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Pedro Soares dos Santos: “É na Roménia que queremos entrar. Temos de saltar a fronteira”

As outras geografias preferenciais para a expansão internacional são os países da América Latina na costa do Pacífico – Peru, Chile, México e Equador.
16 Março 2019, 19h00

Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins, tem o seu grupo preparado para entrar em novas geografias, concretizando assim um novo aumento de dimensão. Agora espera pelas oportunidades certas. Sobre o mercado português, não comenta a iminente entrada da Mercadona.

Além do bom desempenho ~da Jerónimo Martins em 2018, que fator é agora decisivo para quererem voltar a crescer em novas geografias?

Investimos fortemente nas infraestruturas atuais, na expansão. Abrimos mais de 227 novas lojas, e armazéns. Mas o mais importante é que reforçámos bastante o balanço.

Vem aí a Mercadona e consta que a rede do Grupo Dia-Minipreço pode ser vendida…

Digo já que não tenho interesse nenhum na rede do Grupo Dia. Nada.

Porquê?

Porque o Dia não está na Colômbia nem está na Polónia, nem na Europa Central, como costumamos dizer.

Mas está na América Latina…

Em países que não nos interessam. Tem um portefólio que não serve o nosso interesse. Mais: se estivéssemos só interessados em Portugal a maior parte destas lojas não nos serviam porque a Autoridade da Concorrência não autorizava a sua compra, pela concentração.

A sua posição sobre o Brasil é inflexível?

Para a nossa aventura na América Latina, o mercado brasileiro está fora do eixo que escolhemos, que é o dos países da Aliança do Pacífico. É uma aliança muito mais estável economica, juridica e politicamente, onde a iniciativa privada não é um problema. Nós já escolhemos o nosso caminho e os nossos investimentos canalizam-se para aí na área da distribuição. Estamos a falar do Peru, do Chile, do México e agora parece que se vai juntar o Equador.

As aquisições nesses mercados podem ser interessantes para o grupo JM?

Podem ser interessantes porque são mercados que têm acordos de relações comerciais, por isso permitem o transporte de mercadorias entre si. Pergunto: quais são os mercados que são instáveis? Os do Mercosul. Se olharem para a História, na Aliança do Pacífico os mercados são estáveis, não alteram as suas políticas, nem os seus objetivos.

Se pudesse definir um país prioritário, qual teria a concretização mais rápida dos investimentos?

Neste momento, a Colômbia. Esse é o nosso mercado prioritário. Temos muito trabalho a fazer na Colômbia.

Daquilo que identificou no mercado colombiano, até que quota é que acha que a JM consegue crescer na Colômbia?

Se um dia conseguirmos uma quota de 25% será muito bom. Nós temos hoje uma quota de quase 24% na Polónia.

Nessa altura, a relação de distribuição de mercados vai tornar Portugal o irmão mais pequeno…

Mas nós já somos, como disse, uma empresa polaca com sede em Lisboa. Das empresas de distribuição no mundo somos aquela que tem um peso exterior superior ao peso interno, com uma disparidade enorme. A JM é um dos poucos casos desses. Nascemos num país de 10 milhões e alavancámos para países de 40 milhões e agora para um de 50 milhões.

Será difícil continuarem a assumir-se como uma empresa portuguesa com sede em Portugal?

Acho que temos de assumir que somos portugueses, mas o nosso trabalho é no mundo.

Relativamente à flexibilidade financeira das operações de crescimento, o facto da JM ter uma unidade na Holanda permitiu agilizar soluções de investimento exterior? Isto é: se não fosse assim, a internacionalização teria sido diferente?

