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Educação: a “incubadora” de criatividade

O saber tradicional já não é suficiente; importa o saber-criar e o saber-inovar. Por isso mesmo; as escolas devem ser um dos contextos primordiais da promoção do pensamento criativo, pois são espaços onde se constrói o futuro!
27 Novembro 2019, 07h15

Ao longo do meu percurso pessoal e profissional, a criatividade sempre me fascinou nos mais variados contextos. Porém um destes contextos destaca-se mais visivelmente: a Educação. Como já abordei anteriormente, a criatividade é passível de ser encontrada nos mais recônditos espaços do Ser Humano, estando também presente nos mais diversos contextos por onde nos movemos. Contudo, opto por hoje falar sobre o papel da criatividade na Educação, por uma razão muito simples. Hoje, mais do que nunca, a procura por ideias criativas e inovadoras decorre à velocidade da luz. Já não basta ser “inteligente”, já não basta saber “qualquer coisa”, já não basta “esperar sentado” para que as oportunidades surjam. Hoje, mais do que nunca, a capacidade de criar e inovar é crucial para o mundo profissional. Mais do que isso: é também uma competência fundamental para auxiliar a resolução profícua de problemas, sejam estes em pequena ou em grande escala.

O presente e o futuro de todos nós depende da capacidade de, no aqui e no agora, sermos capazes de guiar os mais novos e dotá-los de competências que serão cruciais para a sua vida profissional futura, mas também para o progresso e evolução da própria sociedade e economia. As crianças do hoje serão os homens e as mulheres do amanhã. Serão aqueles que irão construir o futuro. Por isso mesmo, importa, e diria até que é urgente, que possamos promover a sua capacidade criativa, como uma ferramenta fulcral à sua própria sobrevivência neste “novo mundo” digital, automatizado e veloz.

Porém, coloca-se aqui uma questão crucial: estaremos nós (educadores, pais, mães, professores, etc.) a educar para a criatividade? Estaremos nós a educar para o pensar independente, para o pensar curioso, para o pensar inovador?

Numa famosa TEDTalk, Sir Ken Robinson afirmou que as escolas matam a criatividade. Na sua palestra alertou para o facto de os sistemas educativos terem sido construídos para um tempo diferente do agora e pelos mesmos sobrevalorizarem a ideia de habilidade académica o que, em termos latos, já não se coaduna com a atualidade da educação. Para este educador, a educação está a mudar e a própria estrutura educativa também. Se no antigamente um diploma garantia um trabalho, hoje tal já não acontece. Temos, então, que repensar os princípios fundamentais nos quais estamos a educar as nossas crianças e jovens. Para Sir Ken Robinson, a criatividade é tão importante como a literacia, e por isso mesmo deve ser tratada como tal.

Num projeto/estudo mais recente da OECD-Centre for Educational Research and Innovation, Vicent-Lancrin e colegas (2019) referem que a criatividade, mas também a capacidade de pensamento crítico, estão a revelar-se peças cruciais no mercado de trabalho, contribuindo simultaneamente para o bem-estar pessoal e cívico. No relatório final deste projeto/estudo, os autores apontam mesmo que a chegada da inteligência artificial, da robótica e da possibilidade eminente de automatização de muitas indústrias, acarretará consequências económicas para as diversas sociedades. Assim, competências como a criatividade e o pensamento crítico, que são mais difíceis de automatizar, tornam-se muito mais valiosas. Por isso mesmo, a emergência de desenvolver estas “novas” competências implica a necessidade de um pensar distinto sobre criatividade. E a Educação é um dos principais contextos de atuação para esta mudança de pensamento de que a sociedade necessita.

O saber tradicional já não é suficiente; importa o saber-criar e o saber-inovar. Por isso mesmo; as escolas devem ser um dos contextos primordiais da promoção do pensamento criativo, pois são espaços onde se constrói o futuro! Citando Sir Ken Robinson “Our task is to educate their (our students) whole being so they can face the future. We may not see the future, but they will and our job is to help them make something of it”. Não sejamos, pois, educadores passivos. Sejamos educadores ativos em prol de uma Educação não assente no passado, mas consciente do presente, enquanto prepara um futuro imprevisível!

Bibliografia consultada:

Vincent-Lancrin, S., González-Sancho, C. Bouckaert, M., de Luca, F., Fernández-Barrerra, M., Jacotin, G., Urgel, J., & Vidal, Q. (2019). Fostering Students’ Creativity and Critical Thinking: What it Means in Schools. Education Research and Innovation, OECD Publishing, Paris. doi: https://doi.org/10.1787/62212c37-en

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