficientes. É possível transformar centrais existentes para serem alimentadas com fontes de energia renováveis?

Sim. A biomassa é sobretudo importante para gerar calor e energia e quando ela é utilizada exatamente com esse objetivo, tem taxas de eficiência muito superiores àquelas que tem quando gera eletricidade. Ou seja, aquilo que nós sentimos é que é mesmo importante haver em Portugal mais de uma centena de pequenas centrais de biomassa, extraordinariamente eficientes no seu funcionamento e que vão servir para produzir calor para aquecer piscinas, pavilhões gimnodesportivos, ou até bairros pelo país fora. Uma coisa é verdade: se nós pensarmos em centrais renováveis “despacháveis” – isto é, com capacidade de poder a todo o momento entrar na rede elétrica quando a eletricidade é necessária, isto num mundo onde se só tivermos, e vamos ter, fontes renováveis no mundo, neste caso em Portugal – isso é absolutamente crucial para termos segurança no abastecimento. E aqui sim, as centrais de biomassa podem e vão ter um papel da maior relevância. Acredito que há capacidade para que algumas outras centrais existentes, que produzem eletricidade a partir de outras fontes, possam ser centrais de produção de eletricidade, “despacháveis”, a partir da biomassa.

Nesse caso serão projetos concretizáveis a curto prazo, no horizonte de um ano?

Não diria de um ano, até porque há o licenciamento ambiental. E há obras que tem de ser feitas. Mas com certeza que em dois ou três anos é possível concretizá-los.

Que capacidade instalada terão as centrais a biomassa?

Terão a capacidade necessária precisamente para que em tempos de maior pressão no consumo ou de menor capacidade de produzir eletricidade a partir das três fontes mais comuns, o vento, o sol e a água, possam ter um papel de maior relevância no equilíbrio do sistema.

Sobre o futuro das centrais termoelétricas – além da central do Pego, também
a da EDP em Sines -, já é certo que haverá possibilidade efetiva de transformá-las em unidades de biomassa?

Uma possibilidade, haverá. Não queria estar a falar de projetos que não são projetos públicos, ainda que sejam acompanhados obviamente pelo poder público e pelo poder político, pois são projetos sobretudo da iniciativa privada dos seus promotores. Em tese, sim.

 

Artigo originalmente publicado na edição do Jornal Económico nº 1991 de 31 de maio de 2019

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