Segundo dados recentes do INE sobre a Conta Satélite do Turismo, este setor explicou 48% do crescimento económico em 2023 (contributo de 1,1 pontos percentuais, p.p., para a variação real do PIB de 2,3%), a refletir um dinamismo do setor muito acima do resto da economia e um peso expressivo, que se acentuou.

De facto, o VAB Direto do turismo aumentou 16,0% em 2023, bastante acima da subida de 10,1% no VAB da economia – o VAB distingue-se do PIB por expurgar os impostos líquidos de subsídios sobre os produtos; Direto significa que se exclui o efeito indireto do turismo nos demais setores.

O peso desse VAB Direto do turismo no VAB da economia subiu para 9,1% em 2023, após 8,6% em 2022, 8,1% em 2019 (antes da pandemia, que provocou fortes oscilações do indicador em 2020 e 2021) e 6,9% em 2016, o primeiro ano da série, o que traduz um incremento de 2,2 p.p. entre 2016 e 2023. Em contraste, registou-se um acréscimo marginal de 0,2 p.p. no peso da indústria transformadora e extrativa (de 14,3% em 2016 para 14,5% em 2022, o último ano com dados) e uma queda de 1,1 p.p. na indústria, energia, água e saneamento (de 18,2% para 17,1%), com origem na energia (de 2,8% para 1,7%) e, em menor medida, na água e saneamento (de 1,1% para 0,9%), áreas que também se inserem na indústria moderna, no âmbito da transição verde.

O peso do VAB Total (Direto e Indireto) do turismo no VAB da economia ascendeu a 12,4% (após 11,8%, 11,6% e 9,5% nos anos anteriores que foram usados acima para comparação), enquanto o peso do PIB total do turismo no PIB da economia (incluindo, assim, o efeito nos impostos indiretos líquidos), atingiu um valor recorde de 12,7% (após 12,1%, 11,8% e 9,7%), que resume a expressão do setor na economia.

Estes dados confirmam que a dinâmica de crescimento económico está bastante dependente do turismo, um setor com baixa produtividade relativa e uma procura muito volátil. A desejada paz na Ucrânia poderá redirecionar fluxos de turismo para o centro e leste da Europa e é também óbvio que, com os padrões atuais, estamos a atingir limites no crescimento da oferta turística, pela pressão sobre as infraestruturas (incluindo aeroportuárias), serviços públicos (saúde em particular), mercado imobiliário e ambiente.

É, por isso, urgente a diversificação da economia portuguesa para setores de maior produtividade, com realce para a reindustrialização, que teve menos medidas no recente Pacote Económico do que o turismo, onde precisamos de evoluir em produtividade, valor acrescentado e maior homogeneidade no território.