O Fórum Económico Mundial em Davos, sob o lema “Reconstruir a Confiança”, destaca no Relatório de Riscos Globais 2024 cinco dos dez principais riscos para os próximos dez anos relacionados com questões ambientais: eventos climáticos extremos, mudanças críticas nos sistemas terrestres, perda de biodiversidade e colapso do ecossistema, escassez de recursos naturais e poluição.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também sublinhou a necessidade de recuperar a confiança das populações nos governos e nas instituições multilaterais, promovendo uma reflexão profunda sobre a natureza da sociedade ecológica.

Para o historiador Murray Bookchin, a resposta reside num projeto emancipatório que coloque a ecologia e a criatividade humana no centro de uma nova visão para as cidades. A Ecologia Social, desenvolvida com base na premissa de que os sistemas sociais e naturais interagem e coevoluem ao longo do tempo, fomenta as interações entre a sociedade e os impactos ambientais a curto e longo prazo das atividades humanas.

Esta perspetiva implica a transição de um pensamento sobre um simples impasse dos limites do crescimento humano para um debate mais complexo e completo, conciliando o desenvolvimento humano com a natureza. A integração da ecologia social na arquitetura contribui para enfrentar os desafios habitacionais, fomentando a participação ativa das comunidades na transformação dos seus espaços.

No ano em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril, é preciso recuar ao 1º governo provisório, no qual o arquiteto Nuno Portas entendia que o desenvolvimento urbano não podia ser dissociado das necessidades e desejos das pessoas que habitariam os espaços. Nuno Portas desempenhou um papel crucial ao articular esta abordagem inovadora, unindo a teoria da ecologia social à prática arquitetónica. O legado do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) continua a inspirar profissionais e comunidades interessadas em integrar ecologia social e arquitetura para criar ambientes urbanos mais sustentáveis e inclusivos.

No documentário “Processo EX-SAAL”, realizado por Luís Matos Alves e Pedro Sousa, e apresentado publicamente na semana passada, é revisitado o legado do SAAL. Dá-se voz aos moradores que vivem nas ex-cooperativas SAAL Portugal Novo, Horizonte e Carlos Botelho, em Lisboa, proporcionando uma oportunidade para reflexão e ação.

O documentário atua como um veículo para entender não apenas a história passada, mas também para inspirar diálogos contemporâneos sobre como abordar os desafios dos bairros precários, mantendo uma perspetiva ecologicamente sensível e socialmente justa. O eco das palavras das pessoas tem de ressoar na construção dos ambientes urbanos.