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Embaló diz não ter medo do povo e nem o povo deve ter medo dele

Embaló disse acreditar que o povo está com ele, assegurou que interage com as pessoas, que faz questão de estar junto delas, e justificou a segurança que o rodeia com a cultura de golpes de Estado e de violência política na Guiné-Bissau.
Presidente da Guiné-Bissau durante a sessão plenária da Cimeira Rússia-África, em São Petersbugo, em julho de 2023 | Fotografia: Donat Sorokin, TASS
22 Março 2025, 14h14

O Presidente da República da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, disse, em entrevista à Lusa, que não tem medo do povo, nem o povo tem de ter medo dele, apesar do aparato militar que o acompanha.

Embaló disse acreditar que o povo está com ele, assegurou que interage com as pessoas, que faz questão de estar junto delas, e justificou a segurança que o rodeia com a cultura de golpes de Estado e de violência política na Guiné-Bissau.

“Houve duas vezes golpe de Estado no meu mandato. Aqui na Guiné, não fazem golpe, matam. Infelizmente, nós herdámos uma cultura de violência, o que é uma vergonha. Esquartejaram aqui o Presidente ‘Nino’ [Vieira], mataram o Amílcar Cabral”, concretizou.

Nos cinco anos de mandato, a primeira das duas alegadas tentativas de golpe de Estado ocorreu em fevereiro de 2020 e a segunda na madrugada de 01 de dezembro de 2023.

Numa entrevista à Lusa de balanço do mandato, Embaló garantiu que, antes disso, andava de bicicleta, a pé, nas ruas, com três pessoas, mas que agora tem de andar rodeado de uma força de dezenas de militares armados.

“Eu tenho direito à vida, tenho que andar assim. Tentaram matar-me, mas o dia que eu vou sair daqui é porque Deus quis”, afirmou.

O Presidente reconheceu as dificuldades da população guineense e afirmou-se preocupado, mas salientou que não pode fazer milagres.

“Eu herdei um país que estava por terra há 45 anos”, declarou o chefe de Estado, assegurando que quer ter um país onde se possa “de facto ter tudo”.

Apesar de garantir que a Guiné-Bissau está em mudança, Embaló reconheceu que ainda não tem soluções para todos os problemas.

Os únicos recursos, segundo o Presidente, são a agricultura e as pescas, insuficientes para gerir um país onde o custo de vida é superior às posses conferidas pelos salários, com os funcionários públicos a receberem uma média de 90 euros por mês e um médico cerca de 250 euros.

“A única coisa que nós podemos ter é o rigor e esse rigor passa pelo combate à corrupção de grandes e pequenos bandidos, os ‘coronavírus’ políticos”, declarou.

Para colmatar as necessidades financeiras do país, Embaló disse apostar no programa do Fundo Monetário Internacional (FMI), que tem feito sucessivas avaliações positivas e desbloqueado verbas à Guiné-Bissau.

Embaló tem declarado como bandeira o combate à corrupção, para o qual afirma ter um papel de “disciplinador”, enquanto a oposição se dirige ao chefe de Estado como “ditador”.

“[Em Portugal] só houve um erro de nome, isso levou à demissão do meu amigo Costa [ex-primeiro-ministro português], mas aqui [na Guiné-Bissau] os políticos, a maior parte deles, são bandidos, gatunos, [e] quando é notificado pelo Ministério Público, é perseguição política. Se isso é uma ditadura, eu assumo ser ditador”, afirmou.

Umaro Sissoco Embaló lamentou que a Guiné-Bissau tenha “políticos deste nível” e que haja filhos da terra que falam mal do país.

Sobre os ataques que lhe fazem, disse que “não aquecem, nem arrefecem”, nomeadamente sobre prisões, agressões e perseguições.

Insistiu que não proibiu as manifestações no país e reiterou que desordem e caos na rua não é democracia.

“Quando jogam o Benfica e o Sporting, os adeptos podem sair, mas só porque alguém não pertence ao Governo ou saiu do Governo, isso não”, declarou.

Umaro Sissoco Embaló afirmou-se “suprapartidário” no “país com mais partidos do mundo” (acima de 50 forças políticas legalizadas) e partilhou que, quando o Presidente convoca os partidos políticos, há alguns que nem sede têm e pedem para entregar o convite “no passeio junto ao Império [café]”.

À pergunta sobre se poderá seguir o exemplo de alguns países vizinhos, que estão a ilegalizar partidos políticos, respondeu que, sobre isso, “o tribunal é que tem que fazer o papel dele”.

“Eu não posso fazer, depois vão-me começar a chamar ditador”, assinalou.

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