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Eles gostam é de malhar em Marques Vidal

O ataque pensado e cronologicamente cuidado que tem feito à recondução de Joana Marques Vidal como Procuradora Geral da República mostra que o actual Partido Socialista continua a conviver mal com a separação dos poderes do Estado.
13 Setembro 2018, 07h15

Quem apenas conhecer o partido Republicano pelas últimas duas décadas de televangelista e empresários opacos, que têm da coisa pública uma visão promíscua entre os poderes económicos, políticos , judiciais e até religiosos, poderá incorrer no erro de achar que John McCain era um fervoroso militante do partido Democrata. Quando afinal “The Maverick” era sim o arquétipo dos valores intrínsecos ao partido de Lincoln. Liberdades individuais, direitos cívicos, abertura económica. Honradez. Mas pelo facto do GOP estar capturado, isso não faz dele menos fundamental ao fundador bipartidarismo americano. Nem faz de McCain menos Republicano.

Do mesmo modo, não é pelo PS ter passado por um período negro de Sócrates, Vara, dos “Pino & Lino” e quejandos, que os grandes opositores a balbúrdia suicida daqueles anos, como António Barreto, Campos e Cunha, Teodora Cardoso, Medina Carreira ou Henrique Neto, deixam de ser históricos socialistas e passam a ser perigoso neoliberais. Nem o deixam de ser por continuarem vigilantes perante as sementes que o Socratismo deixou no actual PS e, surpresa, na restante geringonça. O PS, pese embora estas tropelias e embora se tenha juntado à extrema esquerda, continuará igualmente a ser um partido estrutural à democracia portuguesa. Mas urge libertar-se das sombras de Sócrates, e para tal não bastam renúncias públicas em vésperas de Congressos.

O ataque pensado e cronologicamente cuidado que tem feito à recondução de Joana Marques Vidal como Procuradora Geral da República mostra que o actual partido socialista continua a conviver mal com a separação dos poderes do Estado, e que professa religiosamente a doutrina coelhista de que “quem se mete com o PS, leva”. Não é por acaso que a frase “Eu cá gosto é de malhar na direita” tem por autor o número dois do actual elenco Governativo. Mas Joana Marques Vidal não “malhou no PS”, ao contrário do que pensa a “nomenklatura rosa-avermelhada”. Nem é a candidata “de” direita, ou “da” direita , como profetizou um cada vez mais radical Seixas da Costa, a quem se deve “malhar” . A PGR Marques Vidal apenas fez o seu trabalho, algo que havia caído em desuso no processo criminal, coincidindo com a eclosão de uma complexa amálgama de casos, aparentemente interligados, que envolviam o poder político e financeiro, tendo por protagonistas dos mais destacados dirigentes socialistas.

Deveria ter uma atitude à Souto de Moura, de arquivador geral da república? Ou pior, à Pinto Monteiro, que passou uma imagem de total subserviência perante o executivo governativo? Como já disse anteriormente, Joana Marques Vidal não é a única Magistrada séria, independente, e com capacidade para dirigir o núcleo da investigação criminal em Portugal. Mas é ainda tão frágil na nossa sociedade a perceção de uma justiça que não está amarrada, para não ser demasiado ambicioso e afirmar “que funciona”, que o mais sensato é garantir a tímida solidez que o edifício da justiça começa a apresentar. De resto, os sinais de que é “necessário” arrumar com a Procuradora estarão já a conter aberturas ou desenvolvimentos de processos de investigação a poderosos (que expressão mai’linda), não tenhamos dúvidas. Quem pode criticar os procuradores em questão? Com estes sinais, fica a ideia de que em Portugal, quem se mete com determinados poderes… “leva”! E ninguém gosta de levar. Tem a palavra Marcelo.

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