Não há provavelmente nada que mais influencie o destino de um povo do que a educação da sua população. O mesmo se pode dizer em relação a cada indivíduo. Ora, apesar de isso ficar muitas vezes em último plano nas discussões sobre Educação, tantas vezes dominadas pelas reivindicações dos professores ou por outros temas polémicos, a questão dos efeitos da pandemia, e do que ficou por aprender durante esse período para toda uma geração, terá forçosamente de passar a ser uma prioridade.

Por isso, parece-me boa ideia que o Boletim Económico de Março do Banco de Portugal, para além dos indicadores habituais, tenha trazido uma análise dos resultados PISA, desenvolvido pela OCDE, e que basicamente analisa e avalia o desempenho dos estudantes em leitura, matemática e ciências.

Convém não esquecer que há uma brutal evolução na escolaridade dos portugueses nos últimos 20 anos, sobretudo dos mais jovens. Em 2006, 73% dos portugueses não tinha nem ensino superior nem o 12º ano. Nos países da área do euro, esta percentagem era de apenas 34%. A percentagem de pessoas com o ensino superior era quase o dobro na Europa do que em Portugal (23% vs. 13%) e absolutamente impressionante no que toca ao ensino secundário (43% de pessoas com 12º ano na área euro, e em Portugal apenas 14%). Em 2022, a percentagem de portugueses sem ensino superior ou 12º ano diminuiu para 40%, enquanto na Europa é de 23%. Se olharmos para as pessoas entre os 25-34, não há diferenças significativas entre nós e o resto da Europa.

Foi um enorme avanço. E extraordinariamente relevante, não apenas do ponto de vista económico, mas sobretudo no que significa de respeito pelo potencial de talento e liberdade de cada pessoa.

Em 2022, há uma inversão abrupta de um trajeto de melhoria, com uma quebra acentuada de resultados. Simplificando, é como se os alunos de 15 anos em 2022 tivessem frequentado menos um ano letivo do que os alunos da mesma idade em 2018. Impressionante. Mas não necessariamente surpreendente. A pandemia representou um retrocesso tremendo na aprendizagem.

É urgente inverter isto. Para isso, para além dos planos de recuperação de aprendizagens que o anterior Governo fez (muito pouco eficazes), é preciso um debate a sério sobre como ensinar o que ficou por aprender, olhar para o que outros países fizeram, e não ter medo da palavra avaliação: da aprendizagem, das escolas e dos alunos.