De forma imprevista e imprevisível os portugueses, todos nós, serão chamados a optar. E não vamos optar em função do que já passou, vamos escolher em função da credibilidade, consistência e credibilidade das propostas que nos irão apresentar.

Votar é sempre e imediatamente escolher que futuro queremos, e só de forma mais distante é reconhecer o realizado no passado, por mais próximo que esteja. Quando o país não vive na iminência de uma crise e quando tem recursos. afigura-se-me determinante perceber se as propostas que nos vão ser apresentadas pretendem configurar o país que queremos ser no longo prazo ou, tão-só, projetar-se no imediato.

Cuido que os que ficarem pelo imediato, prometendo pequenas vantagens, sem uma proposta de mudança, não alcançarão o reconhecimento popular. Por outro lado, formular uma proposta de mudança pressupõe alguns recursos, nem sempre abundantes: conhecimento do país na sua pluralidade e na sua diversidade socioeconómica; conhecimento da diversidade territorial; capacidade de optar e coragem para afirmar a diferença.

Sendo obrigação dos que se candidatam apresentar-nos as suas propostas, não o é menos que cada um de nós, no livre e desejável exercício da cidadania, possa enunciar e reflectir sobre os domínios para os quais gostaria de ver propostas.

Como se disse, não no imediatismo das pequenas vantagens, antes olhando para o longo prazo, dando razões a todos os portugueses para acreditar. E neste exercício de cidadania referem-se alguns domínios que precisam de respostas clarividentes e corajosas.

  • O Estado

Precisamos de dar novos instrumentos de legitimidade aos eleitos e de reganhar os cidadãos para a participação política e cívica, assim como precisamos, por uma vez, de colocar a justiça a funcionar. Fugas de informação, televisões a chegar primeiro que os magistrados, erros na avaliação de indícios, decisões erradas, são realidades que sempre existiram e sempre existirão.

O que não pode acontecer é o eternizar de processos judiciais nas suas múltiplas fases, o que não pode acontecer é a destruição de vidas, carreiras ou empresas, por incapacidade de se chegar à decisão final.

Do mesmo passo importa reconhecer na organização da administração local os impactos das novas dinâmicas territoriais e demográficas. Também a administração pública necessita de ousadia e coragem, não para serem mais, antes para serem os melhores e como tal reconhecidos. (Continua)

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.