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Economia da Defesa abrange 40 sectores. Programa para startups desta indústria chega em 2022

O primeiro estudo sobre a economia da Defesa em Portugal vai ser publicado no próximo mês de dezembro. “Não teremos Defesa europeia se não tivermos uma base tecnológica industrial europeia e isso não vai nascer por decreto”, disse ao Jornal Económico o presidente da idD – Portugal Defence.
29 Novembro 2021, 07h50

O presidente da idD – Portugal Defence, a holding que gere as participações que o Estado detém em empresas na área da Defesa, afirma que, no próximo ano, os empreendedores com soluções para modernizar e rentabilizar a Defesa terão oportunidade de participar num novo programa de aceleração, o “Startup Defesa”, suportado por academias de formação militar e pelo polo de inovação digital português Defense for Tech.

Em entrevista ao Jornal Económico, Marco Capitão Ferreira garante que este sector tem um volume de negócios de cerca de 4 mil milhões de euros e continuará a desenvolver-se, sobretudo se a execução do Fundo Europeu de Defesa, dotado com 13 mil milhões de euros, for bem sucedida.

“Estamos convictos de que vamos estar na primeira geração de Zonas Livres Tecnológicas (ZLT) com as instalações do centro de experimentação de Tróia, onde tivemos um exercício da NATO muito grande em setembro, que fez a prova de conceito de que é possível ter ali uma ZLT a funcionar”, referiu ainda o responsável da entidade tutelada pelo Ministério da Defesa Nacional e pelo Ministério das Finanças, no âmbito do evento “Industry Day” na qual a convidada de honra foi a Airbus.

Como é vê o futuro desta indústria?

Acho que este período de crise demonstrou que algumas das características da economia de Defesa que nós tínhamos conceptualmente como certas vieram ao de cima e demonstraram-se. Esta foi uma indústria que sofreu menos do que a média porque está alavancada em fatores diferenciados: em produtos de elevada tecnologia e emprego qualificado e beneficia do perfil exportador que é muito favorável comparado com o resto da economia portuguesa. Portanto, eu vejo o futuro desta indústria, em Portugal especificamente, como muitíssimo promissora do ponto de vista de suportar as Forças Armadas (FA) e o Ministério da Defesa naquilo que é o cumprimento das missões de soberania e no desenvolvimento de um cluster de empresas que atravessam 40 sectores de atividade económica. Aliás, no próximo mês, dia 17 de dezembro, vamos lançar um estudo sobre a economia de Defesa, o primeiro publicado em Portugal sobre esta matéria, onde se evidenciam estas questões.

Qual é contributo para o PIB nacional?

Na área de economia de Defesa, as empresas normalmente têm tecnologias, bens e serviços a que se chamam de dual-use, ou seja que tem uma utilização militar e depois uma linha de produtos, digamos assim, que para o mercado civil. Portanto, juntando os dois, este sector vale mais ou menos 4 mil milhões de euros em termos de a volume de faturação. Reforço: diferencia-se muitíssimo da média da economia portuguesa não só dos fatores anteriores, mas por outros. Nós investimos quase o quádruplo da média da economia portuguesa em investigação e desenvolvimento (I&D).

Entre 2020 e 2021 de quanto foi o investimento em I&D?

Está em torno dos 4% do volume de faturação, o que compara muito favoravelmente com a média da economia portuguesa. Esperamos que estes novos programas quer a nível do Fundo Europeu de Defesa (EDF, na sigla anglo-saxónica) que no contexto de revisão da Lei de Programação Militar, que deve ocorrer em 2022, e com a assunção de ambições em Portugal em matéria de dois domínios operacionais que são o ciberespaço e o espaço, este perfil de investimento em I&D vai tender a subir ainda mais. Por exemplo, parece-me bem ilustrativo que seja possível realizar este tipo de eventos, como o que se realizou esta sexta-feira, que faz parte de um ciclo de Industry Days – este com a Airbus foi o terceiro, depois de um com a Thales e a Leonardo – e para o ano haverá mais. Temos tentado gerir com os constrangimentos Covid, mas todo o trabalho ocorreu totalmente durante o período de pandemia e não nos impediu de o fazer. Também a presença lá fora tem sido cada vez mais forte.

