Nos últimos tempos, criou-se em torno do empreendedorismo moderno um glamour sem precedentes na história dos negócios. Presentemente já não se classificam as empresas de pequenas, médias ou grandes, mas de gazelas, unicórnios, entre outros animais reais ou mitológicos; para não falar do uso recorrente de uma terminologia disruptiva, pondo de parte a linguagem técnica tradicionalmente usada, como se anteriormente não existissem empreendedores, nem soubessem fazer negócios.

Ilustrando, Elizabeth Holmes chegou a liderar a lista da FORBES[1] das mulheres “self-made” mais ricas da América (2015) fundou a Theranos, um Silicon Valley unicórnio, que alegadamente revolucionava o mercado dos testes de diagnóstico. Através de uma análise ao sangue inovadora, propunha uma técnica que permitia realizar uma centena de testes laboratoriais, a partir de umas simples gotas de sangue. Avaliada em 9 biliões de US Dólares no ano de 2014, através da transação de ações entre investidores privados, passou, no ano seguinte, a valer zero. Não só os testes patenteados vieram a verificar-se imprecisos, como os rendimentos anuais da empresa foram claramente inferiores aos comunicados ao mercado. Em consequência, Elizabeth Holmes enfrenta atualmente a acusação pelas autoridades federais norte americanas de “fraude maciça” por, alegadamente, enganar investidores, autoridades governamentais e consumidores, o que pode conduzir a uma pena de prisão de 20 anos.

Como foi possível tudo isto acontecer?

A resposta pode residir no facto de os novos empreendedores viverem tão preocupados com o estilo moderno, julgando-se, por vezes, descobridores da autêntica novidade, que se esquecem que uma época não é apenas uma questão de tempo, mas essencialmente um sentido do novo, no eterno – criar valor. De certa maneira é como ser elegante: não se vê na maneira de vestir, mas no ser. Por outras palavras, Elizabeth Holmes não falhou por falta de estilo, mas de elegância ou, melhor, por, afinal, não ter descoberto nada de novo, que acrescente valor. Elizabeth Holmes preocupou-se demasiado com questões da época, que se esqueceu do valor da sua criação e que o empreendedorismo e os negócios obedecem no essencial a princípios clássicos, tais como: Apresentar um bom produto, comprar ou produzir mais barato do que se vende, entre outros.

Então, afinal, que tipo de pessoa é o empreendedor moderno?

Na verdade, eu não sei o que é, mas com certeza a história um dia nos dirá. No entanto, de acordo com Balzac eu sei o que o empreendedor moderno não é. Com efeito, Balzac no seu tratado da vida elegante divide as pessoas em três classes de indivíduos: os ociosos, os ocupados e os artistas. Neste caso, eu espero que o Balzac me perdoe de ousar substituir os artistas pelos empreendedores, dado na minha opinião serem praticamente sinónimos, para concluir que, independente de outras observações, o empreendedor moderno não é ocioso, nem ocupado; e, agora, concluímos, também, não ser estiloso.

[1] https://www.forbes.com/sites/matthewherper/2016/06/01/from-4-5-billion-to-nothing-forbes-revises-estimated-net-worth-of-theranos-founder-elizabeth-holmes/#51925ff53633