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Eixo Paris-Berlim defende levantamento das sanções à Síria

Alemanha quer o assunto debatido entre os 27, para que uma posição comum seja adotada em favor da estabilidade. Autoridades sírias já estabeleceram contactos com a Arábia Saudita,, Egipto, Emirados, Jordânia e Qatar.
9 Janeiro 2025, 07h00

Perante o ‘milagre’ da estabilidade que tem marcado o fim do regime de Bashar al-Assad na Síria e a instalação de um novo poder que está agora nas mãos dos rebeldes que lutaram contra o exército ao longo de quase 13 anos, a França e a Alemanha não só estão disponíveis para levantar as sanções que impuseram ao país, como pedem à União que faça o mesmo. Poucos dias depois da debandada da família al-Assad (para Moscovo), vários países europeus e a própria ONU colocaram a hipótese de levantar as sanções, mas Paris e Berlim pretendem não demorar em excesso a decisão e assim mostrarem apoio ao novo regime.

O ministro dos Negócios Estrangeiros francês defendeu que há certas sanções que dificultam a recuperação da Síria, enquanto outras, sendo de outra natureza, devem manter-se. Jean-Noël Barrot afirmou esta quarta-feira, citado pela imprensa francesa, que algumas sanções contra a Síria “poderiam ser levantadas rapidamente”, nomeadamente as que dificultam o acesso de ajuda humanitária. “Há as sanções que visaram Bashar al-Assad e os algozes do seu regime; estas sanções, obviamente, não têm intenção de serem levantadas. Depois, há outras que atualmente dificultam o acesso à ajuda humanitária, o que impede a recuperação do país, e estas poderiam ser levantadas rapidamente”, considerou.

Do mesmo modo, o governo alemão enviou aos serviços da chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, um pedido sobre o alívio das sanções, com vista a uma primeira discussão sobre o assunto na reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União no próximo dia 27, em Bruxelas, revela a agência France Presse.

Entre várias hipóteses levantadas, Berlim enumerou o facilitar transações financeiras com as novas autoridades sírias ou transferir capitais privados, nomeadamente de refugiados sírios, para o estrangeiro. A motivação de Berlim é a mesma da de Paris: uma parte das sanções serviram para isolar o regime de Bashar al-Assad e deixaram de fazer sentido – apesar de a sua manutenção poder afetar a estabilização do novo poder no país, pelo que devem ser removidas – nomeadamente aquelas que têm diretamente a ver com o setor financeiro.

O governo de transição está a pressionar para o levantamento das sanções internacionais contra o país, mas muitas capitais, incluindo Washington, afirmaram esperar para ver como as novas autoridades exercem o seu poder antes de levantarem as restrições. Mas o governo dos Estados Unidos já aliviou algumas sanções esta segunda-feira, nomeadamente para permitir a entrada de ajuda humanitária. O Departamento do Tesouro emitiu uma licença geral, com a duração de seis meses, que autoriza determinadas transações com o governo sírio, incluindo vendas de energia. A medida não levanta sanções mais pesadas, nomeadamente sobre a economia, mas indica, mesmo que limitado, algum apoio ao novo executivo, refere a agência Reuters.

Os chefes da diplomacia francesa e alemã, Jean-Noël Barrot e Annalena Baerbock, respetivamente, deslocaram-se a Damasco no passado dia 3 e reuniram-se com o novo líder do país, Ahmad al-Charaa. Esta quinta-feira, deverão encontrar-se, em Roma, com os seus homólogos da Itália, do Reino Unido e dos Estados Unidos para debater a situação na Síria.

Lançada a 27 de novembro, uma ofensiva relâmpago derrubou em 12 dias o regime de Bashar al-Assad, há 24 anos no poder. A ofensiva foi da responsabilidade de vários grupos armados liderados pela Organização Islâmica de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS), que tomou a capital síria, Damasco, a 8 de dezembro.

A estas tomadas de posição somam-se as manifestações de apoio ao novo regime surgidas da parte de alguns países do Médio Oriente que entenderam ser necessário demonstrar que o exterior está a apreciar o esforço de estabilização que parece verificar-se no país. Neste contexto, o novo regime já estabeleceu contactos de alto nível com o Egito e com a Arábia Saudita – que se revelaram, segundo a imprensa, bastante auspiciosos.

Mais tarde, foi a vez do Qatar. O novo ministro dos Negócios Estrangeiros sírio, Asaad al-Shibani, já se encontrou com Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar, para conversações em Doha, mostrando que o HTS pretende estabelecer laços diplomáticos com os governos regionais. Asaad al-Shibani publicou nas redes sociais que também visitará a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos para desenvolver parcerias estratégicas e apoiar a segurança e a recuperação económica da Síria.

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