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“Embalagens inteligentes vão chegar a Portugal em 2019”

Alejandro Cabal, diretor geral da Tetra Pak Ibéria, considera que o mercado nacional é ideal para testar novos produtos, dada a apetência pela inovação. O grupo vai entrar nas embalagens para sólidos.
2 Dezembro 2018, 20h00

A Tetra Pak opera em Portugal, através da divisão Ibéria, uma das cinco mais importantes do grupo a nível mundial e a segunda a nível europeu. Não disponibilizando dados específicos para Portugal, sabe-se que os dois países ibéricos contribuíram no ano passado com uma faturação de cerca de 550 milhões de euros, esperando-se este ano um aumento de 2%, baseado numa carteira de cerca de 100 clientes industriais. No nosso país, onde emprega cerca de 60 empresas a tempo inteiro, mais 20 a 30 ocasionais, a Tetra Pak está presente, na prática, na generalidade das casas portuguesas, seja em embalagens de leite, de sumos ou de outros produtos mais sazonais. Em entrevista exclusiva ao Jornal Económico, Alejandro Cabal, diretor geral da Tetra Pak Iberia, fala dos desafios das novas tecnologias e da digitalização e garante a introdução das embalagens inteligentes já para 2019, beneficiando do facto de Portugal ser um mercado muito recetivo à inovação. E anuncia que o crescimento do grupo passa pelas embalagens para alimentos sólidos, em que o mercado nacional foi pioneiro a nível mundial.

Qual é a relevância de Portugal, um mercado de pequenas dimensões, para uma multinacional como a Tetra Pak?

Portugal, para nós, é um mercado que tem sido muito importante, tradicionalmente, para a Tetra Pak, sobretudo devido à inovação. Os clientes que nós temos em Portugal são muito proativos na procura de tendências mundiais e que se possam adaptar a Portugal. Isto não só com os nossos clientes, mas também com as multinacionais que estão aqui. Portugal é um mercado muito dinâmico e pode constatar isso pelos lançamentos criados pelos retalhistas e que não andam longe dos lançamentos que acontecem no resto do mundo, como nos Estados Unidos, que é onde começam estas grandes tendências. Portanto, a nossa atividade em Portugal é sempre muito dinâmica. E o que eu considero que é muito mais importante é que os consumidores portugueses são muito receptivos à inovação. Em Portugal, temos a ambição de continuar a crescer e investir no mercado porque a inovação é um pilar fundamental para qualquer empresa de packaging e para qualquer cliente que faça produtos de grande consumo.

Quais as grandes tendênciasdo mercado?

Penso que o mais importante é que existem as megatendências e, depois, as tendências que são muito mais particulares de cada mercado. Relativamente às megatendências, penso que há uma que está muito na moda, que tem a ver com a  digitalização. Mas isto tem duas vertentes: a vertente de falar com o consumidor, e aqui eu penso que é muito importante entender de onde é que vem esta tendência, uma vez que os consumidores têm cada vez mais poder e o exemplo perfeito disto é a economia colaborativa. Quando falamos de Uber, Cabify, Airbnb, são exemplos de que a economia colaborativa dá poder aos consumidores, porque cada vez têm mais poder.

E qual é a segunda vertente da digitalização?

Como é que se transformam as indústrias através da digitalização? E aqui temos muitas tendências, a robótica, inteligência artificial, etc. E como esta indústria 4.0 tem impacto nas nossas operações. E o que é muito interessante analisar é como é que poderá funcionar a rastreabilidade e o que está para vir com a blockchain.

O que é que a Tetra Pak encontra no mercado nacional de diferente?

A primeira coisa que temos que entender é que as megatendências expandem-se de uma forma muito rápida. As ondas de inovação chegam muito mais rápido. A adaptação de cada mercado ou de cada país tem de ser muito mais rápida, porque senão ficamos para trás e perdemos competitividade. As empresas que não se adaptarem às tendências como a digitalização vão ficar para trás versus as outras companhias que adoptam a tecnologia de uma forma muito mais rápida.

Qual é a segunda consequência?

É que temos que trabalhar tecnologias para dar respostas muito mais rápidas. O que mais custa hoje aos nossos clientes é ter as máquinas paradas. Como funcionava tradicionalmente o sistema, quando havia uma paragem do equipamento por uma avaria, chamávamos um técnico. Nós temos em Portugal técnicos óptimos. Se o técnico estiver em Lisboa, fantástico. Mas, se o especialista, o perito não está em Lisboa, porque está a trabalhar noutra fábrica, o que é que fazemos? Temos a fábrica parada devido ao equipamento. Estamos a trabalhar com tecnologias da Microsoft, com o sistema ’Hololens’, em que os nossos técnicos e os técnicos do cliente ligam-se e daí a pouco estão a ver os problemas que existem com os olhos do técnico da fábrica e assim podem resolver as avarias em tempo real. Isto é uma mudança dramática, enorme, da forma como trabalha a Tetra Pak e como trabalham os nossos clientes. No fim, o custo total reduz-se, porque vamos ter menos avarias, haverá também menos viagens dos nossos técnicos para as fábricas dos nossos clientes, portanto, é um benefício para a cadeia de valor. Este é um exemplo muito prático do uso da tecnologia, que tem um impacto de forma direta da forma como trabalhamos.

