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Educar os jovens para combater a corrupção

Os valores ganham-se em pequeno. É esse o princípio do concurso lançado pelo Conselho de Prevenção da Corrupção para crianças e jovens, que este ano é alargado ao pré-escolar.
18 Novembro 2019, 16h00

Júlia mostra-nos orgulhosa a cartolina que representa a Urbanização da Lealdade. Um bairro singular nascido no imaginário de quem, aos nove anos, começa a descobrir o significado da corrupção. “Com este cartaz queremos que as pessoas percebam o que é a corrupção para não praticarem isso”, diz-nos a aluna do 4.º ano da Escola Básica do Cutão, nos arredores do Casal de São Marcos, no Cacém.

Os valores que contribuem para a vivência em sociedade são o ponto de partida da iniciativa promovida pelo Conselho de Prevenção da Corrupção (CPC), que ambiciona sensibilizar crianças e jovens para os perigos da corrupção. A ideia é mobilizar os alunos do ensino básico e do secundário, apelando à sua criatividade para criarem “mensagens que previnam, sensibilizem e esclareçam sobre corrupção em formato de vídeo, áudio ou imagem”.

A iniciativa nasceu em 2012 e este ano vai ser alargada ao ensino pré-escolar, segundo revela Edite Coelho, adjunta do presidente do Tribunal de Contas, ao Educação Internacional. E justifica a decisão com a necessidade de abordar o problema ainda em terna idade: “Quanto mais cedo se semear a semente melhor”.

Júlia Dias, de 9 anos, a menina que por agora navega entre o sonho de ser médica ou cozinheira, acordou para a dura realidade numa aula da professora Mafalda Garcia. O mesmo aconteceu com toda a turma. O trabalho que mostraram no Auditório da Polícia Judiciária foi feito com o contributo de todos. “A escolha do nome das ruas foi feita por votação na sala de aula, após escolhermos as palavras que tiveram mais significado para nós durante as sessões e debates”, explica a professora.

 

A corrupção chega a todo o lado
Júlia sobe ao palco do Auditório da Polícia Judiciária para explicar que a Urbanização da Lealdade tem quatro ruas. Na rua do Respeito, as pessoas respeitam-se a si próprias e aos outros. Na rua da Honestidade todas dizem a verdade. Um pouco mais abaixo, na rua da Igualdade, todos são iguais independentemente do género e da cor da pele. E na rua da Justiça só existem pessoas justas.

Alguns destes nomes seriam mais tarde usados pela ministra da Justiça. Falando para uma sala cheia de crianças e jovens, Francisca Van Dunem afirmou: “Se formos capazes de formar cidadãos íntegros, cientes dos seus direitos, empenhados em realizar o bem comum, seremos um país mais rico e um Estado mais forte, com mais capacidade para satisfazer as necessidades coletivas”. Lembrou ainda que a corrupção é um fenómeno antigo e vasto, com o qual não podemos nem devemos conformar-nos. “A corrupção envolve todo o tipo de negócios, como a degradação do ambiente e a pilhagem do ecossistema, destrói o património que é de todos nós, ofende os valores da justiça porque aqueles que têm privilégios manipulam o sentido do interesse público e os cidadãos cumpridores ficam em desvantagem, o que cria desconfiança sobre a integridade e a retidão dos serviços do Estado e das nossas instituições”.

Alexandra Leitão, ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública – que ocupava as funções de secretária de Estado Adjunta e da Educação por ocasião desta cerimónia –, defendeu a necessidade de combater este flagelo através da educação do indivíduo. “Dos pequenos gestos às grandes fraudes, o problema é sempre o mesmo. Só seremos bem-sucedidos se o combatermos na base”.

Lançar a semente
A 7ª edição do Concurso “Imagens contra a Corrupção” foi a mais concorrida de sempre, contando com 230 trabalhos provenientes de uma centena de escolas públicas e privadas, feitos por alunos entre os cinco e os 18 anos de idade. Edite Coelho salientou o crescimento da participação no geral e destacou o caso concreto das crianças dos 3º e 4º anos, que aumentou 300% só este ano. A maior parte dos trabalhos são colectivos e envolveram cerca de cinco mil crianças e jovens. No projeto da Urbanização da Lealdade participaram 28 alunos da turma F do 4.º ano da Escola Básica do Cutão.

Deste universo, o júri premiou e distinguiu dez escolas da rede pública e privada, atribuindo quatro prémios e cinco menções honrosas. A criatividade e originalidade da mensagem foram especialmente valorizadas, assim como o envolvimento das comunidades educativas e das famílias. “Outro aspeto relevante foi o trabalho de equipa, o debate e pesquisa desenvolvidos pelos alunos na sala de aula”, salientou Edite Coelho.

A leitura de Vítor Caldeira, presidente do Tribunal de Contas e do Conselho de Prevenção da Corrupção, sobre os resultados do Concurso “Imagens contra a Corrupção” é extremamente positiva e no sentido de aprofundar a mensagem para que “não seja uma coisa excepcional, mas que faça parte do nosso dia a dia. “Guardem esta bússola, estes valores da ética, da integridade e da cidadania. Quanto a nós, continuaremos a fazer o nosso trabalho e a lançar a semente”, foi a mensagem às crianças e jovens.

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