Diz-se com ironia que os economistas previram com sucesso dez das últimas cinco recessões.
As projeções económicas são bastante falíveis e há uma certa tendência para fazer previsões impactantes. É mais atrativo antever uma crise, um colapso nos mercados ou um surto inflacionista do que prever um comportamento económico mais convencional. São previsões “à Roubini”, que garantem notoriedade quando corretas, mas rapidamente são esquecidas quando erradas.
O que esperar de 2024 em termos económicos? Antes de mais, é provável que seja um ano mais marcado pela política do que pela economia. Além dos conflitos por resolver na Ucrânia e no Médio Oriente, da tensão entre a China e os EUA (e Índia) e das fricções na União Europeia, o ano ficará marcado pelas eleições presidenciais nos EUA, incluindo as primárias – um tema que o mercado tem evitado avaliar.
Os indicadores avançados dos países desenvolvidos apontam para uma desaceleração económica, com provável recessão na Europa. No entanto, há margem de manobra por parte dos bancos, balanços das empresas, contas públicas e bancos centrais para se evitar uma crise profunda.
Uma das maiores incógnitas reside na inflação. Vários economistas preveem uma segunda vaga inflacionista, mas o nosso cenário central – que parte da premissa que os preços da energia não surpreenderão em alta – é que a inflação vai continuar a baixar, agora a um ritmo mais lento, mas que obrigará o BCE a rever em baixa as previsões para 2024, atualmente em 2,7%.
Relativamente às taxas de juro, o teto está definido e quem as fixou no verão pode vir a arrepender-se. Os bancos centrais irão cortar taxas, mas possivelmente tarde e de forma mais gradual do que o mercado está agora a antecipar.
Para Portugal, as perspetivas não são as mais animadoras, devido às dificuldades previstas para as exportações de bens. Contudo, o consumo privado deverá beneficiar da queda da inflação, de aumentos salariais reais e da queda nas taxas de juro. O investimento não poderá perder a oportunidade do PRR e o turismo aponta para mais um ano positivo, embora sem o crescimento recente; parece não haver capacidade (infraestrutura e recursos humanos) para sustentar as taxas de crescimento dos últimos anos.
O que seriam surpresas positivas, ainda que improváveis? Por um lado, a implementação mais generalizada e produtiva da Inteligência Artificial e, possivelmente, vindas do país que já exporta deflação e cujo sector imobiliário continua a ser um “peso morto”. Se a China crescer acima das expectativas, a economia mundial certamente irá beneficiar.