O facto de nós termos algumas das nossas sub-holdings na Holanda – a holding está aqui – permitiu maior proteção aos investimentos. Quando investimos na Polónia, não havia um acordo fiscal entre Portugal e a Polónia, de proteção entre os dois países. O facto de se fazer um investimento através de Portugal era ineficiente fiscalmente. Portanto, qual era o país que tinha esses melhores acordos? A Holanda. Quando investimos na Colômbia, esse acordo também não existia. Quem é que tinha um melhor acordo? A Holanda. Para uma empresa como a nossa, que investe muito no estrangeiro, a primeira coisa que tem a fazer é proteger o investimento e olhar para onde fica mais bem protegida. Estamos na União Europeia, portanto, temos de ver onde é que esse investimento está mais bem protegido. Isto demonstra o quê? Que os holandeses estão muito mais avançados para fazerem negócios no mundo do que os portugueses. Protegem realmente quem faz os investimentos deles e os outros beneficiam. Foi esse o caso.

 Mesmo assim, Portugal continua a ser um mercado em que são testadas soluções mais desenvolvidas para depois serem exportadas?

Portugal tem um papel crucial que é a formação. Treinar pessoas. E, acima de tudo, receber todos aqueles em que acreditamos (colombianos, polacos…) que vão ter papéis importantes, no futuro, nos seus países. Virem para Portugal, conhecerem a nossa língua, a nossa cultura, a nossa forma de pensar e, depois, poderem ir para estes países depois de terem realmente percebido quem nós somos.

Apesar disso, desenvolveram soluções tecnológicas próprias na Polónia que não são utilizadas em Portugal. Porquê?

Porque as desenvolveram lá e são as melhores soluções para o negócio de lá. Tudo bem. Cada marca, cada companhia, tem de saber viver per se. Tem de ser local, percecionada pelo consumidor como uma empresa local.

Em relação ao balanço social, o modelo que foi desenvolvido no Pingo Doce – uma empresa gerida por mulheres – pode ser adotado em todas as geografias?

É adotado em todas as geografias.

Ou seja, a gestão pode passar a ser feminina em todos os mercados?

Sim, se aparecerem mulheres gestoras nós não viramos as costas a nada disso.

Nem há problemas sociais na atribuição de papéis mais determinantes às mulheres na América Latina?

Nada. Na América Latina, as mulheres mais bem preparadas, muitas vezes, quando atingem uma certa idade querem ir para casa. Mas isso é uma opção. Mas para nós, o único padrão é a meritocracia, os valores e a atitude. De resto, usar saias ou não, a cor, o social, não quero nem saber disso.

No braço de ferro entre concorrentes no mercado português, como é que está a situação com a Sonae MC? É uma luta que continua a ser renhida ou há um entendimento para uma partilha de mercado respeitosa?

Não existe partilha. Fazer o Tratado de Tordesilhas com a Sonae só nos atrasava. Com o tempo perdíamos todos, tal como Portugal perdeu com esse tipo de tratados. Cada um por si. A concorrência só faz bem, só melhora as companhias que querem ser boas. Onde há concorrência o consumidor ganha e todo o país ganha com isso. Há concorrência para os impostos? Não. O contribuinte cada vez paga mais e é retribuído em menos.

Além da Polónia, que outra geografia preferencial tem na Europa Central?

É na Roménia que queremos entrar.

A curto prazo, há perspetiva de isso vir a acontecer?

Há. Espero que sim. Depende do que cada um entende por curto prazo. Não sei se é em 2019. Para mim curto prazo são dois anos, a dois anos e meio.

Seria por via aquisitiva?

Vamos ver. Atingimos uma dimensão na Polónia que, para continuarmos a ser uma companhia muito saudável, que vai permitir aos nossos fornecedores continuarem a crescer, temos de saltar a fronteira. A Europa Central é o que faz mais sentido para nós.

Está a referir-se a quantos potenciais consumidores locais identificáveis com o perfil de cliente do grupo?

Diria 10 milhões. É considerável. Sinto que é um país que voltará a dar-nos grande crescimento.

A Roménia será controlada via Polónia?

A partir de agora, os nossos investimentos para o Leste estão a ser feitos a partir da Polónia e os nossos investimentos para a América Latina estão controlados em Bogotá.

Artigo publicado na edição nº1978 de 1 de março do Jornal Económico

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