O surf está em plena ascensão em Portugal, não só com a procura interna crescente, mas principalmente pelo ritmo explosivo com que os amantes desta prática estão a optar pelo nosso país como destino preferencial para a prática desta modalidade. Não existem dados concretos recentes sobre a dimensão económica deste setor, mas um estudo de 2012 apontava para um valor na ordem dos 400 milhões de euros anuais, uma estimativa que já deverá estar completamente ultrapassada nos dias de hoje.
Sabe-se que já são cerca de 900 as empresas existentes em Portugal ligadas ao surf na sua vertente de animação turística, formação ou prestação de outros serviços, o que corresponde a cerca de 10% do total de empresas de animação turística quer operam no nosso país. Tendo em conta o crescimento galopante deste segmento turístico, a o aumento incessante de visibilidade do país como destino preferencial para a prática desta modalidade – as provas da WSL – World Surf League e o fenómeno do ‘canhão’ da Nazaré iniciado com Garrett McNamara – lançaram o embrião para a criação de um cluster do surf em Portugal, uma iniciativa que conta com o apoio do Turismo de Portugal.
Esse projeto será debatido na segunda edição do ‘Surf Out Portugal’, que terá lugar amanhã e domingo, na FIARTIL – Feira Internacional de Artesanato do Estoril, das 12h às 22h, com uma mostra de marcas do surf e as ‘Surf Talks by Turismo de Portugal’, para debater o presente e futuro do surf. O evento contará com a presença de grandes figuras nacionais e internacionais do surf e do mundo dos negócios, como os surfistas Garrett McNamara, Tiago Pires, Nicolau Von Rupp, entre outros.
“Desde 2012 que o TP tem vindo a apostar no surf como uma área estratégica de promoção do país, não só como um local privilegiado no mundo para fazer a prática deste desporto, mas também como uma forma de associar o nosso destino a valores de juventude, inovação, contacto com o ar livre, natureza e sustentabilidade ambiental. Desde aí temos tentado angariar a captação de grandes eventos mundiais de surf para o nosso país, para transformar Portugal num dos maiores destinos mundiais deste desporto”, sublinhou Luís Araújo, presidente do TP, em declarações ao Jornal Económico. Este responsável adiantou que, devido a esse trabalho, Portugal conseguiu passar de 3º para 1º país com maior visibilidade a nível global no que respeita a motores de busca em relação a surf. E as diversas provas mundiais da WSL que o país organiza, têm ajudado muito em termos de visibilidade e de procura de Portugal para os surfistas e seus acompanhantes.
“Temos desenvolvido uma componente muito forte de promoção, principalmente em mercados como os Estados Unidos, França, Austrália ou Brasil. Também temos feito promoção com campanhas nas nossas plataformas digitais. Queremos um país à imagem do surf. Até porque esta prática desenvolve-se de setembro a março, um período importante para atenuar a sazonalidade do turismo em Portugal”, adianta o presidente do TP.
Segundo Luís Araújo, “temos uma grande distribuição de locais privilegiados para a prática do surf do norte a sul do país, de Viana do Castelo a Sagres, o que também tem a vantagem de desconcentrar a procura, e também nas ilhas dos Açores e da Madeira”. “Mas esta é claramente uma aposta a nível nacional para o Continente. Esta afirmação da actividade turística em torno do surf tem sido extremamente positiva e gerado inúmeras oportunidades de concretizar negócios. Já longe vai a ideia de que o surf era para turistas sem poder de compra, de pé descalço, que andavam de chinelos”.
O presidente do TP destaca que “há aqui uma massa crítica, uma experiência de organização de provas de surf e um histórico de prestação de serviços, que deve ser potenciado”. Segundo Luís Araújo, “a prestação de serviços nesta área do surf é o que faz, por exemplo, a ‘Surf Out Portugal’, que nós apoiamos”, acrescentando que “existem outras maneiras, como as empresas de construção de pranchas ou a área de promoção de roupas e acessórios relacionados com esta modalidade desportiva”.
“A questão de constituir um cluster do surf, que já existe de uma forma não formal, prende-se com o facto de ser um setor do turismo que pode ser catalisador de outras empresas e de outros negócios, como por exemplo, o alojamento local e de empreendimentos turísticos, em que se nota um segmento já especificamente dirigido para esse setor”, defende o presidente do TP.
Luís Araújo reconhece que “não temos dados concretos sobre o volume de negócios gerados pelo surf em Portugal, mas sabemos que esta atividade está em crescendo, em termos de visualizações dos conteúdos das nossas plataformas digitais dedicadas ao surf, que deverão ter chegado este ano aos nove milhões de visualizações”. “Estamos a falar de um público muito desperto e mais atento do que os a maioria dos restantes. Segundo as últimas estimativas, existem cerca de 35 milhões de surfistas em todo o Mundo. Mas a nossa aposta não é só nos surfistas, mas também para quem vem com eles”, assinala este responsável.
Para Luís Araújo, “a valência do ‘Surf Out Portugal’ é mostrar a polivalência de todo este setor, de que maneira se podem atingir quick wins nesta área de atividade em Portugal, em setores tão diferentes como a indústria, tecnologia, vestuário, relógios, sapatos, pranchas”. “E isto envolve muito mais público do que apenas aqueles que se deslocam às praias e aos locais de prática do surf. E quando estamos a falar de surf, não falamos só de surf, falamos também de windsurf e de kitesurf, por exemplo. É um desporto que só precisa de vento. E que se pratica dos 5 aos 88 anos de idade. Por isso, há um tão grande reconhecimento público e de empresas privadas sobre o papel do surf, com a realização de eventos e a dinamização de empresas”, resume o presidente do TP.
No entender de Luís Araújo, “o próximo passo é ampliar o leque de empresas associadas ao surf, desde as tecnologias aos têxteis”, porque “o que estamos a ter em termos de visibilidade é uma grande oportunidade para marcas que já existem ou para outras se internacionalizarem”. O presidente do TP garante ainda que esta aposta no surf vai continuar no apoio a eventos WSL, a nível nacional e internacional, realçando que, por outro lado, a ‘Surf Out Portugal’ “ajuda a ter uma visão diferente, a abrir o ângulo de visão para algo que antes era apenas um desporto ou uma atividade turística.
Também em declarações ao Jornal Económico, Patrick Stilwell, um dos organizadores da ‘Surf Out Portugal’, sublinha que o surf “é um desporto que cresceu muito em todo o Mundo e ainda mais em Portugal, sendo um desporto que se massificou”. De acordo com este responsável, também praticante da modalidade, uma das questões a que esta conferência vai querer responder é como os empresários do setor se poderão “posicionar num segmento com cada vez maior poder de compra”.
Segundo um estudo de 2016 da Global Industry Analysis, até ao final de 2022, todas as atividades diretamente relacionadas com o surf deverão gerar um volume de receitas global de cerca de 9,5 mil milhões de dólares.
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