Imagine que tem de percorrer um longo caminho e se vê obrigado a definir vários locais de paragem nesse percurso. Olhou para o GPS, estabeleceu as metas, seguiu viagem e, à medida que andava, as estradas começavam a mudar de posição a uma velocidade alucinante. É o que está a acontecer com a digitalização – aquilo a que as Nações Unidas chamam “alvo em movimento” e que está a complicar o trabalho dos legisladores, que procuram implementar políticas sólidas relacionadas com a economia digital.
A primeira edição do “Digital Economy Report”, elaborado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla inglesa), demonstrou que ainda pairam dúvidas sobre o impacto económico das novas tecnologias, inclusivamente no próprio conceito de “economia digital”. Logo, consoante aquilo que abrangera definição, as estimativas apontam para que represente entre 4,5% a 15,5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
No entanto, os especialistas da UNCTAD alertam para o fosso entre os países “subconectados” e os “hiperdigitalizados”, quer no simples uso da internet como nos recursos e infraestruturas de aproveitamento de dados. O ‘gap’ é notório quando no mesmo mês em que Cabo Verde aplaude a chegada do 4G à ilha do Sal a Coreia do Sul contava com meio milhão de adesões à rede móvel de quinta geração (5G). Mais: a África e a América Latina juntas representam menos de 5% da colocação mundial de centros de dados.
Anteriormente conhecido como “Information Economy Report”, o renovado relatório olha para as possibilidades de criação e captura de valor na economia digital pelos países em desenvolvimento, focando-se nas oportunidades que estes estados podem ter enquanto produtores e inovadores, bem como nas restrições que enfrentam no que diz respeito aos dados e às plataformas online. “Se não forem tidas em conta estas divisões exacerbarão as desigualdades de rendimento existentes”, avisa a instituição sediada na Suíça.
No prefácio, António Guterres sugere que governos, sociedade civil, academia, comunidade científica e indústria tecnológica trabalhem em conjunto juntos para encontrar soluções para os problemas associados à cibersegurança, à pirataria e à privacidade. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas lembra ainda que as novas tecnologias, especialmente a inteligência artificial, levarão “inevitavelmente” a uma mudança de grande escala no mercado laboral, com o desaparecimento de empregos e a criação de outros.
“A economia digital exigirá uma nova variedade de capacidades novas e diferentes, uma nova geração de políticas de proteção social e uma nova relação entre trabalho e lazer. Precisamos de um grande investimento em educação, enraizado não apenas na aprendizagem, mas em aprender como é que se aprende, e em dar acesso a oportunidades de aprendizagem para todos ao longo da vida”, refere António Guterres.
Uma das conclusões apresentadas é que a geografia da economia digital não tem uma divisão tradicional norte-sul e que quem são os ‘donos disto tudo’ são os mesmos países que se veem envolvidos numa guerra comercial: Estados Unidos da América e China. As duas maiores potências do mundo detêm 75% de todas as patentes relacionadas com blockchain, 50% dos gastos globais em Internet of Things (IoT) e mais de 75% do mercado mundial de cloud computing (computação na nuvem), segundo a UNCTAD. Só as norte-americanas e chinesas Microsoft, a Apple, a Amazon, a Google, o Facebook, a Tencent e a Alibaba representam dois terços do valor total de mercado das plataformas digitais.
Principais aquisições das seis maiores empresas (2010–2018)
Comprador | Empresa | Valor (milhões de dólares) | Ano |
Alphabet | 111 Eighth Avenue | 1,900 | 2010 |
Microsoft | Skype Global Sarl | 8,505 | 2011 |
Alphabet | Motorola Mobility Holdings |
12,450 | 2012 |
Microsoft | Yammer | 1,200 | 2012 |
1,000 | 2012 | ||
19,468 | 2014 | ||
Microsoft | Nokia Oyj-Devices & Services Business |
4,991 | 2014 |
Alphabet | Nest Labs | 3,200 | 2014 |
Apple | Beats Electronics LLC | 3,000 | 2014 |
Microsoft | Mojang AB | 2,500 | 2014 |
Oculus VR | 2,181 | 2014 | |
Alibaba | AutoNavi Holdings | 1,081 | 2014 |
Microsoft | 26,639 | 2016 | |
Alibaba | Suning Commerce Group |
4,547 | 2016 |
Alibaba | Youku Tudou | 4,392 | 2016 |
Alibaba | Lazada South East Asia Pte |
1,000 | 2016 |
Amazon | Whole Foods Market | 13,561 | 2017 |
Alibaba | PT Tokopedia | 1,096 | 2017 |
Alphabet | Lyft | 1,000 | 2017 |
Amazon | Souq.com | 580 | 2017 |
Microsoft | GitHub | 7,500 | 2018 |
Alphabet | Jamestown LP-Chelsea Market (Nova Iorque) |
2,400 | 2018 |
Alibaba | Sun Art Retail Group | 2,065 | 2018 |
Alibaba | Focus Media Information Technology |
1,146 | 2018 |
Fonte: UNCTAD
“Estes são os primeiros dias da era digital e ainda há mais perguntas do que respostas sobre como lidar com o desafio. Dada a ausência de estatísticas relevantes e evidências empíricas e o ritmo acelerado das mudanças tecnológicas, os decisores enfrentam um alvo em movimento ao tentar adotar políticas sólidas relacionadas com a economia digital” – Nações Unidas
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