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Edição ‘online’ da Web Summit com número de participantes recorde, mas sem turismo

Na Web Summit de 2016 foram consumidos mais de 97 mil pastéis de nata. Em 2017, a taxa de ocupação em Lisboa atingiu os 92%, tendo ficado muito próxima dos 100% no ano seguinte. No ano passado, só no recinto da FIL, foram feitas 55 mil compras. Impactos que a edição de 2020 não vai ter na economia portuguesa por causa do novo coronavírus.
  • Cody Glenn/Web Summit
2 Dezembro 2020, 07h35

Recuemos sensivelmente 13 meses no tempo, até ao dia 8 de novembro de 2019, quatro dias depois de ter acabado a quarta edição da Web Summit em solo português. Nesse mundo pré-pandemia, a primeira semana de novembro foi de ‘época alta’ para a hotelaria de Lisboa porque a capital recebeu 70.469 participantes de 163 países, naquele que é conhecido como o maior evento de tecnologia do mundo, e que foi um número recorde.

Nesse dia 8 de novembro de 2019, a Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) estimou que os visitantes, que incluíram mais de 2.500 jornalistas, 1.206 oradores e 1221 investidores, tiveram um impacto positivo de 64,4 milhões de euros ao longo dos quatro dias do evento. Foi esse o montante que gastaram entre os dias 2 e 4 de novembro de 2019, gastando cerca de 125 euros por dia só em alojamento.

Retrocedamos mais um ano, até 3 de outubro de 2018. Com toda a pompa e circunstância, o ainda primeiro ministro, o então ministro da economia, Manuel Caldeira Cabral, o ainda presidente da câmara municipal de Lisboa e o fundador da Web Summit, Paddy Cosgrave, anunciavam numa vazia Altice Arena o acordo de uma década: Lisboa seria o palco da maior feira tecnológica do mundo até 2028.

Recupero as palavras que escrevi na altura: “o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, presente na cerimónia, afirmou que o investimento público ascende a 11 milhões de euros por ano e que só a receita fiscal angariada com o evento, tendo em conta os dados do ano passado, é suficiente para pagar o investimento feito”.

Em troca, o Governo, citando dados da AHRESP, dizia que a Web Summit de 2017 gerou um impacto de pelo menos 300 milhões de euros, considerando apenas os serviços diretamente relacionados, como a hotelaria ou os transportes.

Ainda em 2018, em que chegaram a Lisboa cerca de 70 mil participantes por causa da Web Summit, a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) estimava que os hotéis da capital atingissem uma ocupação “muito próxima” dos 100% entre os dias 5 e 8 de novembro. A AHP dizia que, com base num inquérito que elaborara, na edição anterior (de 2017), a taxa de ocupação hoteleira em Lisboa atingira os 92%, com um preço médio de 141 euros.

Estes números, que deverão ter ultrapassado os da primeira edição, realizada em 2016, ano em que a Web Summit atraiu para Lisboa 50 mil participantes de 166 países, não serão atingidos em 2020.

Este ano, a Web Summit, que se realiza esta semana, a partir de dia 3 dezembro, continua com a chancela made in Lisbon, mas o evento será todo ele online. “Lisboa continua a ser a casa da Web Summit, mas com o crescimento de infecções e surtos de Covid-19 na Europa, temos de pensar no que é melhor para os portugueses e para os nossos participantes”, disse Paddy Cosgrave, a 8 de outubro deste ano, para justificar o formado virtual de mais uma edição da conferência tecnológica (aparentemente) em Lisboa.

Os números avançados pela organização demonstram que a Web Summit online vai ter a maior participação de sempre. Ao todo, a Web Summit antecipa mais de 100 mil participantes, o que representa um aumento de 42% face a 2019, em números redondos. O número de startups também renovará máximos históricos. Serão mais de 2.500, acima das 2.150 que marcaram presença em 2019.

Mas os recordes ficam-se por aqui. Em 2020, a edição da Web Summit terá a menor representatividade mundial, com os participantes a virem de pouco mais de 150 países. Terá ainda o menor de número de investidores de sempre, menos de 1.250. Terá ainda 800 oradores, apenas acima da edição de 2016.

Apesar do número recorde de participantes, a faturação da hotelaria e serviços conexos deverá ser próxima de zero, o que deverá ser uma característica da edição da Web Summit deste annus horribilis. Mas não será a única.

No ano passado, a SIBS revelou que, só no recinto da Feira Internacional de Lisboa — palco tradicional da Web Summit pré-Covid-19 —, foram efetuadas 55,1 mil compras, tendo os participantes consumido, diariamente, 13,8 euros, em média. E recorreram ao metro de Lisboa mais de 5,1 milhões de passageiros, o que representou um acréscimo de 10,9% face a edição de 2018.

Na primeira edição da Web Summit, a organização compilou uns números que traduziram o impacto da feira tecnológica em Lisboa. Além dos que assistiram ao evento in loco, mais de quatro milhões ligaram-se ao Facebook em directo e foram enviadas quase duas milhões de mensagens na aplicação da Web Summit. Mas, mais marcante, porque espelha o contraste do mundo pré-pandemia com o mundo atual, foram consumidos 97 mil pastéis de nata.

Este ano, o número que vai ficar associado à edição de 2020 da Web Summit será o “19”, do Sars-Cov-2, também conhecido por Covid-19.

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