Nunca houve um período de verão tão quente, tão intenso e tão abrangente como nos últimos 2 mil anos. Apesar da variabilidade natural do clima, estes últimos dois milénios registaram cinco grandes períodos climatéricos: três quentes e dois predominantemente frios.
De acordo com uma nova investigação cientifica, citada pelo El País, esta quinta-feira, os últimos quatro grandes períodos tiveram impactos continentais e não aconteceram em todas as regiões ao mesmo tempo. Apenas o período atual é que está a afetar 98% do planeta simultaneamente.
O estudo mostra que os últimos 50 anos do século XX estão entre os mais quentes desde o ano 1. E esse aquecimento está acontecer ao mesmo tempo na bacia amazónica, na Europa central, no extremo Ártico e no sudeste da Ásia: 98% da superfície do planeta está a ser afetada pelo aquecimento, deixando apenas a Antártica na margem.
“O aquecimento atual é sincrónico globalmente”, começa por contar Raphael Neukom, principal autor do estudo. “O período mais quente de 51 anos, nos últimos 2 mil anos, começou durante o século XX em mais de 98% do planeta. As taxas de aquecimento durante o período pré-industrial rondavam os 0.6 graus por século, atualmente a taxa de aquecimento é de cerca de 1.7 graus por século. Isso é muito mais do que antecipávamos” acrescenta o investigador do Centro Oeschger de Pesquisa sobre as Alterações Climática da Universidade de Berna (Suíça).
Este estudo, publicado na revista Nature, usa como argumento a Pequena Idade do Gelo (de 1300 a 1850), que registou um frio extremo na Europa e nos Estados Unidos durante vários séculos, mas não registou o mesmo no resto do planeta. Na grande parte do Pacífico, o frio sentiu-se durante o século XV, o noroeste da Europa e grande parte da América do Norte só arrefeceu no século XVII e o resto do planeta só sentiu as temperaturas mais baixas século XIX.
Os primeiros registos meteorológicos não vão além do século XIX, época da Revolução Industrial. Para comparar, foi necessário reconstruir as temperaturas através de 700 registos de cinco áreas geográficas muito distintas: anéis de árvores, acumulação mineral em exoesqueletos corais, anéis de crescimento de moluscos centenários, sedimentos de lagos ou camadas sucessivas de gelo nos pólos e glaciares.
Um segundo artigo, no Nature Geoscience, estuda a média das variações de temperatura em períodos curtos, de várias décadas. As conclusões são claras: em nenhum momento desde o início da era cristã, as temperaturas subiram tão rapidamente e de maneira tão regular como ao final do século XX. Este resultado “destaca o caráter extraordinário da mudança climática atual”, afirma Raphael Neukom.
Estes estudos “conseguem refutar facilmente os argumentos dos céticos sobre as alterações climáticas que defendem que o aquecimento global observado recentemente faz parte de um ciclo climático natural”, destaca Mark Maslin da University College de Londres.
Temperaturas recorde
Este ano, o verão tem sido o mais quente de sempre. Na Alemanha, o recorde registou-se a oeste, com os termómetros na cidade de Geilenkirchen a ascenderam aos 40,5ºC (graus Celsius). À tarde, na Holanda, os termómetros mostravam 38,8ºC em Rijen, no sul, e 39,2ºC em Eindhoven, perto de Amesterdão.
No oeste do país, a imprensa local noticiou que várias centenas de porcos morreram, na terça-feira à noite, em Middelharnis, devido ao calor e à falta de ventilação.
A Bélgica, onde o alerta vemelho foi emitido primeira vez, também quebrou um recorde histórico. Uma temperatura de 39,9°C foi medida na base militar Kleine-Brogel, no nordeste, segundo Instituto Meteorológico Real. É “a temperatura mais alta desde em 1833″, indicaram.
Mas a onda de calor não fica por aqui, com os meteorologistas a preverem um novo aumento das temperaturas até sexta-feira. Hoje, deve ser a vez da capital francesa, Paris, bater o recorde de 1947 (40,4°C).
O calor extremo pode mesmo desmoronar os tetos da catedral de Notre Dame, já debilitados devido ao grave incêndio que aconteceu em abril, avisou o arquiteto-chefe do monumento histórico de França.
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