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Economias perfeitas não existem, mas…

Para caminharmos em direção a uma economia mais próxima da perfeição, temos de adotar uma mentalidade mais ambiciosa, mais exigente, e menos invejosa.
9 Dezembro 2019, 07h15

É possível uma economia crescer e simultaneamente ser ambientalmente sustentável, inclusiva e resiliente. Repito: sim, é possível!

É possível, mas exige muito estudo, muito trabalho, e, sobretudo, lideranças visionárias. Tudo pode começar com uma mentalidade de abundância, não invejosa, em que se procuram escolhas do tipo ganha-ganha, ou seja, em que as escolhas coletivas permitem um resultado em que todos ganham. Esta é uma mentalidade exigente em que a abordagem ao crescimento económico é holístico e em que o longo prazo é o horizonte temporal predominante.

Porquê tão exigente esta mentalidade? Porque a visão holística do crescimento não cede a interesses setoriais que prejudiquem o bem comum, porque quando se privilegia o longo prazo não se limitam as decisões por visões estreitas nem a objetivos imediatistas, porque a ambição não se deixa vencer pelo conformismo, porque não se aceita o facilitismo de confundir igualdade de oportunidades com criação de dependências sociais.

Numa sociedade avançada há entidades, governamentais, autárquicas ou privadas, que estão constantemente estudando e procurando novas possibilidades do tipo ganha-ganha. Vamos pegar num exemplo para não ficarmos com a ideia de que isto é tudo utópico.

Imaginemos um meio urbano, uma cidade média. Plantar mais árvores de fruto e hortas à volta das casas reduz a poluição nos cursos de água e os custos de tratamento da água, diminui os custos e o uso de combustíveis no armazenamento e transporte de alimentos frescos, aumenta a qualidade nutricional dos alimentos quando chegam ao prato. Para quem encarar a atividade de cuidar do pomar e da horta como um passatempo, pode ajudar na saúde enquanto atividade física e enquanto promotor de saúde mental. Para quem encarar doutra forma, ou tiver outras prioridades, ou acha que não tem jeito, pode delegar esse tipo de tarefas e, assim, criar emprego.

Analisemos a situação sob diversos pontos de vista. A economia local, regional ou nacional pode substituir a importação de produtos frescos. O ambiente fica mais limpo. Gera-se emprego. Há uma contribuição para diminuir os custos com a saúde. A economia cresce, resiste a crises das economias exportadoras desses bens, é ambientalmente sustentável e gera-se emprego. Ganhamos todos!

Este é um mero exemplo. Seremos capazes, individual e coletivamente, de imaginar mais situações como esta? Qual a abertura e a preparação dos governos e das autarquias para estimular este tipo de medidas? Os empreendedores têm mentalidade para procurar este tipo de soluções? Este exemplo é pequenino. Poderemos imaginar medidas ganha-ganha de escala mundial e tecnologicamente avançadas, como as relativas à exploração do espaço? Ou outras exigentes do ponto de vista diplomático, como a procura de soluções que previnam o surgimento de conflitos armados?

Para caminharmos em direção a uma economia mais próxima da perfeição, temos de adotar uma mentalidade mais ambiciosa, mais exigente, e menos invejosa. Temos de procurar oportunidades que promovam o bem-estar generalizado, que resultem em ganhos a longo prazo e não apenas a curto prazo, e que promovam a igualdade de oportunidades de modo a que todos os marginalizados da sociedade tenham a oportunidade de se inserirem no sistema económico. Temos de passar a encarar a sustentabilidade ambiental como uma autoexigência e uma fonte de oportunidades, e não como uma mera restrição às nossas decisões e à nossa liberdade.

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