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Em Portugal, 31% do território está de fora do plano de combate às alterações climáticas

Segundo a ANP/WWF, a importância das pastagens tem sido muito debatida, “mas pouco relevada nos principais planos nacionais”. A nível mundial, apenas 10 dos planos ambientais de combate às alterações climáticas incluem estratégias a adotar nestes espaços.
26 Maio 2021, 13h45

Mais de 50% da superfície terrestre são pastagens, que abrigam alguns dos habitats mais preciosos da Terra e sustentam centenas de milhões de pessoas. No entanto, apenas 10% dos planos climáticos nacionais (como parte do Acordo de Paris) incluem referências a estas áreas, contrapondo com 70% que referem as florestas.

De acordo com um atlas divulgado, esta quarta-feira, pela Associação Natureza Portugal (ANP) em colaboração com a WWF, em Portugal, as pastagens e os matos ocupam 2.818 milhões de hectares, correspondendo a 31% do uso do solo, de acordo com o Inventário Florestal Nacional, de 2015. Dados mais recentes do INE indicam que 52% das terras agrícolas em 2019 correspondiam a pastagens permanentes, verificando-se um aumento de 14,9% de pastagens permanentes na última década.

Segundo a ANP/WWF, “a importância destas tem sido muito debatida, mas pouco relevada nos principais planos nacionais”, fazendo referência ao PNEC, que salienta a importância de “conversão de pastagens pobres em pastagens biodiversas” e no RNC2050 onde “não há referência a pastagens, ignorando a sua importância no combate às alterações climáticas, para a natureza e as pessoas”. Quanto ao Plano Estratégico da PAC, atualmente em elaboração, as duas ONGs apelam que sejam acauteladas “vinculativamente a proteção destes ecossistemas”.

A importância das pastagens prende-se com o facto de desempenharem um papel fundamental no sequestro de carbono, oferecendo habitat a uma diversa vida selvagem e natureza, e suportando os maiores rios e zonas húmidas do mundo. No entanto, estão ameaçadas pelos efeitos drásticos das alterações climáticas.

De acordo com o atlas, até à data, 12% das pastagens estão designadas como áreas protegidas. Grande parte das restantes está ameaçada por uma conversão crescente, particularmente para áreas cultiváveis. O atlas revela que, nos últimos três séculos, mais de 60% das terras selvagens e bosques foram convertidas e uma área aproximadamente do tamanho da Austrália (7,45 milhões de km2) é atualmente usada para cultivo agrícola. Esta mudança no uso da terra contribui para a crise climática, mas o atlas mostra que as pastagens também sofrerão com o aquecimento global. Prevê-se que os efeitos drásticos ocorram numa área com o dobro da Europa, destabilizando perigosamente a natureza e reduzindo a capacidade de produzir alimentos, combustível e fibras.

“As pastagens e matos são chave na transição climática pela sua capacidade de armazenamento de carbono e na proteção da floresta contra incêndios pelas descontinuidades que criam, pelo que devem ter um lugar chave nas políticas de transformação da paisagem e no desenvolvimento socioeconómico dos espaços rurais, através do apoio ao pastoreio extensivo e da valorização económica dos serviços que estes prestam.” refere Tiago Luís, Técnico de Alimentação da ANP|WWF.

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