A opinião pública emite julgamento sobre os comentadores, em particular os de TV, tal como o faz em relação aos políticos. São todos “talking heads”, cabeças falantes.

Leio nas redes sociais posts como estes sobre o chamado “comentariado”: “O que se passa é que eles só se atacam uns aos outros e não falam nunca das coisas que interessam ao futuro do país. Deve ser porque não têm ideias nenhumas.” “Os comentadores não abordam soluções para a educação, transportes, saúde, justiça, tudo o que está de rastos no país e que devia ser o foco dos debates.”

Boa parte dos comentários e análises que ouço e leio sobre o que está em jogo nas próximas eleições estão focados em apreciações necessariamente subjetivas sobre questões triviais ou laterais como, por exemplo, a personalidade e carisma ou ausência dele em leaders políticos.

A discussão sobre qual poderá ser o resultado da aplicação das ideias dos políticos é mais rara porque não imediatista. O longo e o médio prazos são um tédio. Medina Carreira unia as duas qualidades: ciência e explicação televisual da sua ideia por palavras simples e sentidas. Também Luís Marques Mendes (SIC) e Paulo Portas (TVI) procuram basear o comentário em factos e situá-lo no contexto geoestratégico, político, comercial.

Outra parte do “comentariado” dedica-se a especular sobre o significado de afirmações dos políticos. Assisti na TV a um debate entre dois reputados comentadores em que cada um fazia uma análise totalmente especulativa do significado das palavras de Pedro Passos Coelho por ocasião do soundbite sobre António Costa (“indecente e má figura”). Aquelas palavras seriam ou não uma “ratoeira” a Luis Montenegro? Para um eram, para outro não deu para perceber qual a sua apreciação (para mim foram uma clara expressão de apoio ao PSD de Luís Montenegro).

Este tipo de comentário e debate reflete uma atitude baseada na assunção, muitas vezes correta, de que os políticos não são sinceros ou mentem, como é o caso da “banha da cobra” propalada por Pedro Nuno Santos (“salvei a TAP”).

Por vezes, o discurso avulso do ator político é contextualizado pelo comentador no pensamento do ator, se porventura o houver. Outras vezes, é denunciado o oportunismo e o populismo, que conduzem a contradições dentro da mesma frase, numa confusão inadvertida ou propositada.

Este tipo de comentário baseado em interpretações do discurso político é necessário e pode ter mérito ao procurar desvendar propósitos escondidos ou não declarados, mas não basta.

O comentário baseado na análise dos efeitos de decisões políticas é mais raro porque exige conhecimento de base científica e factual ou resultante de experiência e da consequente capacidade para prospetivar com autoridade, de que José Gomes Ferreira (SIC) e José Miguel Júdice (SIC Notícias) são dois bons exemplos.

Mas há outras pessoas ou entidades, como o Fórum para a Competitividade, sobretudo nos media escritos, a quem não é dada a oportunidade para se exprimirem num meio de comunicação de massas como é a TV, com análise e comentário, factual e prospetivo. A análise e respetivo comentário que interessa aos portugueses é que Portugal resultará da aplicação dos programas de cada um dos partidos?

E aqui a discussão centra-se necessariamente nas ideias e na sua execução, e não no maior ou menor carisma dos candidatos. O carisma não é um determinante da qualidade das ideias e da capacidade de execução, embora seja útil na mobilização de vontades e intenções. Crucial são os programas e a autoridade das pessoas que os elaboraram e que os pretendem executar. Também importante é a capacidade do leader para constituir e gerir equipas e conseguir consensos.