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EDP prevê atingir novamente lucros de 1.300 milhões em 2024

Barragens com reservatórios cheios prometem um bom ano de 2024, com efeito da EDP Brasil totalmente incorporada a surtir pleno efeito. Liquidez atinge os 10 mil milhões, com mais de três mil milhões em ‘cash’.
1º EDP: A empresa liderada por Miguel Stilwell mantém a liderança das marcas valiosas, com um valor de mercado de 2,4 mil milhões de euros, apesar de ter desvalorizado 4%.
4 Março 2024, 07h30

O grupo EDP prevê atingir novamente lucros recorrentes de 1.300 milhões de euros em 2024, em linha com os registados em 2023. O lucro recorrente da EDP atingiu um máximo em 2023 (1.290 milhões de euros +48%) sendo o valor mais alto da série histórica disponível que recua até 2015.

Há vários segmentos a contribuir para esta visão da elétrica, incluindo o elevado níveis dos reservatórios das barragens em Portugal e Espanha, com a possibilidade de turbinar toda essa água, apesar de a empresa não estar à espera de um ano com chuva acima da média.

“O ano de 2024 está a começar a tomar forma de uma boa maneira”, disse Miguel Stilwell de Andrade numa chamada com analistas na sexta-feira. “Temos elevados níveis nos reservatórios de capacidade hídrica”. Os reservatórios ibéricos estão a 85% da sua capacidade, mais 20 pontos acima da média histórica.

“O nosso modelo de negócio é bastante resiliente”, apontando que 85% da capacidade para 2024 da EDP Renováveis já está em construção. “A EDPR está locked in“, garantiu, referindo-se ao cumprimento das metas pela empresa.

Por outro lado, destacou a resiliência das redes reguladas de electricidade que contribuem com 30% para o EBITDA. E também salientou o controlo da EDP Brasil, permitindo à empresa absorver 100% dos lucros, esperando um impacto de 120 milhões de euros nas contas este ano.

O caminho de realizar novos projetos não é fácil, admitiu. “Existem problemas com a cadeia de abastecimento e com o licenciamento, mas estamos a ver boas oportunidades”.

Uma das questões é a dívida líquida que deverá atingir os 16-16,5 mil milhões no final de 2024, conforme sinalizou o administrador financeiro Rui Teixeira durante a call. No final de 2022, a dívida líquida estava nos 13,2 mil milhões de euros (3,4 vezes dívída líquida/EBITDA). No no final de 2023, subiu para 15,3 mil milhões de euros (3,3 vezes dívida/EBITDA).

No caso da EDP Brasil, Miguel Stilwell apontou para as “oportunidades” no desenvolvimento de redes de distribuição e de transporte, assim como na energia hídrica, que “não tem volatilidade”. “Estes são factores essenciais para o crescimento no Brasil”.

Em termos de liquidez, a companhia tem dinheiro em carteira. 3,4 mil milhões em ‘cash’ e 7,1 mil milhões em linhas crédito. Total: 10,5 mil milhões de euros.

Um dos pontos fortes em 2023 foi a estratégia de rotação de ativos, que permitiu um encaixe de 460 milhões de euros, com vários ativos vendidos.

Mas para este ano já há bons sinais. Dois negócios fechados: venda de um ativo solar nos EUA, avaliado em 400 milhões de dólares; a venda de uma rede de transporte de 743 km no Brasil, avaliada em 482 milhões de euros. Outros dois negócios foram assinados: venda de um ativo eólico no Canadá, avaliado em 600 milhões de dólares canadianos; venda de uma fatia no projeto offshore na Escócia, Moray East.

Para este ano, a companhia espera construir quatro gigawatts através da EDP Renováveis, um recorde como o Jornal Económico já tinha assinalado, em várias geografias, EUA, União Europeia, Brasil, México e Canadá, e outros países: 85% da capacidade já está em construção e 100% dos projetos já estão garantidos.

A empresa diz que garantiu 10 gigawatts de capacidade em 2022-23 e que esta vai ser construída até 2026, com 40% a entrar em operação este ano, 25% em 2025 e 10% em 2026, com os restantes 25% a terem entrado em operação no ano passado.

Lucro da EDP atinge máximo e dividendo sobe para valor recorde

O lucro recorrente da EDP atingiu um máximo em 2023 (1.290 milhões de euros +48%) sendo o valor mais alto da série histórica disponível que recua até 2015.

Já o lucro não-recorrente disparou 40%, para 952 milhões de euros, à boleia da produção hídrica em Portugal, o impacto da incorporação total da EDP Brasil e os ganhos das vendas de ativos renováveis.

