Sem saber a forma que terá um novo governo Trump, empresas, organizações internacionais e representantes de outros governos na reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça) encontram dificuldade em planear os próximos passos num cenário ainda pouco claro.
O norte-americano, que deve participar de uma sessão de perguntas no evento na quinta (23) por meio de teleconferência, tomou posse para o segundo mandato nesta segunda (20), no mesmo dia em que começou a reunião na Suíça. O nível de imprevisibilidade sobre a sua gestão, contudo, é citado por executivos, aparece em painéis do fórum, impacta a participação e leva até a uma recalibragem de decisões.
“O tema central aqui hoje é o governo Trump, está todo mundo à espera para ver as medidas que vai anunciar, qual vai ser o impacto inicial disso tudo”, afirma Roberto Azevêdo, que já dirigiu a OMC (Organização Mundial do Comércio) e hoje é presidente de operações globais da Ambipar, com longo histórico de participação no fórum.
“Normalmente você vem a Davos, encontra pessoas, faz contatos, planeja investimentos. Esse quadro está muito prejudicado por esse sentimento de incerteza.”
Na avaliação do diplomata convertido em executivo, é difícil para muitos desses atores se posicionarem, decidirem investir ou mesmo formularem propostas sem ainda ter uma clareza do cenário.
A própria organização do evento ressaltou esse momento ao propor painéis como “primeiras impressões da posse nos EUA”, “primeiras ideias sobre a nova presidência americana”, além de todos os já tradicionais sobre o país. A lista inclui debates sobre a relação com a China, segurança global, comércio e, principalmente, ambiente e energia, temas em que o republicano prometeu uma guinada.
Azevêdo e outros altos executivos brasileiros que lidam com o tema não esperam que os debates sobre clima e energia saiam da pauta, pelo contrário. Mas, perante a possibilidade de mudanças no país mais rico do mundo —Trump deixou claro já na posse que seus investimentos serão em petróleo, e não em energia limpa —alguma recalibragem pode ser esperada.
Tamanha incerteza produz, inclusive, efeitos contraditórios. Um exemplo é a agenda brasileira. O Brasil reduziu sua delegação do governo federal neste ano ao ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia). Este governante deveria chegar à cidade alpina no início da semana e adiou a viagem para participar da reunião ministerial convocada pelo presidente Lula.
Com tempo exíguo e logística complexa, a tendência do ministro era a de cancelar a viagem. Mas o discurso de posse de Trump levou o ministério a rever a participação no evento. Na avaliação da pasta, a promessa do americano de ampliar a exploração de petróleo e de desmantelar as medidas de proteção do clima tomadas por seu antecessor abre uma oportunidade para o Brasil ocupar esse espaço.
Com isso, Silveira deve chegar nesta terça a Davos para promover negócios com energia limpa e renovável, ainda que o governo brasileiro também seja um entusiasta do petróleo, ao menos por ora.
A decisão do governo brasileiro de reduzir sua representação no fórum deste ano havia descontentado lideranças empresariais brasileiras, para as quais o país aproveita pouco a vitrine oferecida no encontro de uma semana que reúne quase 3.000 executivos, investidores, representantes de governos, organizações internacionais, acadêmicos e jornalistas.
Neste ano, pela primeira vez, o Brasil tem uma Brazil House para promover o país, iniciativa de um grupo de oito empresas que, ao custo de R$ 15 milhões, montou um espaço de eventos e debates na principal rua da cidade a fim de “vender” as oportunidades no país.
Silveira, bem como o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, o governador do Pará, Helder Barbalho, e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, devem participar de debates no local.
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