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Maria criou ‘snacks’ saudáveis, conquistou o Pingo Doce e prepara-se para chegar a mais retalhistas

Maria Villas-Boas fundou a Urban Nature em setembro de 2018, recebeu investimento da Shilling Capital e vai ainda este ano colocar os seus pacotes de granola, sésamo e lentilhas em mais prateleiras, inclusive as do Continente.
  • Cristina Bernardo
5 Setembro 2019, 11h45

A empreendedora Maria Villas-Boas quer retirar aos poucos as bolachas açucaradas e as gorduras saturadas das mochilas das crianças e das secretárias dos portugueses. A fundadora da marca Urban Nature criou um conjunto de sete ‘snacks’ saudáveis que conquistaram a Jerónimo Martins e preparam-se agora para chegar às prateleiras de mais retalhistas em Portugal.

A marca foi lançada há menos de um ano, no final de setembro de 2018, e este verão alargou a sua presença às 409 das 436 lojas da cadeia de supermercados Pingo Doce. Até ao final deste ano estará noutras distribuidoras, entre as quais a Sonae, disse Maria Villas-Boas em entrevista ao Jornal Económico.

A ideia da jovem empresária é combinar o mundo à primeira vista antagónico da comfort food (associada ao alívio emocional) ao dos alimentos saudáveis através destes petiscos – ainda que tenha consciência de que a cultura do ‘snacking’ tem pouca tração em Portugal. “Não procuramos ir ao encontro de modas ou dos ingredientes de que se fala. Queremos produtos que consigam ter a alma do ‘snack’: uma coisa crocante que aconchega a alma quando se está entre horas de trabalho complicadas”, refere.

A Urban Nature tem uma equipa composta por três colaboradores e um acordo com outra empresa para produção e embalamento. A produção dos ‘snacks’ tanto é feita em Portugal como noutros países europeus, entre os quais Espanha, Bulgária e Reino Unido. “Inicialmente tentámos produzir tudo em Portugal, mas é difícil quando não se tem uma indústria alimentar tão segmentada e especializada”, conta.

Formada em Gestão de Alimentos e Bebidas pelo Instituto Tecnológico Fuenllana, Maria Villas-Boas estudou ainda na Universidade do Texas em Austin, na Porto Business School e na Católica Lisbon School of Business & Economics, mas a ligação á área alimentar começou ainda antes do ensino superior, quando achava que o seu futuro passaria por ser cozinheira ou chef de cozinha. “Cozinhar é o que mais gosto de fazer no mundo. Estive a trabalhar em restaurantes mas percebi que precisava de algo ainda mais criativo. Acabei por ir para o retalho para perceber o que as pessoas gostam, aquilo de que o consumidor pode estar a precisar, prever as tendências e transformá-las em produtos tangíveis e acessíveis”, confessa.

Na última década, Maria Villas-Boas esteve sempre ligada ao retalho, da moda à saúde e ao bem-estar, acabando onde havia começado: na alimentação. Ao longo do seu percurso profissional esteve na Sonae a analisar como é que o consumo de produtos alimentares saudáveis iria impactar o negócio da distribuição, acompanhou a criação dos supermercados Go Natural e assistiu à mudança do paradigma nas refeições saudáveis, a passagem a dietética e dos rótulos light para os gluten free e “sem corantes nem conservantes”. Mais tarde, percebeu que tinha juntado no prato os três ingredientes para criar a sua própria empresa: formação, conhecimento do mercado e contactos com fornecedores.

“A minha missão passou a ser perceber porque é que uma franja tão grande da sociedade não ligava a tortitas de milho, das barras com sabores, das bowls… As pessoas não estão muito habituadas a esses produtos e texturas. É aí que entra a nossa marca, que tenta encontrar algures um universo a meio”, explica a ex-gestora da unidade de negócio de Nutrição Saudável do Continente.

Após um investimento inicial de 20 mil euros em capitais próprios, a Urban Foods (dona da marca Urban Nature) fez a primeira ronda de financiamento em julho, de 200 mil euros, liderada pela Shilling Capital e com a participação de dois business angels. Ainda sem prazos definidos, a startup pretende investir e criar mais marcas ligadas à alimentação/bebidas.

“Num extremo temos a Oreo e no outro temos estas novidades. Acredito que possa haver no meio um ‘snack’ equilibrado em termos nutricionais e calóricos, sem fundamentalismos e com sabores que as pessoas conhecem, e com a emoção do que sabe bem e da gula saudável”, clarifica, em declarações ao semanário.

A porta-voz da Urban Nature defende que a marca se destina a um público alargado, que inclui todas as pessoas conscientes de que precisam de fazer algumas alterações na alimentação, mas que não estão dispostas a consumir as alternativas que vão surgindo. Ainda assim, o seu público-alvo é maioritariamente caracterizado por mulheres entre os 25 aos 45 anos, residentes em zonas urbanas, com uma apetência para diminuir o consumo de açúcares e farinhas e para produtos que facilitem os dias atarefados.

Há sete ‘snacks’ diferentes disponíveis, com vários ingredientes: lentilhas e milho; amendoins e caramelo; granola e côco; cacau; lastas de côco tostadas e caramelizadas (para substituir as batatas fritas de pacote) e tostas de sésamo e linhaça (para substituir as tradicionais ‘crackers’ à base de sal ou açúcar). Os pacotes estão à venda online, em supermercados, cafés, empresas, cantinas, máquinas de vending e estações de serviço com um custo de 1,50 euros cada e de 9 euros cada ‘pack’ com seis.

 

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