Apesar nos lucros não-recorrentes estão os 310 milhões de euros de perdas associadas a imparidades na central a carvão de Pecém, nos projetos eólicos na Colômbia e nas centrais de ciclo combinado em Portugal.

O conselho de administração vai propor aos acionistas na assembleia-geral de abril o aumento do dividendo de 19 cêntimos para 19,5 cêntimos, o valor mais alto de sempre, refletindo um pay-out de 63%.

EDP Renováveis. Goldman Sachs sobe recomendação para ‘comprar’

O Goldman Sachs subiu a recomendação da EDP Renováveis para ‘comprar’, com o novo preço-alvo a descer dos 18,5 para os 17,5 euros. A cotada negoceia hoje acima dos 13 euros, valorizando mais de 4%. A subida acontece na mesma semana em que a energética apresentou uma quebra de 50% nos resultados.

“Apesar do momento de fracos ganhos”, o banco norte-americano aponta três razões para a subida: (i) “acreditamos que o novo e desapontante guidance para este ano tem expectativas de ser um reset, para ir além de 2024; (ii) “a maioria dos downgrades  de 2024 (devido aos novos guidances) refletem fatores temporários que devem normalizar nos próximos anos; (iii) a ação já negoceia abaixo da nossa valorização dos ativos existentes, as ações estão com um pricing negativo para o crescimento futuro”.
“A maioria dos ventos adversos de 2024 são temporários e devem normalizar. Na chamada com analistas recentes, a gestão providenciou um guidance para 2024 que foi desapontante. Especificamente, a EDPR espera um “moderado crescimento anual” em termos de EBITDA, implicando 1.900-2.000 milhões, abaixo do consenso da Bloomberg de quase 2.200 milhões. Apesar disso, acreditamos que a maioria dos ventos adversos de 2024 (load factors nos EUA, atrasos na capacidade, perdas na Colômbia, impostos no leste europeu de 400 milhões de euros) são temporários. E estes temas devem normalizar em 2025-27, com os lucros subjacentes a serem melhores do que o percecionado”.

“As ações negoceiam abaixo do valor dos ativos existentes”, destacam. “Isto fica acima do preço atual da ação, implicando um potencial de queda limitado para a ação. O reajustar do Capex pode ser uma necessidade, e seria no sentido positivo (…) e acreditamos que seria bem recebido pelos investidores”.

“Limitamos as adições de capacidade anuais no médio prazo para mais de quatro gigawatts por ano, 20% abaixo do guidance da empresa”, rematam.

El Niño pressiona EDP Renováveis que mantém foco nos quatro gigawatts para este ano

Quando as águas do Pacífico aquecem, o vento sopra menos nos Estados Unidos e as contas da EDP Renováveis ‘arrefecem’. É uma formulação simplista do que aconteceu em 2023 às contas da energética, mas o El Niño teve impacto em 2023 e deverá continuar a ter nos primeiros trimestres deste ano.

Este fenómeno oceano-atmosférico consiste no aquecimento excessivo das águas do Pacífico, o que leva a que a corrente de jato (um vento) que sopra deste oceano provocam mudanças climatéricas nos Estados Unidos: o norte fica mais seco e quente, o sul com mais precipitação e até inundações. Pode durar entre nove-12 meses e ocorre a cada dois-a-sete anos. Como curiosidade, o nome foi dado pelos pescadores da América do Sul: El Niño de Navidad (o menino do Natal), porque o seu pico tem lugar em dezembro.

Foi o que aconteceu com a EDP Renováveis: o impacto do El Niño levou o vento a soprar menos nos Estados Unidos em 2023 com um impacto negativo de 178 milhões nas suas contas.

“O El Niño vai continuar um ou dois trimestres, mas não existe evidência estatística de que vai manter-se o resto do ano”, disse o presidente-executivo da EDP Renováveis na quarta-feira numa chamada com analistas, onde houve muitas questões sobre o tema.

Em 2023, a companhia produziu menos eletricidade nos EUA (-9%), com o load factor a atingir os 30% nos EUA, menos três pontos face a período homólogo.

Os lucros da EDP Renováveis deslizaram 50% para 616 milhões de euros em 2023, com o preço médio de venda de eletricidade mais baixo (-6%) a impactar negativamente as contas, apesar do seu efeito ter sido parcialmente compensado por um aumento na produção (+4%) e por mais capacidade em operação (+8%), anunciou a empresa na quarta-feira.

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