Tem mais exemplos?

O segundo exemplo que eu gostaria de dar, tem a ver com as ‘embalagens inteligentes’. Hoje em dia, os consumidores esperam ter em tempo real, e querem saber de onde vem esse produto, quem fabricou, em que fábrica, com que matérias-primas, quais os ingredientes. E com um clique apenas podem saber tudo isso.

Essa tecnologia ‘Hololens’ já está ou será em breve  disponibilizada em Portugal?

Estamos preparados para começar no próximo ano usando esta tecnologia como piloto. Portanto, ocorrerá em 2019 aqui em Portugal.

No universo da Tetra Pak, o mercado nacional está na linha da frente da introdução destas tecnologias?

Penso que existe muito interesse nesta tecnologia. Portugal vai estar na linha da frente da Europa [neste domínio]. Há algo que é importante referir, que é o facto de a tecnologia ser apenas um facilitador.

Já existem pedidos concretos de clientes portugueses ou a operar em Portugal?

Há clientes que aderem muito mais rapidamente e há outros que são mais tradicionais e que preferem a forma de trabalho anterior. Vamos disponibilizar estes serviços a todos os clientes em Portugal. Uns clientes vão aderir mais rapidamente, outros pelas razões que for, não o farão e demorarão mais tempo. Se me perguntar, julgo que todos vão ter de fazê-lo e quando experimentarem e constatarem os benefícios, penso que, rapidamente, vão aderir.

Para as embalagens inteligentes, também está prevista a entrada no mercado nacional em 2019?

Sim as embalagens inteligentes entrarão em Portugal em 2019. Também aqui, há clientes que têm uma história e uma visão muito clara sobre o que é que querem. Se esse objetivo estratégico é claro, a tecnologia é um facilitador para atingir esse objetivo. Pode ser só a rastreabilidade. Pode ser também um engagement com o consumidor. Há empresas em Portugal que já se aperceberam rapidamente disso. Portanto, vamos ter uma combinação dos dois tipos de clientes.

Ainda não me explicou, qual é, no seu entender, a característica mais diferenciadora do mercado português?

Considero que Portugal é um país muito curioso. Historicamente, é um país de descobridores. E dou exemplos. Há muitas tendências, que hoje estamos a importar da Ásia e, para dizer verdade, Portugal importou muito mais cedo, como é o exemplo do chá, que só se consumia em Portugal e no Reino Unido e que agora está a crescer de forma dramática em toda a Europa. Portugal é um dos maiores mercados para o consumo de ice tea, que é uma tendência asiática e que tem ainda pouca expressão noutros mercados europeus. Outra tendência que vem da Ásia e da América é os produtos alternativos ao leite, e que está a crescer muito na Europa. Portugal também está dentro dessa tendência,  inclusivamente com leite misturado com sementes. Curiosamente, os asiáticos estão a começar a consumir mais leite. São fluxos que vêm de um lado para o outro. Portugal adopta sempre atempadamente o uso das tendências. Isto não significa que seja um mercado massivo, não é isso. Em Portugal existem muitos consumidores que adoptam essas novas tendências de uma forma muito rápida.

Podemos considerar que Portugal funciona muito como um mercado-piloto para grandes grupos mundiais?

Penso que sim. A Tetra Pak é um exemplo. Algumas tecnologias em inovação de packaging, fazemo-las em Portugal. Outras empresas utilizam Portugal como um campo de experiência. Porque é um país aberto ao mundo, tiveram comércio, e tiveram muita influência. Vocês sempre tiveram um fluxo positivo, na minha opinião. Toda a troca cultural e comercial é sempre positiva porque engrandece a cultura e as economias. Isto é um ativo e faz com que seja um mercado ideal para explicar certas coisas.

Está na vossa estratégia entrar no segmento das embalagens para alimentos sólidos?

Penso que todo o negócio tem de procurar sempre novas fontes de crescimento. Nós somos especialistas em embalagens para produtos líquidos, mas grande parte do nosso crescimento vai basear-se nas embalagens para produtos sólidos. Já temos embalagens para esse tipo de produtos. O primeiro produto desse segmento, pioneiro a nível mundial, foi encomendado pelo cliente português Sugal, para a marca Guloso, com uma embalagem para tomate grande, inteiro, pelado. Eles foram os primeiros a nível mundial a fazer isso com a Tetra Pak e já estão a exportar para cerca de 10 países.

Entrevista publicada na edição de 16 de novembro do Jornal Económico

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