[weglot_switcher]

easyJet e Ryanair contra limitação de lugares. Como a pandemia está a ameaçar as ‘low cost’

O CEO da IATA, Alexandre de Juniac, já previu que a imposição de medidas restritivas de lugares e de limpeza dentro dos aviões irá acabar com o modelo de negócios das companhias aéreas ‘low cost’, estimando um aumento do preço dos bilhetes em cerca de 50%.
25 Abril 2020, 17h45

Esta semana, os responsáveis da easyJet e da Ryanair mostraram-se contra as propostas de limitação de lugares nos aviões no cenário de levantamento da atual fase de confinamento.

A pandemia pode ter colocado em causa todo o modelo de negócio das companhias aéreas ‘low cost’, um dos principais motores de dinamização do setor e do turismo internacional nos últimos anos.

O diretor-geral da Easyjet para Portugal, José Lopes, avisou ontem, dia 24 de abril, que a limitação ao número de lugares nos aviões poderá pôr em causa a retoma do setor, pois fará subir “exponencialmente” os preços das passagens aéreas.

O responsável falava numa conferência ‘online’ promovida pela consultora Deloitte com o tema ‘Turismo Covid-19: Preparar o futuro sobre responder à emergência, resistir ao impacto, preparar a retoma’ e que contou com a presença da secretária de Estado do Turismo, Rita Marques.

Para José Lopes, o setor precisa de conhecer com a máxima antecedência o ‘roadmap’ (roteiro) para um cenário de evolução positiva da doença em Portugal para se poder preparar, e para tal, a easyJet precisará de “pelo menos 15 dias” para testes.

Entre os grandes entraves a estes testes, José Lopes referiu que “é necessário que deixe de existir quarentena regional de 14 dias a todos os passageiros que chegam à Madeira”.

Segundo o responsável, não poderá também haver limitações àquilo que designou por “conectividade”.

“Se estivermos a lançar operações com o número de lugares que estão disponíveis, como atualmente estão implementadas, a um terço da capacidade não será possível estimular o mercado, porque para operarmos em situações normais vamos ter que aumentar exponencialmente os preços e aquilo que é necessário neste momento é precisamente o contrário, é baixarmos os preços”, disse José Lopes, citado pela Lusa.

Segundo o responsável da easyJet em Portugal, terão que ser implementadas as necessárias medidas de segurança, como a utilização obrigatória de máscaras, que gerem confiança nos consumidores, “mas que não criem barreira à conectividade e ao custo de voar”.

Caso contrário, corre-se o risco de que voar “passe a ser um regresso ao passado, para algo de luxo e não algo acessível à grande maioria da população”.

Na véspera, numa entrevista ao ‘Financial Times’, o CEO da Ryanair, Michael O’Leary, afinou pelo mesmo tom, ameaçando mesmo que a companhia aérea irlandesa deixaria de voar se for aplicada a regra de deixar um terço da capacidade interdita a passageiros.

Trata-se de um braço de ferro provocado pela pandemia da Covid-19, que está a ameaçar o modelo de negócio das companhias aéreas ‘low cost’.

Este assunto já foi abordado, há cerca de duas semanas, pelo CEO da IATA – Associação Internacional de Transporte Aéreo, Alexandre de Juniac, que alertou para o facto de as eventuais futuras regras de distanciamento social no setor da aviação civil poderão significar o fim do transporte aéreo barato.

“É bem claro que se o distanciamento social for imposto dentro dos aviões, teremos de neutralizar uma grande proporção de lugares, pelo menos um terço para voos de curto e médio curso”, admitiu Alexandre de Juniac, numa conferência de imprensa.

Relembrando que, normalmente, uma companhia aérea necessita de um  ‘load factor’ (percentagem de ocupação de passageiros face à capacicdade total da aeronave) entre 70 e 72% para voos de curto a médio curso, de Juniac recordou que “isto significa duas coisas: ou continuamos a voar ao mesmo preço, vendendo os bilhetes ao mesmo preço médio de antes e perdemos uma grande quantidade de dinheiro, o que torna impossível voar para qualquer companhia aérea; ou aumentamos o preço do bilhete pelo menos em 50% e assim poderemos voar com um lucro mínimo”.

Em jeito de conclusão, Alexandre de Juniac rematou: “E, assim, isto significa que se o distanciamento social for imposto, as viagens baratas acabaram. Voilá”.

Por causa do coronavírus, o setor da aviação civil está a passar por uma crise sem precedentes, com a maioria das frotas em terra, difíceis situações laborais e financeiras e sem previsões de regressar à atividade, pelo menos, parcial.

A IATA já calculou em mais de 290 mil milhões de euros a quebra de receitas do setor a nível global até ao momento.

Além da questão do distanciamento social dentro dos aviões estar já a gerar polémicas sobre a sua real eficácia, o que se passa é que na futura retoma de atividade deste setor, as companhias aéreas, já debilitadas, vão ter de enfrentar custos adicionais, os quais deverão ser passados diretamente para os passageiros.

Alexandre de Juniac já avisou que quando o setor da aviação civil regressar em força, os governos dos diversos países e as várias autoridades reguladoras do setor irão impor novas regras mais estritas para reduzir os espaços nos aviões como uma forma de evitar o alastramento da Covid-19.

Segundo os especialistas do setor, com esta pandemia vão surgir dois novos conceitos na indústria da aviação civil: a ‘desdensificação’ e a ‘neutralização’. A primeira respeita à redução do número de passageiros, como uma tentativa para manter o distanciamento social dentro dos limites exíguos de avião; a segunda tem a ver com um número específico de lugares que têm de permanecer desocupados.

“A desdensificação, se for requerida pelas autoridades de saúde e da aviação civil, será a neutralização de um banco em cada fila entre as duas outras filas de assentos para aviões de curto curso”, assinalou Alexandre de Juniac

Por exemplo, num avião da Ryanair que normalmente transporta 189 passageiros, com os lugares do meio neutralizados, apenas 126 passageiros poderão ser aceites a bordo.

“É uma completa mudança do modelo de negócio das companhias aéreas a operar nos voos de curto curso”, explicou o líder da IATA.

Se for requerido às companhias aéreas que reduzam o número de passageiros em um terço, mantendo-se tudo o resto igual, as tarifas dos bilhetes deverão deverão subir cerca de 50%. Mas o aumento exato do preço das viagens aéreas irá depender da oferta e da procura, esperando-se que as transportadoras aéreas reduzam a sua capacidade em função das expetativas de crescimento lento.

Mas há outras medidas restritivas em equação para o setor. Por exemplo, as orientações da CAA, autoridade de aviação civil do Reino Unido, especificam que as casas de banho dos aviões devem ser desinfetadas a cada dez utilizações, além de prever que as últimas três filas de assentos sejam reservadas como uma área de quarentena para lidar eventuais situações de emergência em pleno voo.

Outras orientações sugeridas passam pela obrigatoriedade de a casa de banho da retaguarda dos aviões ser utilizada exclusivamente para os passageiros em quarentena, além de escalar um tripulante exclusivamente para atender os  passageiros, sem contacto próximo com os outros membros da tripulação.

Cenários que irão retirar margem de manobra às companhias aéreas que funcionam no modelo de negócio de ‘low cost’, porque as receitas serão inferiores à realidade anterior à pandemia, e os custos irão disparar.

 

 

 

 

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.