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Economia digital vale pelo menos 5% do PIB mundial

A primeira edição do “Digital Economy Report”, elaborado pelas Nações Unidas, alerta para a diferença entre os países “subconectados” e os “hiperdigitalizados”. Juntas, África e a América Latina representam menos de 5% da colocação mundial de centros de dados.
5 Setembro 2019, 07h35

Imagine que tem de percorrer um longo caminho e se vê obrigado a definir vários locais de paragem nesse percurso. Olhou para o GPS, estabeleceu as metas, seguiu viagem e, à medida que andava, as estradas começavam a mudar de posição a uma velocidade alucinante. É o que está a acontecer com a digitalização – aquilo a que as Nações Unidas chamam “alvo em movimento” e que está a complicar o trabalho dos legisladores, que procuram implementar políticas sólidas relacionadas com a economia digital.

A primeira edição do “Digital Economy Report”, elaborado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla inglesa), demonstrou que ainda pairam dúvidas sobre o impacto económico das novas tecnologias, inclusivamente no próprio conceito de “economia digital”. Logo, consoante aquilo que abrangera definição, as estimativas apontam para que represente entre 4,5% a 15,5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

No entanto, os especialistas da UNCTAD alertam para o fosso entre os países “subconectados” e os “hiperdigitalizados”, quer no simples uso da internet como nos recursos e infraestruturas de aproveitamento de dados. O ‘gap’ é notório quando no mesmo mês em que Cabo Verde aplaude a chegada do 4G à ilha do Sal a Coreia do Sul contava com meio milhão de adesões à rede móvel de quinta geração (5G). Mais: a África e a América Latina juntas representam menos de 5% da colocação mundial de centros de dados.

Anteriormente conhecido como “Information Economy Report”, o renovado relatório olha para as possibilidades de criação e captura de valor na economia digital pelos países em desenvolvimento, focando-se nas oportunidades que estes estados podem ter enquanto produtores e inovadores, bem como nas restrições que enfrentam no que diz respeito aos dados e às plataformas online. “Se não forem tidas em conta estas divisões exacerbarão as desigualdades de rendimento existentes”, avisa a instituição sediada na Suíça.

No prefácio, António Guterres sugere que governos, sociedade civil, academia, comunidade científica e indústria tecnológica trabalhem em conjunto juntos para encontrar soluções para os problemas associados à cibersegurança, à pirataria e à privacidade. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas lembra ainda que as novas tecnologias, especialmente a inteligência artificial, levarão “inevitavelmente” a uma mudança de grande escala no mercado laboral, com o desaparecimento de empregos e a criação de outros.

“A economia digital exigirá uma nova variedade de capacidades novas e diferentes, uma nova geração de políticas de proteção social e uma nova relação entre trabalho e lazer. Precisamos de um grande investimento em educação, enraizado não apenas na aprendizagem, mas em aprender como é que se aprende, e em dar acesso a oportunidades de aprendizagem para todos ao longo da vida”, refere António Guterres.

Uma das conclusões apresentadas é que a geografia da economia digital não tem uma divisão tradicional norte-sul e que quem são os ‘donos disto tudo’ são os mesmos países que se veem envolvidos numa guerra comercial: Estados Unidos da América e China. As duas maiores potências do mundo detêm 75% de todas as patentes relacionadas com blockchain, 50% dos gastos globais em Internet of Things (IoT) e mais de 75% do mercado mundial de cloud computing (computação na nuvem), segundo a UNCTAD. Só as norte-americanas e chinesas Microsoft, a Apple, a Amazon, a Google, o Facebook, a Tencent e a Alibaba representam dois terços do valor total de mercado das plataformas digitais.

Principais aquisições das seis maiores empresas (2010–2018)

Comprador Empresa Valor (milhões de dólares) Ano
Alphabet 111 Eighth Avenue 1,900 2010
Microsoft Skype Global Sarl 8,505 2011
Alphabet Motorola Mobility
Holdings
12,450 2012
Microsoft Yammer 1,200 2012
Facebook Instagram 1,000 2012
Facebook WhatsApp 19,468 2014
Microsoft Nokia Oyj-Devices &
Services Business
4,991 2014
Alphabet Nest Labs 3,200 2014
Apple Beats Electronics LLC 3,000 2014
Microsoft Mojang AB 2,500 2014
Facebook Oculus VR 2,181 2014
Alibaba AutoNavi Holdings 1,081 2014
Microsoft LinkedIn 26,639 2016
Alibaba Suning Commerce
Group
4,547 2016
Alibaba Youku Tudou 4,392 2016
Alibaba Lazada South East Asia
Pte
1,000 2016
Amazon Whole Foods Market 13,561 2017
Alibaba PT Tokopedia 1,096 2017
Alphabet Lyft 1,000 2017
Amazon Souq.com 580 2017
Microsoft GitHub 7,500 2018
Alphabet Jamestown LP-Chelsea
Market (Nova Iorque)
2,400 2018
Alibaba Sun Art Retail Group 2,065 2018
Alibaba Focus Media Information
Technology
1,146 2018

Fonte: UNCTAD

“Estes são os primeiros dias da era digital e ainda há mais perguntas do que respostas sobre como lidar com o desafio. Dada a ausência de estatísticas relevantes e evidências empíricas e o ritmo acelerado das mudanças tecnológicas, os decisores enfrentam um alvo em movimento ao tentar adotar políticas sólidas relacionadas com a economia digital” – Nações Unidas

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