A CriteriaCaixa – o maior acionista da energética espanhola Naturgy, com 26,7% – voltou a explorar a possibilidade de uma fusão com a EDP, no atual contexto de queda dos títulos e de insatisfação com a gestão de Miguel Stilwell d’Andrade.
O Jornal Económico apurou que o grupo Criteria/Naturgy fez contactos com acionistas. Nomeadamente com a China Three Gorges (CTG), que detém 21,8% do capital da EDP e é a sua maior acionista. Tudo para avaliar a abertura para uma operação de aquisição da empresa portuguesa.
Os representantes da China Three Gorges (CTG) vieram a Lisboa para a assembleia-geral da EDP que se realizou esta quinta-feira. Para além do CEO da CTG Europa, o espanhol Ignacio Herrero Ruiz, veio também o presidente da CTG.
Fontes com conhecimento do processo dizem que o Governo português também terá sido abordado informalmente, mas terá dito que a aquisição da EDP é um tema dos acionistas que são quem tem de votar, em assembleia-geral, o fim da blindagem dos votos. A EDP tem os votos blindados a 25% (o que aliás inviabilizou a OPA da CTG em 2018). Ora, a alteração dos estatutos de forma a remover qualquer limite à contagem de votos emitidos por um acionista, precisa uma maioria qualificada de dois terços dos votos (66,6%) emitidos na AG.
Contactada a CritériaCaixa disse que não fazia comentários ao assunto. Já a Naturgy disse que “da nossa parte desmentimos este tema”. Por sua vez, a EDPrejeitou comentar. Contactada, também a China Three Gorges não quis comentar.
Uma hipotética OPA à EDP ainda não está decidida. Aliás, dentro da EDP discute-se mais o cenário de fazer uma oferta para retirar a EDPRenováveis de bolsa, protegendo a EDPR de um momento turbulento. O que pode exigir capital para lá da esperada troca de ações.
O interesse na EDP por parte dos espanhóis não é de agora. O jornal espanhol “Cinco Días” noticiou em outubro do ano passado, que o CriteriaCaixa – o maior acionista da Naturgy – estava a explorar a possibilidade de uma fusão com uma empresa de “utilities” europeia e ofereceu, nesse Verão, “uma integração empresarial ao grupo português EDP”. As fontes do “Cinco Días” descreviam contactos em Lisboa, em que responsáveis da EDP “ouviram com atenção” – mas a proposta não avançou.
Na mesma altura era notícia que a elétrica da Escócia, a SSE, rejeitou uma proposta de fusão da EDP, depois de as duas empresas terem discutido o assunto, avançou a “Reuters”.
O momento de fragilidade da EDP e da EDP Renováveis é propício a que uma operação de compra da EDP volte a estar em cima da mesa.
Desde logo o facto de a administração da EDP não ter um plano estratégico a longo prazo. o que pode ser visto como um sinal de que poderá haver uma operação no horizonte. O CEO da EDP admitiu que “o que acontecerá após 2026, não sabemos”, prometendo uma “nova atualização” sobre a estratégia da empresa além deste horizonte temporal, só “depois do Verão, e com projeções mais a longo prazo”.
Depois, a ajudar a uma aquisição está a queda das cotações. No fim de março, a variação homóloga da cotação das ações da EDP Renováveis foi muito negativa (-38,5%) e as ações da EDP registavam uma queda anual de 13,8% no fim de março (face a período homólogo).
Por outro lado, foi noticiado recentemente que o índice de confiança dos trabalhadores na administração da EDP deteriorou-se substancialmente em 2024, de acordo com dados do mais recente inquérito interno, respondido por 90% dos trabalhadores.
A nova administração da Casa Branca foi o pretexto para a EDP adiar projetos de energia eólica “offshore” nos EUA, por quatro anos, e para explicar o registo de imparidades que se refletiram negativamente nas contas de 2024, com os resultados a caírem 16% para 801 milhões de euros. Soma-se a decisão de abandonar os projetos renováveis na Colômbia, e uma nova revisão em baixa do investimento, de 17 para 14 mil milhões de euros entre 2024 e 2026 (-18%), justificado com a travagem a fundo na construção de nova capacidade renovável.
A EDP Renováveis está particularmente debaixo de fogo: caiu 30% desde o início do ano. E fechou 2024 com prejuízos de 556 milhões de euros pela operação falhada na Colômbia.
No entanto, para além de ter de convencer a China Three Gorges, a Criteria/Naturgy ainda teria de convencer outros pesos-pesados da estrutura acionista – a norte-americana Blackrock (6,85%), os espanhóis da Oppidum Capital (6,82%) e os norugueses do Norges Bank (5,63%).
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