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Em 46 anos, perdeu-se 68% da biodiversidade mundial, alerta relatório

O novo relatório “Planeta Vivo” 2020, da AP/WWF, revela que se registou um aumento da perda da biodiversidade, com um declínio de 68% das populações globais de mamíferos, pássaros, anfíbios, répteis e peixes entre 1970 e 2016.
10 Setembro 2020, 17h25

O consumo excessivo por parte dos seres humanos, o aumento da pegada ecológica, o crescimento populacional e a agricultura intensiva estão a resultar numa destruição da biodiversidade e na degradação dos ecossistemas a um ritmo avassalador. Atualmente, a espécie humana está a usar cerca de 56% da biocapacidade do planeta.

Feitas as contas, registou-se um declínio médio de 68% das populações globais de mamíferos, pássaros, anfíbios, répteis e peixes, entre 1970 e 2016. Há dois anos, o número situava-se nos 60% e, em 2012, de apenas 28%, o que mostra como o processo tem acelerado.

O valor é ainda mais assustador se olharmos à lupa para as sub-regiões tropicais do continente americano: o declínio destes animais chega aos 94%, “a maior queda observada em qualquer parte do mundo”. Já sobre os ecossistemas de água doce, concluiu-se que “quase uma em cada três espécies” está ameaçada de extinção, e a média do declínio de populações analisadas é de 84%, “o equivalente a 4% ao ano desde 1970”, refere o relatório Relatório “Planeta Vivo 2020” (Living Planet Report 2020) apresentado esta quinta-feira em Portugal, pela Associação Natureza Portugal em colaboração com a WWF (ANP/WWF).

E por que é que isso interessa? “É importante porque a biodiversidade é fundamental para a vida humana na Terra, e as evidências são inequívocas: ela está a ser destruída por nós a um ritmo sem precedentes na história”, lê-se no documento que é revelado de dois em dois anos. Porém, não só é importante por causa dos impactos no ambiente, mas também por causa dos riscos para a saúde humana.

Desde a revolução industrial, as atividades humanas têm vindo a destruir e a degradas cada vez mais as florestas, as pastagens, os pântanos e outros ecossistemas importantes, ameaçando o bem-estar humano. Segundo o relatório, 75% da superfície terrestre sem gelo da Terra já foi significativamente alterada, a maioria dos oceanos está poluída , e mais de 85% da área de pântanos foi perdida.

Pegada ecológica ultrapassou capacidade regenerativa do planeta

Graças aos desenvolvimentos do setor tecnológico e das práticas de gestão da terra, a biocapacidade global aumentou cerca de 28% nos últimos 60 anos. No entanto, isso pode ser uma superestimativa porque as estatísticas da ONU não incluem perdas subestimadas, como a erosão do solo, o esgotamento das águas subterrâneas e a desflorestação. Ainda assim, esse aumento não acompanhou o crescimento do consumo agregado: a pegada ecológica humana, também estimada a partir de estatísticas da ONU, aumentou cerca de 173% no mesmo período e agora excede a biocapacidade do planeta em 56%.

Dado o estilo de vida que é adotado a nível mundial, seriam necessários 1,6 mais recursos do que a Terra pode gerar”, afirmou Catarina Grilo da ANP/WWF na apresentação do relatório.

Se a nível mundial os dados já preocupam, quando se olha para Portugal a situação agrava-se: “Os portugueses precisam de 2,52 planetas para manter o seu actual estilo de vida”, segundo o relatório da WWF, o que é mais do que o já mau valor do relatório de 2018, quando precisaríamos de 2,23 planetas. “Olhando para a pegada ecológica, vemos que Portugal subiu para a 46.ª posição da lista de países com maior pegada, quando em 2018 estava na 66.ª posição. A recuperação económica entre 2014 e 2016 e o consequente aumento do consumo e de turistas contribuem para isto”, referiu a responsável da ANP/WWF.

Perante esta situação que parece tornar-se cada vez mais irremediável, a WWF destaca que um dos principais desafios atuais é “transformar as práticas agrícolas e de pesca, muitas das quais não são hoje sustentáveis, em actividades que forneçam alimentação nutritiva e acessível, enquanto protegem e conservam a biodiversidade”.

Isto significa produzir de forma mais sustentada – a actividade é responsável por 80% das desflorestação a nível mundial e por 70% do consumo de água doce, segundo os dados do relatório -, e consumir menos e de forma mais consciente, com um travão a fundo ao desperdício alimentar. Esse fator têm um contributo importante também para as alterações climáticas. “São responsáveis por pelo menos 6% do total dos gases com efeito de estufa emitidos, três vezes mais do que as emissões globais da aviação”, explica o relatório.

 

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