Donald Trump conseguiu de uma assentada regressar ao poder com um mandato reforçado. A velocidade com que foi eleito é uma das surpresas e reflete a pouca importância dada pelos comentadores e media aos reais problemas dos americanos: segurança e economia.

As implicações financeiras não se fizeram esperar e demonstram o estado atual do mundo. Os principais índices de ações americanas dispararam atingindo máximos históricos, numa demonstração do que serão os próximos quatro ou mesmo oito anos republicanos. Os juros a 10 anos subiram para os 4,45%, evidenciando preocupação com dois temas: a inflação e o défice americano.

O programa económico da Administração Trump prevê a adoção de estímulos fiscais, com a redução das taxas de imposto das empresas, e incentivos à industrialização, o que irá provocar um aumento da procura, ou seja, inflação. Ao mesmo tempo, o governo americano prevê manter défices orçamentais de 7% ao ano, ou dois triliões de dólares, que terão de ser financiados pela via da emissão de novos títulos de dívida. Os juros não irão descer tanto como o expectável há uns meses, e isso significa mais rendimento para os investidores mais conservadores.

Por outro lado, ao investir no lema “America First”, está dado o sinal de que as empresas domésticas americanas serão beneficiadas face às empresas com negócios internacionais. Talvez por essa razão, o índice das pequenas empresas, Russell 2000, tenha subido quase 6% e os bancos regionais americanos mais de 13% num único dia. Este é um sinal da tendência para os próximos anos, de atração de investimento para os EUA, que ficou também claro pela forte valorização do dólar contra todas as moedas.

O cenário otimista nos EUA contrasta com o desânimo europeu. Os políticos europeus ainda estão à espera de milagres e ajudas externas, teimam em não reconhecer a mudança nas prioridades da população. Inflação, subida dos juros, insegurança são temas que ganharam maior relevo e exigem mudanças na forma como as democracias funcionam.

A democracia europeia está em perigo pela negação do estado de marasmo a que chegámos, pois sem maiorias parlamentares, todas as decisões podem ser travadas. Um exemplo é o objetivo europeu de se transformar no bloco mais competitivo a nível mundial. Estamos há 20 anos à espera! A burocracia associada à incapacidade de cumprir com as promessas contrasta com o mandato dado pelo povo americano a Trump. Preferem uma democracia mais autocrática, mas assente em resultados.

A Europa, mais uma vez, não se preparou. A integração não funciona porque ninguém a quer, seja ao nível dos mercados de transportes, energia, telecomunicações ou bancário. Qual o banco europeu que consegue competir com um JPMorgan? Um exemplo, se a França tiver problemas com emissão de dívida, serão os bancos alemães a salvarem-na?

Comparemos com os EUA, onde o mercado de capitais único funciona e todas as empresas conseguem ter acesso a financiamento. Na quarta-feira tivemos a resposta: as ações do JPMorgan subiram mais de 10% e as do BNP caíram 5%. A diferença entre EUA e Europa será fatal para os políticos europeus que ainda não perceberam o quanto têm de mudar, e que assim permitem a Trump manter uma América hegemónica, sem concorrência.