As palavras, em política, importam. As eleições na Região Autónoma da Madeira parecem comprovar tal, uma vez mais. Com o candidato Miguel Albuquerque ao referir, em plena campanha, que se demitiria caso não tivesse uma maioria absoluta (afinal não foi bem assim), deixaria as suas palavras marcar o dia. Isto foi, sobretudo, perceptível na noite eleitoral quando os jornalistas o questionaram várias vezes sobre tal.

A literatura científica deixa-nos alguma informação sobre esta temática. Em boa verdade quando se estudam partidos políticos e a sua comunicação chegamos à conclusão de que as suas mensagens por vezes são opacas: isto é estratégico. Esta ambiguidade é, pois, um factor importante no seu dia a dia, para desespero dos cidadãos e às vezes contribuindo para a sua confusão.

Esta opacidade dos partidos políticos, em momentos chave, acontece muito frequentemente nas campanhas eleitorais, algo contrastante com o que aconteceu agora na Madeira, se bem que não estamos a falar em medidas concretas. Mas porque é que esta falta de especificidade seria interessante? Essencialmente em tópicos que são mais controversos, sobre os quais o partido não tem uma posição muito unida, ou mesmo, para apelar a algum eleitorado que não está alinhado com a posição da linha do partido.

Fui indagar porque é que estrategicamente o candidato Miguel Albuquerque estaria a fazer tamanha ameaça (a de sair) caso não tivesse maioria absoluta: parecia-me uma fraqueza estratégica. Se por um lado a ameaça em si já demonstraria uma posição fraca (se estivesse confiante não o teria que fazer), por outro lado, caso corresse mal, teria que manter a sua palavra e agir de acordo com a mesma. Parece que não aconteceu exatamente assim. Dizem-me que é um “estilo”, uma “narrativa comumente utilizada” e isto já pelo seu antecessor.

Mas, hoje, a Madeira, apesar de tudo, é outra coisa que não foi e o Miguel Albuquerque está longe de ser o Alberto João Jardim.