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Economia russa pressiona Putin a um entendimento para o cessar-fogo

Depois de inesperadamente se manter à tona – crescendo até acima da União Europeia – a economia de guerra russa dá mostras de estar a desmoronar. A inflação, a falta de mão de obra e as taxas de juro estão a minar a saúde dos principais indicadores.
Vladimir Putin
Russian President Vladimir Putin speaks during a meeting with the president of the Central African Republic during the latter’s visit to Moscow, Russia, 16 January 2025.  EPA/EVGENIA NOVOZHENINA / POOL
23 Janeiro 2025, 09h18

O presidente russo, Vladimir Putin, está cada vez mais preocupado com as distorções na economia de guerra, no momento em que Donald Trump pressiona pelo fim do conflito na Ucrânia. A economia da Rússia, impulsionada pelas exportações de petróleo, gás e minerais, cresceu de forma robusta nos últimos dois anos, apesar das sanções ocidentais impostas após a invasão da Ucrânia em 2022, mas a atividade doméstica ficou sob pressão nos últimos meses dada a escassez de mão de obra e as altas taxas de juros introduzidas para combater a inflação. O resultado imediato é que a fatura da guerra cresceu exponencialmente. O novo quadro económico, refere uma análise da Reuters, levou uma parte da elite russa a admitir que um acordo negociado para a guerra é desejável.

O novo presidente norte-americano prometeu resolver rapidamente o conflito na Ucrânia, e esta semana pressionou Moscovo exibindo a possibilidade de novas sanções e mais tarifas, a menos que Putin negoceie – apesar de oficialmente o Kremlin dizer que, até agora, não recebeu quaisquer propostas específicas para negociações.

“A Rússia, é claro, está economicamente interessada em negociar um fim diplomático para o conflito”, disse Oleg Vyugin, ex-vice-presidente do Banco Central da Rússia, em entrevista, citando o risco de crescentes distorções económicas. Putin está pronto para discutir opções de cessar-fogo com Trump, mas a opoção em aberto é que os ganhos territoriais da Rússia na Ucrânia devem ser aceitos – para além, evidentemente, da obrigação de a Ucrânia se manter fora do perímetro da NATO.

Trump “está focado em acabar com esta guerra brutal”, envolvendo uma ampla gama de partes interessadas, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Brian Hughes, em resposta à Reuters. Nas últimas semanas, os conselheiros de Trump voltaram atrás na ostentação de que a guerra de três anos poderia ser resolvida em pouco tempo.

Recorde-se que, poucos dias antes da posse de Trump, o governo cessante de Joe Biden impôs o maior pacote de sanções até agora lançado para atingir as receitas do petróleo e gás da Rússia, uma medida que o conselheiro de segurança nacional de Biden, Jake Sullivan, disseque daria a Trump vantagem em qualquer negociação. Oficialmente, Putin disse que a Rússia pode manter a guerra o tempo que for preciso – o que é materialmente impossível – e que Moscovo nunca se curvará diante de outra potência sobre os seus interesses nacionais.

A economia de 2,2 biliões de dólares da Rússia mostrou até recentemente uma notável resistência e Putin elogiou as principais autoridades económicas e as empresas por contornarem as sanções ocidentais. Após a contração em 2022, o PIB da Rússia cresceu mais rapidamente que o a União Europeia e os Estados Unidos em 2023 e 2024. Este ano, no entanto, o banco central e o FMI preveem um crescimento abaixo de 1,5%, embora o governo projete uma perspetiva um pouco mais otimista.

A inflação passou os 10% apesar de o banco central ter aumentado a taxa de juros de referência para 21% em outubro. “Há algumas questões, como inflação, um certo superaquecimento da economia”, disse Putin em 19 de dezembro. “O governo e o banco central estão encarregados de reduzir o ritmo”, disse.

Putin acredita que os principais objetivos de guerra já foram alcançados, incluindo o controlo da terra que liga a Rússia continental à Crimeia e o enfraquecimento das forças armadas da Ucrânia. É essa, pelo menos, a perceção. O presidente russo reconhece a pressão que a guerra está a colocar na economia.

A Rússia aumentou os gastos com defesa para uma alta pós-soviética de 6,3% do PIB este ano, respondendo por um terço das despesas orçamentais, num quadro em que a escassez de mão de obra e a inflação fez os salários disparar. Em paralelo, o governo tem tentado encontrar maiores receitas tributárias para reduzir o défice fiscal – o que induziu uma nova pressão sobre os balanços tanto das empresas como dos bancos.

A frustração de Putin ficou evidente, refere a Reuters, numa reunião do Kremlin com líderes empresariais na noite de 16 de dezembro, durante a qual Putin se mostrou visivelmente descontente depois de ouvir que o investimento privado está a ser cortado por causa do custo do crédito Alguns dos empresários mais poderosos da Rússia, incluindo o CEO da Rosneft, Igor Sechin, o CEO da Rostec, Sergei Chemezov, o magnata do alumínio Oleg Deripaska e Alexei Mordashov, o maior acionista da siderúrgica Severstal, criticaram publicamente as altas taxas de juros. Putin pediu uma “taxa equilibrada” e o banco central manteve a taxa em 21%, apesar das expectativas do mercado de que aumentaria a referência em 200 pontos-base.

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