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Economia e Psicologia: Interdisciplinaridade Coerente?

As soluções mais eficazes para os problemas são muitas vezes encontradas por meio desta capacidade de aliar áreas distintas, encontrando-se formas criativas de resolução de dilemas e problemáticas de modo eficiente através dessa aliança a que chamamos de interdisciplinaridade.
26 Agosto 2021, 07h15

Nas últimas décadas, com os avanços tecnológicos e com as mudanças laborais contínuas, a importância de analisar e compreender o mundo numa perspetiva multidisciplinar é fundamental. As soluções mais eficazes para os problemas são muitas vezes encontradas por meio desta capacidade de aliar áreas distintas, encontrando-se formas criativas de resolução de dilemas e problemáticas de modo eficiente através dessa aliança a que chamamos de interdisciplinaridade. A Psicologia Económica e a Economia Comportamental são exemplos desta interdisciplinaridade. Mas será que esta aliança faz sentido?

De forma muito sintética, podemos afirmar que a Economia é a ciência das decisões humanas. Por outro lado, e também numa definição muito simples, podemos afirmar que a Psicologia é a ciência que estuda a mente e o comportamento humano. Encarada tanto como ciência como prática profissional, a Psicologia possibilita investigar o ser humano nas suas várias dimensões comportamentais, na busca do porquê dos seus comportamentos e em encontrar estratégias para promover aqueles considerados venturosos e, simultaneamente, para prevenir os comportamentos considerados desviantes. Sendo uma ciência cujo objeto de estudo é a pessoa humana, é, por esta razão, uma ciência que pode contribuir para o reconhecimento das razões que levam cada um de nós a tomar determinadas decisões com relevância económica. Nesta linha de pensamento e ao refletir na ideia de Amartya Sen, Nobel de Economia em 1998, segundo a qual «O crescimento económico sem investimento no desenvolvimento humano é insustentável – e antiético», podemos observar a simbiose entre Psicologia e Economia, e a importância desta relação bidirecional que poderá trazer benefícios mútuos a ambas as áreas científicas.

Na génese das relações interdisciplinares entre a Economia e a Psicologia, Herbert Simon, Nobel de Economia em 1978, propôs na década de 1950 aquilo que podemos considerar uma influência da Psicologia sobre a Economia no sentido de tornar esta mais realista e de acordo com a forma como os seres humanos efetivamente tomam decisões, nomeadamente propondo uma metodologia alternativa à do agente perfeitamente racional, a metodologia consensual na Microeconomia, pelo menos naquela época. Numa verdadeira inovação na abordagem económica, Herbert Simon verificou que a racionalidade humana é limitada por um conjunto de restrições, quer ambientais, quer cognitivas, que impedem que o indivíduo tenha o comportamento otimizador. Constatou, portanto, que os seres humanos desenvolvem modelos mentais que simplificam e categorizam as informações recebidas e os estímulos externos.

Para os menos habituados ao entendimento da Economia enquanto ciência, cabe ressaltar que a questão da racionalidade não é propriamente um tema secundário para a Economia, como apontado por Maurice Godelier, Antropólogo Estruturalista: «a questão da racionalidade económica é a própria questão epistemológica da Economia Política como ciência».

A racionalidade não é também um tema novo na Psicologia. Na verdade, a dicotomia entre racional e irracional já se arrasta desde os seus primórdios, numa ampla tentativa de compreender o ser humano na sua complexidade. Nesta discussão sobre “razão” e invariavelmente sobre tomada de decisão, surge uma figura de renome o português e neurocientista António Damásio que afirma que esta nossa capacidade de decidir não é estritamente racional, mas também é emocional. Para Damásio «Somos máquinas de sentimentos que pensam e não máquinas racionais que se emocionam». Não tomamos decisões apenas pelo valor dos números, tomamos decisões que aliam os números e o “coração”.

Esta junção entre “razão” e “emoção” leva-nos a pensar na importância dos contributos de ambas as áreas para a compreensão do Ser Humano, dos seus comportamentos e da sua capacidade de tomar decisões, esta última uma constante da vida. Por isso, ao invés de pensar na Economia e na Psicologia como opostos, podemos pensar nestas áreas científicas como duas peças de um mesmo “jogo”, numa interdisciplinaridade coerente.

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