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Medidas de poupança de energia e melhores práticas no setor industrial português

A indústria tem apostado nas medidas de eficiência energética para redução de consumos e emissões de CO2, mas o setor tem agora novas oportunidades para aumentar o desempenho energético, hídrico e de circularidade de recursos.
12 Dezembro 2018, 10h00

De acordo com os dados mais recentes do Observatório de Energia, o setor da indústria é o segundo maior consumidor de energia final em Portugal.

A redução dos consumos de energia e consequentes emissões, seja na indústria ou em qualquer outra atividade, tem sido uma preocupação permanente e cada vez mais relevante nos dias que correm.

A ADENE – Agência para a Energia é responsável pela gestão operacional do portal do Sistema de Gestão dos Consumos Intensivos de Energia (SGCIE), regulado pelo Decreto-Lei nº 71/2008 de 15 de abril. Este tem como objetivo promover a eficiência energética e monitorizar os consumos energéticos de instalações consumidoras intensivas de energia e, atualmente, encontram-se registadas no portal 1193 instalações.

O SGCIE estabelece metas de redução dos consumos de energia e de emissões de CO2, sendo obrigatório para todas as instalações cujo consumo anual é igual ou superior a 500 tep (toneladas equivalentes petróleo), prevendo que as mesmas realizem auditorias energéticas onde se verificam as condições de utilização de energia e promovam o aumento da eficiência energética, incluindo a utilização de fontes de energia renováveis.

Para alcançar estas metas, as instalações do setor industrial português têm vindo a implementar medidas de redução de consumos que se podem distinguir em dois grupos:

Medidas específicas setores, como os da Alimentação, Bebidas e Tabaco, Cerâmica, Cimento, Madeira e Artigos de madeira, Metalo-eletro-mecânica, Metalurgia e Fundição, Papel, Químicos, Plásticos e Borracha, Vestuário, Calçado e Curtumes, Siderurgia, Têxtil e Vidro;

Medidas transversais à indústria, com aplicabilidade nos diversos setores descritos, relacionadas com a iluminação, produção de calor e frio, sistemas accionados por motores elétricos, eficiência do processo industrial e outras.

Independentemente do seu setor ou âmbito de atividade, a maioria das instalações escolhe implementar medidas transversais, representando cerca de 90% das economias de energia previstas nos Planos de Racionalização dos Consumos de Energia apresentados pelas instalações.

De facto, estas medidas são as que permitem uma maior redução do consumo energético e das emissões de CO2, apresentando um menor período de retorno do investimento feito pelas instalações. O investimento que as instalações fazem, por exemplo, na substituição de tecnologias convencionais por tecnologias de iluminação mais eficiente, como é a tecnologia LED, é amortizado em pouco mais de três anos.

De entre estas medidas transversais salienta-se a formação e sensibilização de recursos humanos, a aplicação de isolamento térmico, a monitorização e controlo dos consumos, a eficiência energética em sistemas de ventilação, a recuperação de calor e o tratamento de efluentes, que apresentam retorno de investimento bastantes atrativos.

As medidas mais comuns, respetivo impacto, custo e retorno do investimento, estimado a partir das auditorias resumem-se na tabela que se segue.

Fonte: Relatório Síntese do SGCIE de outubro de 2018 (ADENE).

Para além das medidas diretamente associadas à eficiência energética, existem outras medidas que podem levar a indústria portuguesa mais além, nomeadamente as medidas associadas com a transição de uma Economia Linear para uma Economia Circular.

A Economia Circular é definida pelo Parlamento Europeu como: ”um modelo de produção e de consumo que envolve a partilha, a reutilização, a reparação e a reciclagem de materiais e produtos existentes, alargando o ciclo de vida dos mesmos. Na prática, a Economia Circular implica a redução do desperdício ao mínimo (…) e contrasta com o modelo económico linear baseado no princípio “produz-utiliza-deita fora”.”

Nesta ótica, e de modo a introduzir os princípios da Economia Circular no setor industrial português, a ADENE – Agência para a Energia, em parceria com o ISA – Instituto Superior de Agronomia e com o apoio do Fundo Ambiental, encontra-se a desenvolver um projeto piloto designado «CERTAGRI» que visa a implementação do «Rótulo de Produto Circular» no setor agroalimentar.

Através do Rótulo de Produto Circular, o consumidor final tem conhecimento do desempenho energético, hídrico e de circularidade de recursos ao longo da cadeia de valor onde se insere o produto. Assim, o consumidor saberá quão eficiente foi o processo de produção de determinado produto, ao nível da utilização dos recursos na sua fase agrícola, de transformação na indústria e ao longo da sua distribuição e transporte.

Para as empresas, o sistema de rotulagem inclui auditorias energéticas e hídricas que são acompanhadas de propostas de medidas de melhoria e possibilitam a redução do uso ou reaproveitamento da água, energia e materiais, abrindo caminho para o investimento em novos equipamentos mais eficientes, em novas práticas e, pode, inclusivamente, contribuir para a criação de novos produtos ou simbioses e relações entre empresas e indústrias a partir dos resíduos e subprodutos por si gerados.

O sistema permite caminhar para a circularidade, para que haja um aumento da eficiência ao longo de toda a cadeia de produção, ao mesmo tempo que proporciona aos consumidores a possibilidade de produtos ecologicamente eficientes, socialmente justos e economicamente viáveis.

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