O Presidente-Executivo da maior seguradora a operar em Portugal, a Fidelidade, deu uma entrevista ao Expresso, publicada a 29 de Abril de 2022 que deve ser lida com a maior atenção.

Devo dizer que não conheço o Dr. Rogério Campos Henriques. Talvez até por isso e pela importância nacional do cargo que ocupa, a atenção seja redobrada.

Por outro lado, devo dizer que não coloco em dúvida, pelas mesmas razões, a demonstrabilidade e o fundamento de tudo o que é dito.

Em síntese, reproduzimos o conteúdo essencial da entrevista. Diz o Dr. Rogério Campos Henriques:

  • “O que pagamos pela saúde tem de aumentar
  • A sustentabilidade futura não está assegurada nem na saúde nem nas reformas
  • Os custos, aquilo que todos nós pagamos pela saúde em Portugal, vão ter forçosamente que aumentar
  • Todos nós percebemos que caminhamos para um valor de substituição do salário que qualquer dia não é uma reforma, é um complemento. Havia uma margem de manobra para incentivar empresas e trabalhadores a poupar para a reforma, porque vai ser necessário”.

Estas afirmações, cujo rigor e acerto não me sinto habilitado a discutir, devem, no entanto, merecer comentários.

A corresponderem à verdade impõem respostas de políticas públicas que tranquilizem os cidadãos.

Se o cidadão vai precisar de pagar mais e durante mais tempo pela saúde e se, ao mesmo tempo, vai auferir reformas que são “um complemento”, onde é que vai buscar os recursos de que necessita para viver?

Se a sustentabilidade futura não está assegurada isso quer dizer que o padrão actual não se conseguirá manter, ou conservar.

Se voltamos ao paradigma dos nossos avós e bisavós “poupar para a reforma ou para a velhice”, de duas uma, ou os salários sobem para permitirem a poupança individual ou os encargos suportados pelos trabalhadores e pelas empresas para suportar os sistemas de saúde e de segurança social terão de descer.

Bom, há ainda um outro caminho. Mas esse certamente ninguém o quererá – a progressiva degradação dos serviços prestados e o empobrecimento a caminhar a par do envelhecimento.

É certo que há, ainda, uma outra alternativa. A saber, tudo o que disse o Sr. Presidente-Executivo da Fidelidade está errado. Só que, a ser assim, alguém com responsabilidade tem que vir rápida e convincentemente explicar isso mesmo aos portugueses. Em nome da dignidade da pessoa humana.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.