Investimos quase o quádruplo da média da economia portuguesa em investigação e desenvolvimento

Como na União Europeia. Na apresentação do evento admitiu que gostava de houvesse um “Fundo Europeu de Defesa 2.0”, mas em que ponto se encontra a primeira etapa?

O EDF que está em vigor agora vai durar sete anos e no fim desses sete anos a minha expectativa – e a da generalidade da indústria de Defesa europeia – é a de que haja um novo fundo para mais sete anos e outro para mais sete, mas isto obviamente depende do suporte político todos os Estados-membros. Logo, é responsabilidade da indústria dar uma boa execução a esta oportunidade que é o EDF até para garantir que ela não é uma oportunidade e tem continuidade. Isto não é uma crítica o atual EDF. É uma responsabilização que nós sentimos a nível europeu. Há 37 entidades portuguesas em vários consórcios internacionais que estão a preparar agora os projetos no âmbito do EDF para a primeira entrega de candidaturas no dia 9 de dezembro. Não teremos Defesa europeia se não tivermos uma base tecnológica industrial europeia e isso não vai nascer por decreto, não se manda fazer, não se proclama, constrói-se. É o que estamos aqui a fazer, em muitas outras, nomeadamente retomando uma presença portuguesa nos grandes eventos internacionais. Este ano conseguimos estar representados com empresas portuguesas que foram connosco em seis ou sete grandes certames internacionais na área de da economia de Defesa.

Há 37 entidades portuguesas em vários consórcios internacionais que estão a preparar agora os projetos, no âmbito do Fundo Europeu de Defesa para a primeira entrega de candidaturas no dia 9 de dezembro.

E que apoio existe para quem quer abrir uma empresa nesta área? Há capital para o empreendedorismo na Defesa?

A prova de é possível criar empresas é que nós temos praticamente 400 entidades (300 e tal das quais são empresas) na base tecnológica industrial de Defesa em Portugal. Obviamente que nós não ignoramos essa necessidade [de apoio]. E vamos lançar também por essa razão um projeto na área das startups, em que vamos conceder-lhes duas coisas: o acesso às FA e ao conhecimento existente nas FA porque uma empresa que se queira desenvolver e desenvolver novas tecnologias neste domínio tem que poder ter acesso aos utilizadores, que são quem melhor sabe o que é que faz falta e para onde é que precisamos de ir. Temos associados centros de investigação das FA em iniciativas conjuntas. Estamos convictos de que vamos estar na primeira geração de Zonas Livres Tecnológicas (ZLT) com as instalações do centro de experimentação de Tróia, onde tivemos um exercício da NATO muito grande em setembro, que fez a prova de conceito de que é possível ter ali uma ZLT a funcionar. Já esta iniciativa de startups é suportada quer pelas academias (além da Academia Aeronáutica há também a do Arsenal do Alfeite para o cluster naval), que estão ligadas às universidades e aos centros de investigação e hão de iam de sair delas projetos de investigação que vão precisar de um ecossistema.

É uma espécie de programa de aceleração?

É. Chama-se “Startup Defesa” e será lançada em 2022 com o apoio do polo de inovação digital [Digital Innovation Hubs – DIH] “Defense for Tech”, cuja candidatura já foi aprovada a nível de Portugal e que vamos agora candidatar à rede europeia de DIH. Portanto, entre as academias e o hub de inovação digital, temos já meia, dúzia de universidades portuguesas envolvidas, mais de uma dúzia de centros de investigação e umas dezenas de empresas que vão ajudar a que este ecossistema possa funcionar. Em 2022 teremos seguramente a “Startup Defesa” suportada quer nas academias quer no polo de inovação digital.

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