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Eleições europeias: o jogo das cadeiras já começou

Consenso e unanimidade foram as palavras de ordem da última cimeira da União, mas nos bastidores passava-se precisamente o contrário, numa espécie de todos contra todos. Mas, desta vez, a coisa pode sair cara aos ‘vencedores do costume’.
12 Maio 2019, 20h00

Era suposto ser uma cimeira que servisse para fazer o sumário da ‘era Juncker’ e avançar com propostas para o futuro, mas a reunião dos 27 em Sibiu (Roménia), não foi nada disso: serviu apenas para que os europeus percebessem que o que move os chefes de governo e de Estado da União Europeia é, neste momento, conseguir o melhor lugar quando, passadas as eleições europeias de 26 de maio, for preciso eleger uma nova Comissão Europeia e vários outros organismos da soberania comum.

Oficialmente, os líderes dos 27 afirmaram que “não há espaço para divisões que vão contra o nosso interesse coletivo. Permaneceremos unidos, aconteça o que acontecer”, promete a declaração solene, assinada por unanimidade. Mas, como enfatizam os observadores, esse unanimismo dar-se-á, quando muito, depois da batalha decorrente das eleições europeias. O compromisso solene não impediu que cada presidente de governo defendesse que lutaria pelos seus respectivos candidatos para assumir as posições mais favoráveis no imediato, recorda o jornal espanhol El Pais.

A primeira escaramuça mostrou as diferenças face à mudança de posições tão essenciais como a presidência da Comissão Europeia, o Conselho Europeu, o Banco Central Europeu (BCE), o Parlamento Europeu e a Representação Externa da União.

Donald Tusk, presidente do Conselho, afirmou que “não estou disposto a perder três meses à procura de consenso” e por isso quer convocar uma reunião de líderes para 28 de maio, apenas 48 horas depois das eleições para o Parlamento Europeu, para fechar a questão de quem liderará a próxima Comissão.

Em 2014, o presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, foi eleito com o voto contra do Reino Unido e da Hungria e a Alta Representante da Política Externa, a italiana Federica Mogherini, também não obteve unanimidade (houve uma abstenção).

O alemão Manfred Weber (para os conservadores), e o holandês Frans Timmermans, (para o bloco socialista), são os candidatos maisfortes. Os liberais, que, como Emmanuel Macron, se distanciaram do processo de seleção criado pelas duas grandes famílias políticas, mostraram-se desinteressados. Macron e o primeiro-ministro de Luxemburgo, Xavier Bettel, terão, durante a cimeira, desprezado qualquer das duas pré-candidaturas.

A aritmética que sair das eleições parlamentares pode, ainda assim, baralhar tudo: uma queda prevista das duas principais famílias politicas do parlamento (as duas juntas talvez cheguem aos 50%), o aumento do bloco anticético e mesmo antieuropeísta e o crescimento das margens mais à esquerda, pode complicar a ‘normal’ distribuição de lugares.

Em 2014, apesar de tudo, as coisas passaram-se de forma ‘ordeira’: os conservadores ficaram com a Comissão (Juncker) e os socialistas com a presidência do Parlamento (o alemão Martin Schulz, que acabaria por renunciar para concorrer, com assinalável insucesso, a chanceler da Alemanha).

O próprio Weber está ciente da dificuldade. E, segundo o El Pais, em Sibiu anunciou que, se o Partido Popular Europeu vencer, “no dia seguinte” vai chamar “socialistas, liberais e verdes para oferecer uma compreensão. Só juntos podemos estabilizar a Europa”, acredita. Ou, dito de outra forma: tentará manter o poder nas mãos do que o têm há pelo menos 40 anos, juntando ao grupo todos os que possam estar pouco interessados em dividir vantagens com os que estão para chegar.

Depois de atacar Macron e os liberais, Weber advertiu que a União está exposta a um bloqueio se um presidente da Comissão for eleito à margem das candidaturas das duas partes. “Com o Brexit pelo meio, acho que ninguém quer uma crise institucional na União”, ameaçou o alemão, um proeminente membro da CSU (partido bávaro, ‘irmão’ da CDU de Merkel).

As espingardas já estão, por isso, a ser contadas – o que, como rampa de lançamento das europeias, não pode dizer-se que seja o melhor cenário para levar os europeus às urnas – ainda por cima no ato eleitoral onde tradicionalmente a abstenção é colossal.

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