A EDP Renováveis afundou hoje mais de 5% para 8,55 euros na bolsa de Lisboa, sendo a cotada que mais tombou durante a sessão do PSI que fechou ligeiramente acima da linha d’água.
A queda acontece no dia em que a câmara baixa do Congresso dos EUA aprovou alterações mais agressivas do que o esperado para o setor das energias renováveis.
Os créditos fiscais começam a terminar em 2029, mas na proposta inicial estava previsto até 2032. Agora, os projetos que queiram ter direito a este desconto fiscal têm de arrancar 60 dias após a lei entrar em vigor.
A legislação republicana é “pior do que o esperado” para as energias renováveis, segundo uma nota da Jefferies hoje divulgada, com os analistas a acreditar que a lei aprovada pela Câmara dos Representantes venha a sofrer alterações no Senado.
A “Bloomberg” dá conta que vários senadores republicanos já criticaram partes da legislação aprovada pela câmara baixa, com alguns a defenderem períodos de transição mais longos, ao contrário da legislação hoje aprovada.
“Esta legislação é pior do que as pessoas esperavam, puxa o tapete dos projetos que dependem destes incentivos”, disse ao “Guardian” Robbie Orvis da think-tank Energy Innovation, prevendo que estão em risco 500 mil milhões de dólares de investimentos, uma boa parte em distritos republicanos sob a forma de projetos de energias renováveis ou de carros elétricos.
A América do Norte pesou 55% no EBITDA da EDPR em 2024, mais de 850 milhões de euros, o seu maior mercado.
Várias cotadas de energias renováveis dos EUA afundaram hoje em bolsa, como a Sunrun (-42%), a SolarEdge Technologies (-27%), ou a NextEra, o maior promotor norte-americano, que afundou 11%.
A proposta “representa um pesadelo para os defensores da energia limpa e do IRA da era Biden [programa de fomento industrial]”, segundo a “BloombergNEF”, apontando eu a legislaão impede os projetos de usarem componentes ou materiais produzidos na China, se quiserem candidatar-se aos incentivos.
“Sem créditos fiscais é difícil investir”, disse Bobby Chada do Capital Group, citado pela “Bloomberg”. Mediante o investimento, as empresas têm direito a reembolsar parte através de desconto nos impostos, uma medida que vigora desde a década de 90 e que tem ajudado ao crescimento do setor nos EUA.
A ideia era que os créditos fiscais recuassem lentamente: 80% em 2029, 60% em 2030, 40% em 2031 para depois atingir zero a partir de 2032, isto é, os créditos fiscais iriam manter-se ativos durante, pelo menos, mais sete anos.
“A proposta é uma vitória para os produtores solares nos EUA. O medo era que o investimento e os créditos fiscais terminassem mais cedo”, disse na altura Rob Barnett analista da “Bloomberg Intelligence”.
“Quando comparado com as expetativas dos consensos, isto parece um resultado muito mais positivo”, comentou o Goldman Sachs, destacando que o mercado “tornou-se muito negativo às renováveis expostas aos EUA”.
A proposta pode ter duas consequências positivas: “crescimento orgânico mais elevado, com os principais promotores a desenvolverem os projetos já licenciados na solar e eólica; custo de capital mais baixo nos EUA, pois esta medida traz garantias regulatórias”, segundo os analistas do banco norte-americano.
O Goldman Sachs reiterou a sua recomendação de ‘comprar’ para a EDPR, apontando que a ação negoceia 25% abaixo da sua avaliação. “Acreditamos que os pontos positivos em relação aos créditos fiscais nos EUA, custo de capital e preços de eletricidade, providenciam ventos favoráveis ao preço da ação da EDP”.
O setor das energias renováveis tem razões para sorrir, argumenta o Goldman Sachs: as taxas de juro na Europa deverão estabilizar ou cair, dado o abrandamento económico; um recuo no custo do capital nos EUA e a subida dos preços da eletricidade, são ventos favoráveis para o setor, que continua muito “subestimado”.
Já o JP Morgan Chase considera que a atualização do IRA “foi mais positivo do que o esperado pelo mercado e isto deverá ter um impacto positivo para o preço das ações da EDP/EDPR”.
A eliminação gradual dos créditos fiscais, a par da alteração na cláusula de salvaguarda (safe harbor), “coloca mais pressão na entrega dos projetos, mas acreditamos que não vai ter impacto nos projetos solares iniciados entre 2025 e 2027. Além do mais, a EDPR assegurou fornecedores locais para os seus projetos, não vemos implicações” das mudanças previstas para a legislação sobre compras a fornecedores estrangeiros (FEOC).
O JP Morgan levanta dúvidas sobre a execução de projetos de armazenamento: “acreditamos que vai demorar mais tempo e ser mais caro para comprar equipamento que evite limitações a fornecedores estrangeiros, o que significa um recuo significante no mercado a partir do segundo semestre de 2026”.
Sobre o financiamento, os analistas apontam que o mercado deverá adaptar-se a novos requerimentos e “haverá financiamento disponível”.
“Estamos nos EUA desde 2007, somos um dos maiores atores nas energias renováveis. Trabalhámos com diferentes administrações, tanto republicanas como democratas, incluindo a primeira administração Trump. Obviamente que existe mais resistência agora em relação às renováveis, mas existe uma discussão e negociação em curso sobre o IRA e continuamos a estar confiantes que os créditos fiscais vão continuar nos próximos anos, são uma das bases do crescimento das renováveis”, disse Miguel Stilwell d’Andrade na segunda-feira.
“Existe uma forte pressão dos republicanos no Congresso e Senado para manter os créditos fiscais (…) A independência energética é importante. As renováveis são energia barata e limpa. Tivemos um forte crescimento nos últimos anos, nas últimas décadas nos EUA, e esperamos continuar a crescer. Existe uma forte procura por eletricidade por causa da inteligência artificial e os centros de dados. As renováveis são a energia mais rápida”, afirmou em entrevista à “Bloomberg”.
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